Terça-feira, 06 de dezembro de 2016
Dormir pouco pode ser perigoso para o coração,
de acordo com um novo estudo realizado por cientistas da Escola de Medicina da
Universidade de Bonn (Alemanha). Os pesquisadores avaliaram as condições
cardíacas de médicos da própria equipe, que trabalham em turnos de 24 horas, e
descobriram que a falta de sono aumenta a pressão sanguínea e sobrecarrega o
coração, aumentando a força dos batimentos (contratilidade) e sua frequência.
“Pela primeira vez, mostramos que uma privação de
sono de curto prazo, no contexto dos turnos de 24 horas, pode levar a
considerável aumento da pressão sanguínea, da contratilidade e da frequência
cardíaca”, disse o autor principal do estudo, Daniel Kuetting, do Departamento
de Radiologia Diagnóstica da Universidade de Bonn.
Pessoas que trabalham em serviços de emergência,
como médicos, policiais, bombeiros e outros, são convocados com frequência para
atuar em turnos de 24 horas. Já se sabia que esse tipo de jornada estressante
pode afetar diversos processos físicos, cognitivos e emocionais.
Mas, segundo Kuetting, o novo estudo é o primeiro a
focar no impacto específico do turno de 24 horas sobre as funções cardíacas. Os
resultados da pesquisa foram apresentados na manhã desta sexta-feira, 2, na
reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).
Os estudos foram feitos com os próprios médicos da
universidade. Foram selecionados 20 radiologistas saudáveis com idade média de
31,6 anos. Cada um dos participantes foi avaliado com exames de ressonância
magnética cardiovascular (RMC), com análise de deformação.
Os participantes foram submetidos aos exames antes
e depois de seus turnos de 24 horas, nos quais tiveram em média três horas de
sono. Os cientistas também coletaram amostras de sangue e de urina de todos
eles e mediram a pressão sanguínea e a frequência cardíaca.
“A função cardíaca no contexto da privação de sono não havia ainda sido
investigada com análise de deformação em exames de RMC, que é o parâmetro mais
minucioso de contratilidade cardíaca”, explicou Kuetting.
Após a privação de sono
de curto prazo, além de apresentarem elevação considerável da pressão sanguínea
e da frequência e contratilidade cardíaca, os participantes também tiveram um
aumento importante dos níveis de hormônios da tireoide e do cortisol – um
hormônio liberado pelo organismo em resposta ao estresse.
Kuetting afirma que aumento da pressão sanguínea
após a privação de sono não chegou a valores que caracterizam pressão alta, mas
ainda assim revelam uma conexão inequívoca entre a privação de sono e o aumento
da pressão. Ele afirma que será preciso realizar estudos com grupos maiores
para determinar possíveis efeitos de longo prazo da falta de sono.
“O estudo foi desenhado para investigar um caso
real de privação de sono relacionada ao trabalho. Não foi permitido que os
participantes consumissem, durante o estudo, cafeína ou alimentos e bebidas que
contivessem teobromina, como chocolate, castanhas ou chá. Porém, nós não
levamos em conta fatores como estresse individual e estímulos ambientais”, explicou
Kuetting.
Uol.