Quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
Arcebispo
emérito estava internado com broncopneumonia desde 28 de novembro. Com 50 anos
de bispado, teve atuação importante no combate à repressão na ditadura militar.
Morreu nesta quarta-feira (14) o cardeal Dom Paulo
Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina em decorr~enca de uma broncopneumonia. D. Paulo tinha 95 anos.
O religioso foi internado no dia 28 de
novembro para tratar de problemas pulmonares. Com o passar do dia o estado de
saúde piorou, e ele teve de ir para a UTI por causa de dificuldades na função
renal. Segundo o hospital, Arns morreu às 11h45 por falência múltipla dos
orgãos.
O velório de D. Paulo será na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, e deve durar
48 horas. Ele deve ser sepultado na cripta da catedral.
O comunicado da morte de Arns foi feito em
nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo. O arcebispo metropolitano, Dom
Odilo Scherer, afirmou em nota que Arns “entregou sua vida a Deus, depois de
tê-la dedicado generosamente aos irmãos neste mundo”.
Em nota, o arcebispo Dom Odilo Scherer, da Arquidiocese
de São Paulo afirmou: "Comunico, com imenso pesar, que no dia 14 de dezembro de
2016 às 11h45, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo,
entregou sua vida a Deus, depois de tê-la dedicado generosamente aos irmãos
neste mundo.
Louvemos e agradeçamos ao "'ltíssimo, onipotente e bom
Senhor' pelos 95 anos de vida de Dom Paulo, seus 76 anos de consagração
religiosa, 71 anos de sacerdócio ministerial, 50 de episcopado e 43 anos de
cardinalato.
Glorifiquemos a Deus pelos dons concedidos a Dom Paulo, e que ele
soube partilhar com os irmãos. Louvemos a Deus pelo testemunho de vida
franciscana de Dom Paulo e pelo seu engajamento corajoso na defesa da dignidade
humana e dos direitos inalienáveis de cada pessoa.
Agradeçamos a Deus por seu exemplo de Pastor zeloso do povo de
Deus e por sua atenção especial aos pequenos, pobres e aflitos. Dom Paulo,
agora, se alegre no céu e obtenha o fruto da sua esperança junto de Deus!
Convido todos a elevarem preces de louvor e gratidão a Deus e de
sufrágio em favor do falecido Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Convido também a
participarem do velório e dos ritos fúnebres, que serão realizados na Catedral
Metropolitana de São Paulo".
Dom Paulo Evaristo Arns
participa de missa celebrada por Dom Odilo Pedro Scherer na Catedral da Sé, no
centro de São Paulo, em novembro de 2014 (Foto: Gabriela Biló/Estadão
Conteúdo/Arquivo)
Luta pelos direitos humanos
Quinto de 13 filhos de imigrantes alemães,
Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina.
Ingressou na Ordem Franciscana em 1939 e iniciou seus trabalhos como líder
religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Formou-se em teologia e filosofia em
universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na
Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu
doutorado.
Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre
os anos 60 e 70. Teve uma atuação marcante na Zona Norte da cidade, região em
que desenvolveu inúmeros projetos voltados para a população de baixa renda. Em
julho deste ano, foram celebrados os 50 anos de sua ordenação episcopal.
Frei Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São
Paulo, durante encontro com o político Tancredo Neves na capital paulista, na
década de 1980 (Foto: Sidney Corrallo/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista,
professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a ditadura militar, destacou-se por sua luta política em defesa dos direitos humanos, contra as
torturas e a favor do voto nas Diretas Já.
Ganhou projeção na militância em janeiro
de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo e denunciar a prisão e
tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente
social Yara Spadini.
No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e
Dom Waldyr Calheiros, que estavam sendo pressionados pelo regime militar.
Dom Paulo Evaristo Arns e sua
irmã, a médica pediatra, sanitarista e coordenadora da Pastoral da Criança, Dr.
Zilda Arns Neumann, chegam ao Mosteiro de São Bento, em São Paulo, para
audiência com o Papa Bento XVI, em maio de 2007 (Foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e,
como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao
regime militar que ganhou ampla repercussão à época.
Presidiu celebrações históricas na
Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da ditadura
militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme,
assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog,
assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 75.
Dom Frei Paulo Evaristo
Arns, arcebispo de São Paulo, visita a região do Vale do Ribeira em 1989 (Foto:
Lena Vettorazzo/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Atuou contra a invasão da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP) em 1977, que foi comandada pelo coronel Erasmo Dias, à
época secretário de Segurança, e articulou a operação para entregar ao
presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de
desaparecidos políticos.
Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi "salvo duas vezes" por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.
Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários.
Em 1983, foi um dos criadores da Pastoral da Criança, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.
Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi "salvo duas vezes" por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.
Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários.
Em 1983, foi um dos criadores da Pastoral da Criança, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários.
Dom Paulo Evaristo Arns,
Arcebispo emérito de São Paulo, participa de celebração eucarística dos 65 anos
de sua Ordenação Sacerdotal na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em
novembro de 2010 (Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu
1.200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2000
comunidades eclesiais de base (CEBs) na capital paulista.
Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão) e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.
Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo.
Arns organizou o Projeto Brasil: Nunca Mais desenvolvido ao lado do rabino Henry Sobel, Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe, no qual reuniram informações em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM) revelando a extensão da repressão política no Brasil e sistematizada em um livro.
Dom Paulo era corintiano fanático e escreveu o livro "Corintiano Graças a Deus".
Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão) e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania.
Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo.
Arns organizou o Projeto Brasil: Nunca Mais desenvolvido ao lado do rabino Henry Sobel, Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe, no qual reuniram informações em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM) revelando a extensão da repressão política no Brasil e sistematizada em um livro.
Dom Paulo era corintiano fanático e escreveu o livro "Corintiano Graças a Deus".
G1