Sexta-feira, 11 de Fevereiro de 2016.
Fãs evangélicos da cantora gospel Vicky Beeching, de 35 anos,
podem levar ao susto ao ler os jornais nesta semana. Em entrevista ao periódico
inglês “The Independent”, Beeching declarou que é gay, e que mesmo assim, Deus
a ama do jeito que ela é.
A artista é um dos
maiores ícones dentro da Igreja Anglicana. Formada em Teologia em Oxford, na
Inglaterra, Beeching também se popularizou ao comentar aspectos religiosos do
dia a dia, conquistando hordas de fieis. Escrevendo canções gospel desde os 11
anos, a cantora já fechou contrato com duas gravadoras internacionais e vendeu
milhões de discos no chamado “Cinturão da Bíblia” dos Estados Unidos.
Na entrevista,
Beeching diz que foi criada por pais evangélicos conservadores. Na escola,
livros diziam que a homossexualidade era pecado, “coisa do demônio”. Mas isso
não foi o suficiente para que ela não começasse a se sentir atraída por outras
meninas, ainda aos 12 anos:
“Perceber que eu
estava atraída por elas foi uma sensação horrível. Eu estava tão envergonhada!
Era uma luta, porque eu não podia contar a ninguém”, confessou.
Ao se dar conta de
sua homossexualidade, Beeching entrou em depressão, acreditando que estava
pecando e que não poderia ser “curada”. Aos 13, ela chegou a pedir a Deus que
ou tirasse a vida dela, ou a atração por outras meninas. Com 16, durante uma
colônia de férias cristã no interior da Inglaterra, a cantora chegou a se
submeter a uma sessão de exorcismo, em vão.
“Lembro de muitas
pessoas colocando as mãos nos meus ombros, orando muito alto e, em seguida,
gritando coisas tipo: ‘Nós ordenamos que Satanás saia! Saia fora, corja de
demônios! Nós falamos a vocês, demônios da homossexualidade: deixem a menina em
paz!’”.
Isso foi a gota
d`água para Beeching, que se sentiu humilhada com a situação. Na entrevista, a
cantora contou que o episódio serviu para que ela se tornasse mais
introspectiva, buscando outras soluções por conta própria. Dedicou-se aos
estudos, formando-se em Teologia em Oxford e seguindo logo depois para
Nashville, no Tennessee, atraída pela carreira de compositora. Por lá, imersa
no centro do conservadorismo evangélico americano, gravou discos e percorreu
grandes igrejas do país para mostrar suas canções.
Mas amores
frustrados por amigas e outras mulheres a perseguiam como uma sombra. Nesse
meio tempo, Beeching teria tentado até começar relacionamentos com homens,
todos sem sucesso.
Em 2008, aos 29
anos, ela decidiu se mudar para a Califórnia, esperando que San Diego
fornecesse um ambiente mais liberal. Mas este foi o ano em que a Proposição 8,
lei estadual que proíbe o casamento homossexual, estava para ser votada. Em
paralelo, Beeching cumpria sua série de shows agendados em igrejas do estado.
No início de 2014, a
artista descobriu ter uma doença rara de pele, que deixava a epiderme com
marcas de cicatriz, podendo levar até a morte. Durante uma sessão de
quimioterapia, a cantora pensou consigo mesmo que deveria resolver sua situação
pessoal. Ela já tinha 35 anos:
“Olhei para o meu
braço com a agulha da quimioterapia, olhei para a minha vida, e pensei: ‘tenho
que entrar em acordo com quem eu sou’”, afirmou Beeching na entrevista. “Trinta
e cinco é metade de uma vida, e eu não posso perder a outra metade. Perdi tanta
vida como uma sombra de uma pessoa”.
Até então, Beeching
nunca tinha mantido um relacionamento homossexual. O tratamento da doença a fez
refletir e aceitar gradualmente sua homossexualidade. Na Páscoa, ela revelou
aos seus pais a situação, que acabaram se desculpando por fazerem ela passar
pelos constrangimentos. Beeching e eles concordaram em discordar sobre a
teologia.
Ao final da
entrevista, a cantora afirmou que espera agora que a Igreja Anglicana siga o
exemplo acolha fieis homossexuais.
O Globo