Quinta-feira, 26 de Janeiro de 2017
O
Brasil vive o maior surto de febre amarela em 14 anos. Até terça-feira, 24,
foram confirmados 70 casos da doença, com 40 mortes. Desse total, 21 são de
pacientes que apresentaram os primeiros sintomas em meados de dezembro. O maior
número de casos até então havia sido em 2003, quando foram confirmados 64
pacientes com febre amarela. Há ainda no País outros 364 casos em investigação,
incluindo 49 óbitos.
Além do aumento expressivo do número de casos, a doença atinge
um número maior de estados e municípios neste ano. Em 2003, com o surto em
Minas, os casos se espalharam por menos de 20 municípios do Estado. Agora, pelo
menos 40 cidades apresentam registros de pacientes com suspeita da infecção. Há
notificações também em Espírito Santo, Bahia e São Paulo. No total, 60 cidades
do País já relataram casos suspeitos.
“Não há dúvidas de que os casos vêm em maior número e atingem
uma área maior”, afirma o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz, André
Siqueira. Para ele, não há um fator único que explique a expansão.
Entre as causas estariam maior circulação do vírus, desmatamento
e mudanças do clima que favorecem a proliferação dos mosquitos transmissores da
forma silvestre da doença. Ao jornal O Estado de S. Paulo, na terça-feira, 24,
o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que o governo também analisa a
tese de que o surto em Minas pode estar relacionado à tragédia do rompimento da
barragem em Mariana, que afetou o equilíbrio ecológico do Rio Doce em 2015.
“Isso é uma tese que está sendo desenvolvida e nós estamos aguardando eventual
confirmação.”
Ação tardia
Siqueira não descarta a possibilidade
de que medidas de contenção tenham sido feitas de forma tardia. “Desde o fim do
ano passado há registros de morte de macacos, um indício de que o vírus da
febre amarela poderia estar circulando de forma mais intensa”, disse Siqueira.
Para ele, com as notificações, seria necessário intensificar a vacinação da
população suscetível.
O subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria
de Estado de Saúde de Minas, Rodrigo Said, garante, porém, que medidas foram
adotadas rapidamente. “Os registros de casos em humanos começaram na primeira
semana de janeiro. Providenciamos imediatamente vacinação de bloqueio.” De
acordo com ele, não foram identificadas com antecedência mortes de animais.
“Começaram a ser notadas simultaneamente aos registros de casos suspeitos na
população.”
Siqueira avalia que óbitos provocados pela doença poderiam ter
sido evitados. “Os casos aconteceram, em sua maioria, em áreas consideradas de
risco. Por que a população não estava vacinada?” Para o pesquisador, o
argumento de que o País vive ciclo de aumento de casos da doença a cada 7 ou 10
anos não é suficiente para explicar os casos. “Isso é um atestado de
incapacidade de autoridades de saúde. Existe uma vacina contra a doença, uma
vacina eficaz. Se há maior risco a cada ciclo de 7, 10 anos, por que medidas
não são adotadas?” Ele defende, por exemplo, que campanhas periódicas sejam
feitas, sobretudo em áreas de risco.
O professor da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Tauil,
afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo considerar necessária,
passado esse período de aumento expressivo de casos, uma discussão mais
aprofundada sobre a forma como a vacina é ofertada para a população. Uma das
possibilidades que precisam ser discutidas, disse, é incluir o imunizante na
rotina de imunização.
Na terça-feira, 24, o ministro Barros ressaltou que “o Brasil
tem capacidade técnica, de assistência, pessoal, infraestrutura e de vacinas,
para bloquear esse surto”. “Agora, depende efetivamente de as pessoas irem à
vacinação e de técnicos agirem corretamente quando surge cada caso.”
Barros declarou que a pasta não trabalha com a hipótese de o
surto se alastrar para as áreas urbanas. “Mas, evidentemente, se a pessoa pega
a doença na mata e vem para a cidade, pode transmitir. O fato concreto é que
temos controle máximo dos casos para evitar que isso aconteça”, ressaltou,
considerando a possibilidade de retomada da transmissão por meio do Aedes
aegypti.
Imunização
A imunização em Minas é considerada baixa. Cerca de 50% da
população está vacinada contra febre amarela. Em São Paulo, onde também há
casos (veja ao lado), o índice chega a 80%. O coordenador de Controle de
Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo, o infectologista Marcos Boulos, no
entanto, afirma ser necessário atingir a marca de 95% em áreas consideradas de
risco.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão
Conteúdo.
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