Terça-feira, 28 de março de 2017
Foto: World Museum de Roterdã
Você provavelmente já ouviu falar das
múmias do Antigo Egito, de como os corpos de membros importantes da sociedade
eram preservados, e sobre a importância cultural e simbólica da prática. As
múmias se tornaram interesse de historiadores e cientistas ainda no início dos
anos 1900, pela possibilidade de trazer informações sobre estilo de vida,
costumes e tradições do passado. Em meados do século 10, um ritual ainda mais
impressionante foi registrado entre monges na China. Eles não só cultivavam a
preservação do corpo após a morte, como se automumificavam.
Isso mesmo, o processo começava ainda em vida, com o objetivo de
transcendência espiritual através da automumificação. No Antigo Egito, a
mumificação tinha início após a morte de um ente representativo na sociedade.
Todo o líquido do organismo era removido e o corpo era coberto por uma espécie
de resina. A prática espiritual incluía a construção de sarcófagos e tumbas
para armazenar as múmias. Mas os monges Sokunshinbutsu criaram um método que é
reverenciado até hoje pela dedicação e abdicação que envolve. Eles induziam o
corpo ao óbito para se tornarem múmias.
Acredita-se que a automumificação tenha começado entre monges
chineses, porém o procedimento ficou famoso mesmo no nordeste do Japão. Na
primeira fase, monges faziam uma dieta restrita a nozes e castanhas durante 1
mil dias, quando perdiam quase toda gordura corporal. Eles, então, ingeriam uma
série de raízes e ervas indutoras ao vômito para perder fluídos. Na última
etapa, os monges se trancavam em câmaras com uma pequena passagem de ar e um
sino. Eles tocavam o sino enquanto vivos e quando paravam de tocar a câmara era
selada.
Após três anos, a câmara era reaberta e se o corpo estivesse em
boa conservação, o monge era levado para um santuário. O corpo deveria estar na
posição de lótus e o monge que conseguisse enfrentar a automumificação com
sucesso seria venerado pelos demais e considerado um verdadeiro Buda. Monges da
região de Yamagatta, no Japão, aderiram ao ritual transmitido pelos
ensinamentos da escola Shingon. No entanto, a automumifucação foi proibida no
país no século 18.
Em 2015, cientistas holandeses encontraram um monge chinês
mumificado dentro de uma estátua de Buda, sentado na posição de lótus.
Acredita-se que a múmia seja do século 11 ou 12. Não há órgãos no corpo do
monge. A estátua está exposta no museu de Roterdã e, segundo o curador da
exposição Erik Bruijin, o corpo seria do mestre budista Liunqan, da Escola
Chinesa de Meditação.
Monges italianos se mumificaram usando a desidratação do corpo e
cobrindo a pele com cerâmica entre os séculos 16 e 17. Capuchin Catacomb, em
Palermo, na Itália, soma mais de oito mil múmias, incluindo ricos e famosos da
época, e é a maior coleção de múmias do mundo. O local é uma atração turística
que resgata costumes, roupas e tradições da sociedade de Palermo nos séculos
passados.
Múmia mais antigas do mundo
A descoberta de como “fazer uma múmia”, no entanto, de acordo
com pesquisadores, aconteceu ao norte do Chile, em uma região seca e desértica,
com solo arenoso. As múmias de Chinchurro, descobertas em escavações nos anos
1980, são as mais antigas já encontradas no mundo. Pesquisadores acreditam que
os corpos foram enterrados pelo menos dois mil anos antes do início da
mumificação no Antigo Egito.
As múmias de Chinchurro tinham todos os tecidos moles e sangue
retirados e a pele preenchida com matéria vegetal, como ervas, cinzas e tecido
animal. O esqueleto era reforçado com pedaços de madeira e os corpos eram
cobertos com argila. Mudanças climáticas e o aumento da umidade na região têm
degradado as múmias.
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