Domingo, 29 de janeiro de 2017
Investigação quer criar órgãos humanos
dentro de animais para transplantes
Cientistas
criaram embriões de um animal quimera, que tem genes de humanos e porcos, numa
investigação que pretende fazer crescer órgãos humanos em animais para serem
usados em transplantes.
A criação desta
quimera - uma referência aos monstros da Grécia Antiga que eram a mistura de
dois ou mais animais - é tida pela comunidade científica como um grande passo
na produção de órgãos humanos, saudáveis e compatíveis com os pacientes.
"O principal
objetivo é criar tecidos ou órgãos funcionais e que possam ser transplantados,
mas ainda estamos longe disso. É um importante primeiro passo", disse Juan
Carlos Izpisua Belmonte, investigador do Instituto Salt para Estudos
Biológicos, na Califórnia. Estes órgãos poderiam ser usados ainda para testar
medicamentos e tratamentos em segurança.
Para isso, os
cientistas colocaram células estaminais de humanos em embriões de porcos. Daí
resultaram dois mil "híbridos" (no sentido mais lato da palavra), que
foram implantados nos suínos. Desenvolveram-se mais de 150 embriões que eram
maioritariamente porco e tinham cerca de 10 mil células humanas, segundo um artigo na
revista científica Cell.
Um dos desafios da investigação foi calcular o tempo, pois
a gravidez dos porcos demora apenas 112 dias, em comparação aos nove meses
necessários na gravidez humana para o desenvolvimento dos embriões.
Ainda assim,
Belmonte revelou que os embriões foram retirados ao 28º dia, na altura do fim
do primeiro trimestre de gravidez. "Isto foi o suficiente para tentarmos
perceber como as células humanas e suínas se misturam no princípio sem
levantarmos questões éticas sobre animais quiméricos adultos", explicou o
investigador, segundo o Guardian.
Este estudo
reacendeu as discussões éticas e os receios sobre os animais híbridos, com
várias pessoas a questionarem se estas quimeras terão aparência humana ou se
terão as capacidades intelectuais dos homens. Alguns apontam ainda o risco de
surgirem animais inteligentes que consigam escapar dos laboratórios.
Belmonte afirma
que estas questões são motivadas por mitos e defende que todas as experiências
são realizadas em locais meticulosamente controlados.
A equipe espera no futuro conseguir desativar certos genes
dos porcos para conseguir órgãos com tecido celular totalmente humano. Desta
forma, os cientistas poderiam também fazer o contrário e, por exemplo, garantir
que o cérebro da quimera não tem células humanas.
"Não vimos
nenhuma célula humana na região do cérebro, mas não podemos excluir a
possibilidade de algumas terem ido para o cérebro", afirmou Belmonte,
acrescentando que neste estudo a inteligência da quimera não foi uma
preocupação pois elas foram destruídas com 28 dias.
Fonte: DN