Sábado, 24 de dezembro de 2016
Uma jovem de 17 anos morreu na quarta-feira (21) na Santa Casa de São
Carlos (SP) e a família acredita em negligência médica. Segundo a mãe, antes de
ser submetida a uma cirurgia e sofrer cinco paradas cardíacas, a filha teve
muita dor e foi atendida pelo menos seis vezes em duas Unidades de
Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade. A causa da morte ainda é desconhecida. Os
familiares afirmaram que vão registrar um boletim de ocorrência e entrar com
uma ação na Justiça.
A prefeitura informou que será aberta uma auditoria para analisar os
prontuários da paciente e abrirá uma sindicância para apurar os atendimentos
prestados nas UPAs. Já a Santa Casa informou que cumpriu todos os protocolos de
atendimento médico hospitalar com a paciente, dentro do serviço de Urgência e
Emergência que o hospital disponibiliza.
Jovem foi atendida na UPA do Santa Felícia (foto) e da Vila Prado (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)
Atendimentos
A mãe contou que Jaqueline de Queiroz Mattos Zanquim começou a reclamar
de dor na segunda-feira (19), mas não recebeu antendimento adequado nas UPAs
dos bairros Santa Felícia e Vila Prado.
“Ninguém pediu exame para ver o que era. Se recusaram até a tentar diagnosticar
dengue. Sei que nada vai trazer minha filha de volta, mas eles são médicos e
estudaram para isso, eles deveriam saber o que ela tinha. Talvez se tivessem
tentado fazer qualquer exame que fosse, ela estaria aqui agora”, desabafou
Silvia de Queiroz Mattos.
De acordo com a mãe, durante os atendimentos foram aplicadas altas doses
de soro e medicamentos. Ela disse ainda que jovem recebeu diagnósticos
variados, como gripe forte, pneumonia, dengue e até mesmo ‘nenhum problema’.
É minha morte saber que não posso mais ver ela e nem saber porque ela
morreu" Silvia de Queiroz Mattos, mãe
Dores abdominais
Na quarta-feira, a jovem reclamou de dores abdominais e teve febre alta.
Com dificuldades para respirar, ela chegou a desmaiar no banheiro, contou a
mãe.
Após colocar a filha no carro e levá-la à UPA da Vila Prado, Silvia
alegou não ter recebido ajuda de nenhum enfermeiro ou funcionário, mesmo
pedindo para que a filha fosse socorrida de imediato.
“Eu buzinei, gritei por socorro e ninguém apareceu. Tive que arrastar
minha filha porque não conseguia carregar ela. Ela estava toda gelada, roxa e
só dizia que não conseguia respirar. Quando cheguei, uma funcionária perguntou
se era ‘droga ou bebida’, foi humilhante para nós. Fiquei desesperada”, disse.
A jovem foi
encaminhada no período da noite para a Santa Casa, onde foi atendida e passou
por cirurgia, mas quando já estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sofreu
cinco paradas cardíacas e não resistiu.
“Ela só sabia chorar
de dor. Disseram que iam colocar uma câmera por dentro para ver onde era a
infecção, e como demorou um pouco, fiquei com esperança de que ela estivesse
sendo curada, mas então o médico veio até mim e disse que ela tinha morrido.
Fiquei sem chão, meu mundo acabou”, contou a mãe emocionada.
‘Menina sonhadora’
De acordo com a mãe, Jaqueline lutava pelo sonho de se formar em
arquitetura. Recentemente havia sido aprovada em uma faculdade, mas não
conseguiu concluiu a matrícula por falta de dinheiro. Além disso, a jovem também
perdeu a formatura do ensino médio.
“Ela foi enterrada com o vestido que compramos para usar na formatura.
Ninguém tem ideia do quanto é doloroso perder uma filha, ver ela morrendo e não
poder fazer nada. Eu estava de mãos atadas, sem dinheiro, sem gasolina para
conseguir socorrer ela e sem atendimento necessário. O posto não tinha remédio
que receitaram, ninguém pediu um exame sequer. Se ela tivesse sido
diagnosticada nas primeiras vezes, estaria aqui agora”, desabafou a mãe.
Para ela, uma das piores
sensações é ainda não saber qual foi a real causa da morte da filha, que sempre
foi saudável.
"Parece que todo o meu sacrifício para criar quatro filhos sozinha
foi em vão. Aquelas palavras [do médico] não saem da minha cabeça, é minha
morte saber que não posso mais ver ela e nem saber porque ela morreu”, contou
Silvia.
O corpo da jovem foi sepultado na tarde de quinta-feira (23). A família
aguarda o resultado do laudo com a causa da morte.
G1