Terça-feira, 18 de outubro de 2016
SÃO PAULO — A defesa
do ex-presidente Lula pediu que o desembargador João Pedro Gebran Neto, do
Tribunal Reginal Federal da 4ª Região (TRF4), encarregado de julgar o pedido de
suspeição do juiz Sérgio Moro, pedido pelo petista, se declare também suspeito
para julgar esse processo. De acordo com Cristiano Zanin Martins e Roberto
Teixeira, que representam o petista nos processos da Lava-Jato, Gebran Neto se recusou
a esclarecer se mantém relação de amizade íntima com Moro. A suspeição de um
juiz ocorre quando sua imparcialidade é posta em dúvida.
Em julho, os advogados de Lula protolocaram pedidos para que Moro se
declarasse suspeito para julgar o caso de Lula na Lava Jato. A defesa do
ex-presidente apontou como motivos para o afastamento do juiz a condução coercitiva imposta ao ex-presidente durante a
deflagração da 24ª fase da Operação Lava Jato, que investigava duas
propriedades atribuídas a Lula, um sítio em Atibaia e um tríplex no Guarujá, e
a suspensão do sigilo das interceptações de ligações telefônicas de Lula, que tornou
públicas conversas entre o ex-presidente e seus familiares.
“O pré-julgamento realizado por Moro é indevido e incompatível com a
realidade dos fatos”, escreveram, na ocasião, os advogados Roberto Teixeira,
Cristiano Zanin Martins e José Roberto Batochio.
O pedido, negado por
Moro, foi para a instância superior, o TRF4. Em decisão proferida no dia 10 de
agosto, Gebran Neto recusou esclarecer se mantinha uma relação de amizade com
Moro. Os advogados de Lula afirmam ainda uma eventual relação de
apadrinhamento. A defesa de Lula entrou com recursos contra essa decisão no
Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, pedindo para que
seja esclarecida a eventual amizade entre Gebran Neto e Moro.
“Embora tais recursos
ainda não tenham sido julgados, o desembargador Gebran Neto decidiu julgar as
exceções de suspeição contra o juiz Sergio Fernando Moro na próxima
quarta-feira, mantendo a recusa de informar a existência de relação de amizade
íntima com a parte”, afirmaram os advogados de Lula.
A defesa de Lula
afirma ainda que o julgamento foi marcado sem que as sete testemunhas arroladas
por Lula fossem ouvidas no processo. Uma delas é o prefeito eleito de São
Paulo, João Doria, do PSDB. Os advogados de Lula indicam três eventos com
participação de Moro no Grupo de Líderes Empresariais (Lide), empresa do Grupo
Doria e que atua na promoção de encontros entre empresários e políticos — um
deles, segundo os advogados, quando Doria já era pré-candidato pelo PSDB.
Caberá, inicialmente,
ao desembargador João Pedro Gebran Neto a decisão de se afastar do processo.
O Globo