Sábado, 17 de setembro de 2016
Quase 50 mil crianças que vivem no nordeste da Nigéria, a região onde o grupo jihadista Boko Haram operou nos últimos anos,
correm risco de morrer no próximos 12 meses devido à desnutrição avançada,
alertou nesta sexta-feira (16) o responsável de nutrição do Unicef neste país,
Arjan de Wagt.
Após a recuperação do
acesso a zonas que tinham sido tomadas pelo grupo terrorista, a partir de
abril, descobriu-se que o nordeste da Nigéria sofre uma crise humanitária mais
grave do que se imaginava.
Uma ofensiva do
Exército obrigou nos últimos meses as forças do Boko Haram a se retirarem mais
ao norte, onde estima-se que haja 2 milhões de pessoas que seguem fora do
alcance das organizações de ajuda.
"Ao norte de
Borno ainda há muitos distritos que são completamente inacessíveis para
nós", indicou o representante do organização de proteção infantil.
Segundo De Wagt, as
novas avaliações revelaram que pelo menos 244 mil crianças estão em condição de
desnutrição grave unicamente no estado de Borno, e "uma quinta parte delas
foi achada literalmente à beira da morte".
Para superar esse
estado, os menores necessitam ser nutridos em primeira instância com alimentos
terapêuticos.
Nos três estados do
norte da Nigéria, a ONU calcula que 4,4 milhões de pessoas necessitam de
assistência humanitária urgente e que cerca de 55 mil pessoas adicionais estão
em "condições similares à crise de fome", disse o representante do
Unicef.
"O nível de
sofrimento e desnutrição nesses lugares é extremamente alto, com 12% de
desnutrição severa, que é algo que normalmente não se vê e ressalta a gravidade
do que está ocorrendo no local", declarou De Wagt por telefone desde
Abuja.
O representante
sustentou que, em seus 20 anos de experiência em contextos similares, a última
crise comparável foi a ocorrida na Somália em 2011.
Confisco de alimentos e terras
agrícolas
Uma das razões para que a população do norte da Nigéria tenha chegado a
este extremo é que os milicianos de Boko Haram se apoderaram nos últimos cinco
anos dos terrenos agrícolas e os habitantes não puderam cultivar suas próprias
terras com fins de autoconsumo.
Uma das razões para que a população do norte da Nigéria tenha chegado a
este extremo é que o Boko Haram se apoderou das terras agrícolas e confiscou
alimentos da população
De Wagt sustentou que
outra prática comum dos membros da organização terrorista foi a de confiscar os
alimentos da população, que com a passagem dos anos foi esgotando suas
reservas, incluídos os animais que criavam.
"Não há cultivos
e todos dependem da ajuda humanitária, pelo menos até o final da próxima
colheita, que será em outubro do próximo ano", disse o especialista em
nutrição.
Sobre o número de crianças que podem ter morrido até agora pela
desnutrição, o Unicef considera
que é impossível fazer um cálculo sério porque muitos morreram em suas casas e
não há registros.
Considera-se que uma
avaliação realista só pode ser feita com visitas casa por casa, para as quais
foram contratados 1,5 mil colaboradores que ao mesmo tempo informarão às
famílias da existência dos programas nutricionais do Unicef.
O grande problema
para cumprir com as metas é o pouco financiamento dos programas do organização
na Nigéria, lamentou De Wagt.
G1