Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi
Mário Batista da Cruz
Júnior, de 34 anos, é morador de rua e trabalha como vendedor ambulante. Há
alguns meses, decidiu voltar a estudar, fez a prova do Enem e conseguiu ser
aprovado em segundo lugar para o curso de Administração da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN).
“Para mim foi uma grata surpresa”, comenta Mário, que se matriculou esta
semana no curso. Hoje, ele dorme todos os dias no Centro de Referência
Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop) de Parnamirim, na
Grande Natal, mas pretende conseguir uma vaga na residência universitária.
Mário precisa chegar todos os dias no início da tarde para garantir uma
das 26 vagas do Centro Pop. Lá, além de poder tomar banho, comer e dormir, ele
tem atendimento social, jurídico e psicológico e pode participar de atividades
pedagógicas. “Vale a pena a gente investir, e acreditar, e oferecer essa
oportunidade aos moradores de rua”, afirma Elienai Cartaxo, secretária de
Assistência Social do município.
“Um cara superinteligente”, nas palavras de um colega de albergue, Mário
conta que sempre gostou de ler, desde livros a jornais e revistas, e que se
preparou para a prova lendo o máximo que podia. Mário pega a maioria dos livros
emprestada de uma minibiblioteca do Coletivo For All, instalada no
‘caminhódromo’ do bairro Cohabinal, em Parnamirim.
Dependência química
Mário se envolveu ainda jovem com drogas e álcool e, por causa do vício,
largou os estudos. “A dependência é uma doença progressiva, ela vai aumentando
a sua capacidade de destruição sobre a vida da pessoa, então cada vez mais eu
fui fechando as portas que se abriam na minha frente. Acabou que no final de
tudo eu estava na rua”, diz.
O morador de rua conta que começou a beber quando tinha nove anos. “As
primeiras vezes que eu tive oportunidade de ter contato com substâncias
químicas eu fiz questão de ter, de conhecer uma por uma, e acabou que eu passei
por todas, por uma questão de curiosidade. Curiosidade mesmo, sobre o
desconhecido, o proibido", explica.
Futuro
O calouro de Administração não tem medo de novos desafios. “Tudo que eu
tenho de bens materiais eu posso vir a perder, mas o conhecimento que eu tenho,
que eu coloco para dentro da minha cabeça, nunca vou perder”, diz. “Vou fazer
de tudo para estabilizar a minha vida, conseguir firmar meus pés nessa nova
fase de estudo, refazer os laços familiares e ter dignidade de verdade.”
G1