Quarta-feira, 07 de setembro de 2016
Roberto Flávio
passou nove anos na fila de doação de órgãos.
Ele pediu Shirley em casamento para realizar o segundo sonho.
Shirley das Neves foi a doadora do rim que o companheiro Roberto Flávio
precisava (Foto: Dani Fechine/G1)
“Quer casar comigo?”. Essa foi uma pergunta que Roberto
Flávio esperou doze anos para fazer a Shirley. Vivendo juntos em João Pessoa, mas não casados oficialmente, marido e mulher foram por 12 anos companheiros de
vida. Com um rim sem funcionar devido a uma insuficiência renal, Roberto esteve
refém da hemodiálise durante nove destes anos. A felicidade veio há 20 dias,
quando descobriu que Shirley poderia ser sua doadora. Com um rim novo e ligados
agora também pelo corpo, Shirley aceitou doar também o coração. Foi pedida em
casamento e agora, além de unidos pelo corpo, estão também unidos pelo amor.
A doação tinha tudo para dar errado, como conta Roberto,
mas o resultado não poderia ter sido melhor. Há nove anos, Roberto Flávio, de
39 anos e professor de história, descobriu que apenas um rim funcionava dentro
do seu organismo. A partir dessa notícia, ele entrou num processo longo de hemodiálise
para retirar as impurezas do seu corpo, já que todo o líquido que consumia
recebia destino perigoso: o sangue. Roberto passou nove anos frequentando o
hospital três vezes na semana, quatro horas por dia. Fazia parte da sua rotina
e do seu corpo. Ele só funcionava sem reações ruins se estivesse ligado a uma
máquina.
Desde a descoberta da insuficiência renal, Shirley das
Neves, companheira de Roberto, se disponibilizou para doar o seu rim. Por medo
do que pudesse acontecer com ela, Roberto preferiu esperar um doador na fila da
doação de órgãos. Todos os anos, o professor de história criava uma nova meta
para a família que, até então, não era oficial. Dessa forma, conseguia fazer
com que Shirley esquecesse um pouco a loucura de dividir seu rim com ele. Nove
anos se passaram e Roberto nunca saiu da posição que estava na fila. Com sangue
O- tudo ficava mais difícil.
Nohan, de apenas um ano, foi o grande incentivador da doação de órgão
entre o casal (Foto: Dani Fechine/G1)
Como tudo aconteceu
Shirley queria fazer a doação e foi em busca de informações. Descobriu que a chance da compatibilidade era nula. Mas com sangue O+ o cenário poderia mudar para melhor. Quase pronta para o próximo passo, que seria a realização dos exames, uma novidade chegou para reanimar a família: um filho, que já era esperado há muitos anos.
Shirley queria fazer a doação e foi em busca de informações. Descobriu que a chance da compatibilidade era nula. Mas com sangue O+ o cenário poderia mudar para melhor. Quase pronta para o próximo passo, que seria a realização dos exames, uma novidade chegou para reanimar a família: um filho, que já era esperado há muitos anos.
Nasceu Nohan, que hoje tem um ano de idade, e junto a
ele surgiu a vontade de Roberto de estar cada dia mais vivo para vê-lo crescer.
“Quando Nohan nasceu, eu já senti aquele medo de deixá-lo. A hemodiálise, a
cada dia que passa, você fica mais debilitado”, contou. “A partir do momento
que ele tivesse a vida dele de volta, nós teríamos as nossas vidas de volta”,
completou Shirley.
A partir do
momento que ele tivesse a vida dele de volta, nós teríamos as nossas vidas de
volta"
Shirley das Neves, esposa de Roberto
Roberto precisava de um rim, Shirley queria ser a
doadora. Com a vontade de fazer a família se desenvolver saudável, esqueceram
os medos e apreensões. Com todos os exames realizados, depois de nove anos,
Roberto e Shirley se tornam unidos pelo corpo. Ela doou um rim que não era
indispensável para a sua vida. Ele recebeu tudo que lhe faltava.
Quando Nohan completou um ano, Roberto nasceu de novo.
Recebeu o rim de Shirley e mesmo com chances nulas de compatibilidade, tudo deu
certo. O rim começou a funcionar assim que o transplante foi concluído. A
recuperação de Shirley foi mais rápida que o esperado. A de Roberto, uma
surpresa. Deu adeus à hemodiálise e hoje se sente livre. “Saber que hoje eu
posso tomar água, isso é uma vitória”, Roberto lembra. Devido ao problema, ele
bebia cerca de 200 ml de líquido por dia.
Sonhos
realizados
Viver saudável, sem a necessidade de uma
máquina para auxiliar o corpo, era um desejo que os anos tornaram rotina. Mas
casar e oficializar a união que foi feita há doze anos era o grande sonho de
Shirley. Agora, com o problema de saúde resolvido, o sonho poderia se tornar
real. “Hoje somos unidos por um corpo só. Pelo resto da vida”, disse Roberto.
Para transformar tudo numa história mais bonita e unir
as boas novas, na segunda-feira (5), Roberto pediu a mão de Shirley em
casamento, numa surpresa que a deixou emocionada. Agora estão unidos de corpo,
coração e alma.
Roberto e Shirley vão oficializar a união em breve (Foto: Dani Fechine/G1)
“Hoje a gente é ligado por um corpo só. Hoje a gente tem
o maior presente das nossas vidas, o nosso filho. Ele já tem o nosso sobrenome.
Mas falta eu dar meu sobrenome a você. Falta eu saber se a gente vai viver para
vida toda. Eu gostaria de saber se você aceita meu sobrenome, se você aceita
casar comigo”, Roberto se declarou. “Sim, claro”, Shirley respondeu, surpresa,
mas completamente feliz. “A gente não tinha ainda aliança no dedo, mas a gente
sempre teve aliança no coração”, lembrou Shirley.
Por ter sido tão feliz com o sucesso da doação, Roberto quer
apenas servir de exemplo para os outros. “Mesmo vivo é possível salvar vidas”,
ressaltou. Deseja que a história sirva não apenas de inspiração, mas
principalmente de incentivo, de força e coragem para quem precisa apenas de um
empurrão para se tornar um doador. Ele precisou esperar nove anos para receber
o rim cuja ausência o fazia incompleto. Mas com a ajuda de todos, esse tempo
pode diminuir para quem ainda espera na fila.* Sob a
supervisão de Aline Oliveira
Dani Fechine*
Do G1 PB