Sexta-feira, 02 de dezembro de 2016
Dilma e Barbosa, em raro
encontro no STF: afago que não voltaria a se repetir
Para
Barbosa, que comandou julgamento da Ação Penal 470, o impeachment de
Dilma Rousseff não passou de “uma encenação”. O ato parlamentar, porém, fez o
país retroceder a um “passado no qual éramos considerados uma República de
Bananas”
Enquanto o
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa chama de farsa
o impedimento da presidenta deposta, Dilma Rousseff prevê que o presidente de
facto, Michel Temer, terá o mesmo destino. Será derrubado para que seu sucessor
seja escolhido pela via indireta, em eleição no Plenário do Congresso.
Para Barbosa, que
comandou julgamento da Ação Penal 470, o impeachment de Dilma Rousseff
não passou de “uma encenação”. O ato parlamentar, porém, fez o país retroceder
a um “passado no qual éramos considerados uma República de Bananas”.
Barbosa atribui o
comando do processo que resultou no golpe de Estado, em curso, à quadrilha de
políticos corruptos que queria apenas se proteger da Justiça. O ministro aposentado
falou à colunista Mônica Bergamo, do diário conservador paulistano Folha de S.
Paulo. Ele acrescentou, ainda, que o governo de Michel Temer corre o risco de
não chegar ao fim.
— Aquilo
(impeachment de Dilma) foi uma encenação. Todos os passos já estavam planejados
desde 2015. Aqueles ritos ali (no Congresso) foram cumpridos apenas formalmente
— denuncia.
ConluioParcela
majoritária do Congresso e o então vice-presidente Temer integraram um conluio
para derrubar a presidenta da República.
— Utilizaram-se
da estrutura de poder para reunir em suas mãos a totalidade do poder, nasce o
que eu chamo de desequilíbrio estrutural — acrescentou.
Ainda segundo
Barbosa “essa desestabilização empoderou essa gente numa Presidência sem
legitimidade. Unida a um Congresso com motivações espúrias. E esse grupo se
sente legitimado a praticar as maiores barbáries institucionais contra o país”.
O ex-ministro considera que, devido às circunstâncias, o governo de Michel
Temer pode não chegar ao fim.
Dilma concorda
Dilma Rousseff,
por sua vez, em um debate na Central Única dos Trabalhadores, noite passada,
denuncia o “golpe dentro do golpe”. Em linha com o que Barbosa dizia, quase que
ao mesmo tempo, a cassação de Michel Temer, em 2017, abrirá espaço para que o
novo presidente seja escolhido pelo Congresso.
Diante do risco,
Dilma defendeu eleições diretas já.
— Assistimos
estarrecidos e perplexos todas as tentativas de dar um golpe dentro do golpe.
Temos que ter a ousadia de defender mais uma vez eleições diretas para
presidente— afirmou.
Dilma se referia
à possibilidade de cassação da chapa encabeçada por ela e composta pelo
presidente Michel Temer ocorrer depois do dia 31 de dezembro.
— É isso que se
chama golpe dentro do golpe. Você cria a temporalidade para que haja eleição
indireta — afirmou.
Ela também fez
referência ao caso Geddel Vieira Lima.
— O Estado se
exceção é capaz de criminalizar alguns atos legítimos e perdoar outros que não
são legítimos. Estes dois pesos e duas medidas está ficando claro em várias
ações. Sobretudo na dimensão para certas questões. Não é considerado crime por
advocacia administrativa defender que se libere a construção de um edifício de
106 andares numa área de patrimônio histórico — afirmou.
Diretas já
Para Barbosa, as
eleições diretas para a Presidência, como sugeriu a presidenta Dilma, podem
reparar os “trunfos” que foram perdidos pelo cargo com a chegada ilegítima ao
poder. Sobre uma eventual prisão de Lula, Barbosa é enfático: “se não
houver provas incontestáveis, quem perde é o Brasil”.
— Sei que há uma
mobilização, um desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de
ser sequer julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação.
Há um esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito
negativo do mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um
ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais
negativo. Teria que ser algo incontestável — afirma.
Segundo Joaquim
Barbosa, o grupo que assumiu o poder, após o golpe de Estado, segue na intenção
de paralisar as investigações da Operação Lava Jato.
— A sociedade
brasileira ainda não acordou para a fragilidade institucional que se criou
quando se mexeu num pilar fundamental do nosso sistema de governo, que é a
Presidência (da República). Uma das consequências mais graves de todo esse processo
foi o seu enfraquecimento. Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com
vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave como é o impeachment não tinham
clareza da desestabilização estrutural que ele provoca — concluiu.
Correio do Brasil