Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2016.
Mais de vinte pacientes de um
mutirão de catarata realizado no Hospital de Clínicas do Alvarenga, em São
Bernarndo do Campo, foram contaminados por uma bactéria. São pacientes idosos,
que agora dependem de medicamentos caros e de acompanhamento especial.
O
aposentado Expedito Batista é uma das vítimas. Ele decidiu fazer a cirurgia
buscando maior qualidade de vida e continuar realizando uma de suas paixões,
viajar de carro, como condutor. “Eu tinha 70% da minha visão. Entrei bem pra
operar, pra melhorar. E perdi totalmente a visão do lado direito”, conta.
E a perda
é definitiva, disseram os médicos que já operaram o aposentado mais duas vezes
para combater a infecção por uma bactéria. A mesma que atingiu muitos outros
pacientes que participaram do mutirão, no fim de janeiro. Segundo informações
recolhidas pelas famílias, pelo menos quinze perderam a visão e dez, o próprio
globo ocular. Os parentes se organizam para processar o hospital.
Letícia
Meikoga, filha de uma das vítimas, afirma que o grupo pretende entrar com uma
ação pedindo indenização por danos morais, materiais e suporta para as
famílias, além de medicamentos.
Marialda
Alves Sampaio, também filha de vítima, representa uma das famílias que
precisarão de ajuda a partir de agora. Ela conta que o pai dela, de 80 anos,
era quem cuidava da mulher, também idosa. Mas agora, sem um dos olhos, a
família terá de encontrar outra solução. “Nós trabalhamos, não podemos ficar lá
o tempo todo. Eles vão precisar de um acompanhante. E quem vai ter que bancar
esse acompanhante?”, questiona.
A
Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo confirma que de 27 pacientes
operados no dia 30 de janeiro, 21 foram contaminados. A origem da contaminação
ainda está sendo investigada. E o contrato com a clínica particular, que atende
no hospital de forma terceirizada, foi temporariamente suspenso.
A
secretária da Saúde, Odete Gialdi, afirma que o contrato com a clínica foi
firmado em 2014. “No ano de 2015, essas mesma clínica realizou 945 cirurgias de
catarata e não houve nenhuma intercorrência. Há um processo de investigação em
curso. Nós não sabemos como essa bactéria entrou no centro-cirúrgico e como se
deu a contaminação”, diz.
Segundo o
oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Melo, da Universidade Federal Paulista,
todos os equipamentos e medicamentos usados nas cirurgias, como colírios e
anestesias, devem ser examinados. Ele questiona a própria realização de
cirurgias em larga escala, nos chamados mutirões. “Tem que se questionar a real
necessidade de um mutirão de catarata numa cidade, num município desenvolvido
encostado em São Paulo”, afirma.
Secretaria
A Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo informou que está prestando todo
o apoio às vítimas e seus parentes, o que inclui tratamento psicológico. A
secretaria não quis informar o nome do médico e dos assistentes que
participaram das cirurgias e disse que todas as informações estão sendo passadas
para o Ministério Público e outras autoridades competentes.
G1