Quinta-feira, 08 de setembro de 2016
Ex-presidente reiterou que a distribuição de renda é fundamental
para o crescimento do país
Lula
Em discurso
na noite dessa terça-feira (6) no Estádio Mineirinho, em Belo Horizonte, o
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva criticou cortes no Bolsa Família e
desafiou os opositores do programa a viver um “dia de pobre”. A fala ocorreu
durante o 3° Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, organização
que é crítica ao impeachment que afastou Dilma Rousseff da presidência da
República e classificam o processo de golpe. Seus integrantes defendem a saída
de Michel Temer. Eles querem ainda a convocação de eleições diretas e de uma
assembléia constituinte.
Segundo
Lula, o governo de Michel Temer desligou do Bolsa Família mais de 900 mil
beneficiados. “Eles acham que é esmola. Disseram que eu estava criando
vagabundos no país. (...) Eles deviam viver um dia de pobre, para ver como o
nosso povo é extraordinário. Não há povo mais tolerante que o brasileiro.
Porque aguentar o que aguentamos todo santo dia, era para sermos muito mais
rebeldes”, disse.
O
ex-presidente reiterou que a distribuição de renda é fundamental para o
crescimento do país. “Eles pensavam que pobre era o problema desse país e nós
provamos que pobre é a solução. Dê R$ 1 bilhão a um rico e ele vai transformar
o dinheiro em uma conta bancária. Dê R$ 50 a um pobre e ele vai comprar o que
comer, o comércio vai produzir, a indústria vai se desenvolver e os empregos
vão surgir”.
Para
Lula, a participação política é outro fator fundamental para superar a atual
crise brasileira. “Toda vez que se nega a política nasce um Hitler, nasce um
Bolsonaro. Quando as pessoas começam a rejeitar a política não é a esquerda que
cresce, é a direita. E não é a direita civilizada. É a direita raivosa”, disse.
O
ex-presidente defendeu mais tolerância na política. “O Rui Falcão já foi
agredido em aeroporto. O João Pedro Stédile já foi agredido em aeroporto. Lá em
São Paulo, muita gente foi agredida. Nós não podemos ser tão rasteiras como
eles porque nós temos uma divergência. Nós queremos mais gente participando da
política e não queremos as pessoas se afastando da política por esses
episódios. Vamos mostrar que, na nossa democracia, nós sabemos conviver com a
diversidade”.
Evento
Também
estiveram presentes no evento o senador Lindbergh Farias (PT), os deputados
federais Patrus Ananias (PT), Jô Moraes (PCdoB) e Maria do Rosário (PT) e o
governador mineiro Fernando Pimentel (PT). O presidente nacional do PT, Rui
Falcão, defendeu a desmilitarização da polícia e lembrou o caso da jovem
Deborah Fabri, que perdeu a visão em decorrência de ação policial em
manifestação em São Paulo.
O
Levante Popular da Juventude é uma organização de esquerda que surgiu em 2006
no Rio Grande do Sul e tem o objetivo de mobilizar jovens para transformar a
sociedade. A coordenação estima que há cerca de 20 mil integrantes no Brasil.
Os acampamentos nacionais ocorrem a cada dois anos e é a instância máxima de
deliberação do Levante Popular da Juventude. Tem ainda uma programação voltada
para a formação política e cultural. Há mesas com o jornalista esportivo Juca
Kfouri, a atriz Letícia Sabatella e o australiano Julian Assange, principal
porta-voz da plataforma WikiLeaks que participará através de videoconferência.
Esta
edição do encontro reúne cerca de 7 mil jovens de todos os estados do país.
“Aqui reunimos gente da cidade e do campo, da periferia, da universidade e das
escolas, negros e negras e LGBTs [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Transgêneros]. Temos um lema que é nossa rebeldia é o povo no
poder”, diz a gaúcha Nataly Santiago, integrante da coordenação nacional.
Financiamento
Paralelamente
ao acampamento, ocorre o Festival Cultural da Juventude Brasileira, evento que
teve financiamento do governo de Minas Gerais e gerou críticas dos partidos
opositores de Fernando Pimentel. “Nós participamos de um edital público e nosso
projeto, que atendia a todos os critérios, foi contemplado em um processo
transparente. Aqui a juventude encontra um espaço aberto e democrático para dar
vazão às suas produções artísticas“, explica o paulista Thiago Pará, membro da
coordenação nacional do Levante Popular da Juventude.
Pimentel
também respondeu às críticas em seu breve discurso. “Vou dizer para a imprensa
repetir amanhã. Nós vamos continuar apoiando os movimentos de juventude. Aqui,
não recebemos os jovens com bala de borracha”, disse o governador mineiro,
fazendo referência aos recentes episódios ocorridos nas manifestações de São
Paulo. Segundo a coordenação do Levante Popular da Juventude, o evento teve
também recursos arrecadados em campanhas de financiamento coletivo feitas pela
internet e com rifas organizadas pelos militantes.
Portal
Correio com Agência Brasil