Domingo, 16 de abril de 2017
Emma Morano
A italiana Emma Morano, a última
sobrevivente conhecida do século XIX e supostamente a mulher mais idosa da
humanidade, morreu neste sábado em sua residência em Verbania (norte), aos 117
anos e 137 dias, anunciou a imprensa local.
"Ela teve uma vida extraordinária e sempre nos recordaremos
de sua força por seguir adiante", declarou o prefeito de Verbania, citado
pela imprensa.
Segundo o Gerontology Research Group (GRG), um grupo americano
que busca e certifica as pessoas mais idosas do mundo, a decana da humanidade
agora é uma jamaicana, Violet Brown, nascida em 10 de março de 1900.
O mesmo grupo afirmava que Emma Morano, nascida em 29 de
novembro de 1899, era a última pessoa conhecida nascida antes de 1900.
Morano, uma mulher obstinada e independente que conservou sua
autonomia até os 115 anos, atribuía sua longevidade a décadas de celibato e seu
regime improvável: três ovos diarios durante quase um século.
Ao longo de sua vida, testemunhou a passagem de 11 papas, três
reis da Itália e 12 presidentes da República, mas não chegou a superar o
recorde absoluto da francesa Jeanne Calment, que viveu até os 122 anos.
Seu primeiro amor desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial,
e acabou se separando de um marido violento após a morte de seu único filho com
poucos meses. Isso foi em 1938, três décadas antes da aprovação da lei do
divórcio na Itália.
A partir desse momento, viveu sozinha, em um momento em que isso
não era comum, e trabalhou até os 75 anos em uma fábrica de bolsas.
Aos 115 anos, decidiu aceitar a ajuda de uma enfermeira em tempo
integral.
Em novembro de 2016 recebeu a AFP em seu apartamento, entre um
armário repleto de caixas de papelão, uma série de imagens religiosas, seu
diploma de "Decana da Humanidade" do Guinness World Records e uma
fotografia dela com seu médico Carlo Bava com ovos na mão.
Poucos médicos e nutricionistas, entretanto, recomendariam a
dieta de Emma Morano.
Diagnosticada com uma anemia aos 20 anos, ela seguiu o conselho
de um médico que lhe recomendou comer três ovos diários -dois crus pela manhã e
um na tortilha do meio-dia.
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Mais de 100.000 ovos -
Ela seguiu rigorosamente esse regime, chegando a consumir com o
tempo mais de 100.000 ovos, antes de sucumbir nos últimos anos a uma paixão
pelos biscoitos.
"Emma sempre comeu muita pouca verdura e muita pouca
fruta", contava o doutor Bava, que a acompanhou durante 30 anos e atribuía
sua longa vida à genética. Sua mãe viveu até os 91 anos e duas irmãs foram
também centenárias.
Seu regime, muito longe da famosa dieta Mediterrânea, deveria
ter prejudicado seu fígado e a poeira da fábrica em que trabalhava, os pulmões.
"Mas com Emma, acho que ela poderia ter comido pedra e ainda assim viveria
muito tempo", brincou o médico.
A regularidade de sua vida e seu forte caráter também ajudaram.
Emma Morano nunca quis por os pés em um hospital, nem para operar a catarata.
Ela via e ouvia muito mal, se expressava com dificuldade e
passava grande parte do dia dormindo. Mas sua mente se manteve ágil e tinha
muito senso de humor.
"Como está o meu cabelo, estou bem?", perguntou antes
de posar para a fotografia de seu aniversário de 117 anos em novembro de 2016.
"O que mais me surpreende é sua memória. Não esquece de
nada", contou, na época, Yamile Vergara, a enfermeira colombiana que a
acompanhava desde meados de 2015.
"O bom humor é sua terapia. Eu a faço rir e ela me faz
rir", contou Vergara. "Quando a chamo de "minha bambina"
(minha menina), ela me responde 'nada de menina. Você não vê que sou mais velha
que Matusalém?'".
Por Fanny CARRIER / AFP