Terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Imagem: Reprodução
Durante
séculos a aroeira-vermelha é utilizada por comunidades da Amazônia para tratar
infecções na pele e outros tecidos. Porém, só agora cientistas conseguiram
compreender essa prática de cura ancestral. Em um estudo publicado na última
sexta-feira no periódico Scientific Reports, um grupo de pesquisadores testou
uma substância derivada da planta brasileira em camundongos e descobriu que
alguns dos seus componentes são capazes de desativar genes responsáveis pela
virulência da MRSA (sigla em inglês para Staphylococcus aureus resistente a
meticilina), bactéria que é a principal causadora de infecções hospitalares.
“Nós separamos ingredientes químicos
dos frutos e os testamos sistematicamente em bactérias causadoras de doenças
para descobrir o mecanismo medicinal dessaplanta”, afirma em comunicado
Cassandra Quave, autora da pesquisa e professora da Escola de Medicina da
Universidade Emory, nos Estados Unidos. Apesar de ainda não ter sido testada em
humanos, a descoberta pode ajudar a desenvolver novas maneiras de tratar
infecções causadas por “superbactérias” – nome popular que faz referência a
bactérias resistentes a vários antibióticos.
Bactérias (quase) invencíveis
Há
anos os cientistas vêm tentando encontrar uma solução para o crescente problema
das infecções por superbactérias. Estudos apontam que, até 2050, esses
microrganismos super resistentes podem chegar a matar 10 milhões de pessoas por
ano se nada for feito – um valor superior às 8,2 milhões de mortes anuais
causadasatualmente pelo câncer. Cientistas já conseguiram desenvolver algumas
alternativas de medicamentos, incluindo um novo tipo de antibiótico que ainda
não existia no mercado e um remédio à base de vírus que ataca o interior das
células bacterianas. A principal dificuldade, no entanto, é que se algumas
dessas bactérias sobreviverem aos novos medicamentos, podem passar seus genes
adiante e tornar as novas gerações resistentes a eles também.
O extrato da aroeira-vermelha
estudado por Cassandra e sua equipe, porém, atua de uma maneira diferente.
Chamado de 430D-F5, ele é composto por uma mistura de 27 substâncias químicas.
Nenhuma delas é capaz de matar a bactéria – porém, conseguem desarmá-la,
silenciando o gene que é responsável pela comunicação entre os microrganismos.
Com a comunicação bloqueada, eles não conseguem tomar ações coletivas e deixam
de excretar substâncias tóxicas que danificam os tecidos.
Para chegar a esses resultados, os
cientistas utilizaram o extrato para tratar um grupo de camundongos que foram
infectados com a MRSA, e mantiveram um grupo controle sem o remédio. Eles
observaram que os camundongos que receberam o tratamento não desenvolveram
problemas de pele, enquanto os outros sim. Além disso, equipe também percebeu
que o extrato não causa nenhum dano à pele das cobaias, e nem às bactérias
naturais e saudáveis que vivem no tecido.
“Em alguns casos, é necessário atacar
fortemente com antibióticos para tratar o paciente”, Cassandra afirma. “Porém,
ao invés de sempre utilizar uma bomba para acabar com uma infecção, existem
situações em que usar um método antivirulento pode ser tão efetivo quanto,
ajudando também a restaurar o equilíbrio da saúde do paciente.”
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