Terça-feira, 22 de agosto de 2016
As Organizações Globo, proprietárias de um grupo de emissoras de rádio, canais de TV, jornais e revistas, em todo o país, pressionavam as autoridades com uma exposição massiva e diária do caso
Mansão em
Paraty, foi construída em terreno público federal, segundo laudo da Marinha
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava reunido com a
direção nacional da Centra Única dos Trabalhadores (CUT), na noite desta
quinta-feira, com dirigentes sindicais de todo o país, quando soube que a
Polícia Federal (PF), em relatório final sobre as investigações sobre um
apartamento triplex, no Guarujá, cuja propriedade fora atribuída ao líder
petista. Uma decisão do juiz Sergio Moro, titular da Vara Federal do
Paraná, chegou quase a determinar o sequestro de Lula, impedido por ordem do
Comando da Aeronáutica de ser levado em um avião da PF para Curitiba, no início
deste ano.
As Organizações
Globo, proprietária de um grupo de emissoras de rádio, canais de TV, jornais e
revistas, em todo o país, pressionavam as autoridades com uma exposição massiva
e diária do caso. A notícia de que Lula não tem qualquer ligação com o imóvel
investigado, no entanto, foi levada ao rodapé das publicações e nenhuma nota
nos noticiários televisivos. O apartamento, na realidade, pertence à
publicitária Nelci Warken.
Warken foi
indiciada após admitir ser dona do triplex, alvo de investigação da fase Triplo
X, da Operação Lava Jato. O relatório concluído foi entregue pela PF à Justiça
na última sexta-feira, mas divulgado pelo juiz Moro somente na noite desta
quinta-feira. Além de Warken, foram indiciados cinco funcionários da empresa
Mossack Fonseca no Brasil: Maria Mercedes Riaño, Luis Fernando hernandez,
Rodrigo Andrés Cuesta Hernandez, Ricardo Honório neto e Renata Pereira Britto,
além do empresário Ademir Auada, intermediário de negócios para a empresa. Lula
e seus parentes também não receberam, até agora, um pedido de desculpas,
formal, por parte da Justiça e das Organizações Globo.
Mansão da Globo
No relatório de
cinco páginas, a PF descreve a Mossack Fonseca como uma “organização criminosa
de caráter transnacional, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão
de tarefas, voltada para a prática do crime de lavagem de dinheiro”. A Mossack Fonseca
tornou-se conhecida no Brasil após a divulgação da série jornalística Panama
Papers, em abril deste ano, por um grupo de jornalistas independentes. A série
baseou-se em um acervo de 11,5 milhões de documentos internos da Mossack,
obtido pelo jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” e compartilhado com o Consórcio
Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).
“As diligências efetuadas
revelaram que a atividade principal da Mossack guardava relação com a abertura
de empresas offshore, de forma a ocultar seus verdadeiros sócios e
responsáveis. Nesse sentido, todos os que trabalhavam na empresa tinham plena
ciência de que atuavam em um mercado voltado à demanda do trânsito de valores e
bens de origem suspeita e duvidosa. Por tal motivo, foram indiciados como
incursos no art. 1, par. 2º, inciso II da Lei 9.613/98”, diz outro trecho do
relatório. A lei mencionada é a que trata de lavagem de dinheiro.
A investigação jornalística dos Panama Papers é citada em vários
momentos nos relatórios produzidos pela Polícia Federal. Em alguns trechos, os
peritos da Polícia utilizaram-se de reportagens para analisar documentos
apreendidos na sede da Mossack Fonseca e na casa das pessoas que foram alvo da
fase Triplo X. Entre os citados estão jogadores de futebol e políticos de
vários países como Maurício Macri, da Argentina, e Michel Platini, o francês
que pretendeu ser presidente da Fifa.
Um dos negócios
da Mossack Fonseca, no Brasil, é uma propriedade de alto luxo em Parati, no Sul
do Estado do Rio de Janeiro. A mansão, construída ilegalmente em área de
preservação ambiental, naquele município, foi noticiada no canal de TV
norte-americano Bloomberg, em 2012, como sendo da família Marinho,
dona das Organizações Globo. Os filhos do fundador do conglomerado empresarial,
Roberto Marinho, já falecido, negam a propriedade do imóvel, mas a PF ainda
investiga o caso.
Lula e Dilma fora da Operação Lava
Jato
Ainda no ano
passado, oo procurador-chefe da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirmou que não havia
qualquer evidências de envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e da presidente Dilma Rousseff no esquema de corrupção na Petrobras.
— Nós não
investigamos pessoas, nós investigamos fatos. Quando existe uma evidência de
que uma pessoa esteja vinculada à um fato criminoso, essa pessoa passa a ser
investigada. O ex-presidente Lula não é nosso investigado — disse o procurador,
em uma entrevista à Rede TV!.
Segundo
Dallagnol, a presidenta Dilma dirigiu do Conselho de Administração da Petrobras
durante sete anos, de 2003 a 2010, mas não tem qualquer participação nos
ilícitos ocorridos na companhia, segundo o procurador.
— Nós do
Ministério Público Federal atuamos, especificamente, na investigação de atos de
improbidade administrativa e atos criminais. Para imputarmos esses tipos de
atos, teríamos que provar que essa pessoa atuou com um mínimo de consciência
para que esses atos fossem praticados. Em relação à ela, nós não temos nenhuma
evidência — concluiu.
Correio do Brasil