Segunda-feira, 01 de maio de 2017
Ex-mulher diz
que artista teve um infarto; corpo será levado à cidade de Sobral, onde ele
será enterrado. Ícone enigmático, músico compôs clássicos como 'Velha roupa
colorida' e 'Como nossos pais'.
O governo do Ceará emitiu
nota sobre o assunto e decretou luto oficial de três dias.
O cantor
e compositor cearense Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada deste domingo
(30) em Santa Cruz do Sul (RS). A polícia informou que o artista morreu de
causas naturais. O corpo deve ser levado para o Ceará, onde ocorrerá o
sepultamento em Sobral, sua cidade natal, segundo a Secretaria de Cultura do
Estado.
De acordo com a polícia, um dos médicos do IML relatou
informalmente que a causa da morte foi o rompimento da aorta, que indica a
morte natural de Belchior. "Esse deve ser o resultado que vai vir no laudo
depois. Claro que também serão feitos mais alguns exames, mas em princípio foi
isso", afirmou a delegada Raquel Schneider, da Polícia Civil de Santa Cruz
do Sul. A ex-mulher do músico, Ângela Margareth, disse ao repórter Chico
Regueira, da TV Globo, que ele teve um infarto.
Lara Belchior, sobrinha do cantor, disse
que a família cogita realizar um primeiro velório em Fortaleza, antes de levar
o corpo a Sobral. O
corpo foi retirado pela funerária da casa do artista por volta das 14h30,
e deve seguir para o Instituto Médico-Legal de Cachoeira do Sul, cidade cerca
de 100 km distante de Santa Cruz do Sul.
O Governo do Estado do Ceará confirmou a
morte e decretou luto oficial de três dias. “Recebi com profundo pesar a
notícia da morte do cantor e compositor cearense Belchior" disse em nota o
governador Camilo Santana. "O povo cearense enaltece sua história, agradece
imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará
e do Brasil" (veja íntegra da nota abaixo).
O traslado do corpo será feito pelo Governo do Ceará, que
aguarda liberação das autoridades gaúchas. O horário ainda não foi confirmado,
mas a expectativa é que o corpo seja levado ainda neste domingo.
A assessoria do governo disse também que o
chefe da Casa Militar do Ceará, coronel da Polícia Militar Túlio Studart,
entrou em contato com o chefe da Casa Militar do RS, e que eles aguardam o
resultado do laudo oficial.
Belchior durante
entrevista em São Paulo em 1986 (Foto: Antonio Lúcio/Agência Estado)
Veja a íntegra da nota oficial do Governo do Ceará:
"O
Governo do Ceará lamenta profundamente o falecimento do cantor e compositor
cearense, Belchior, aos 70 anos, na noite deste sábado, 29, na cidade de Santa
Cruz, no Rio Grande do Sul. E informa que está prestando todo o apoio à
família, inclusive providenciando o traslado do corpo para Sobral, sua cidade
natal. O governador Camilo Santana está decretando luto oficial de três dias.
Belchior é dono de uma trajetória artística da mais absoluta importância para a
cultura do Estado. Sua carreira o levou ao patamar de um dos maiores ícones da
Música Popular Brasileira, promovendo o nome do Ceará em todo o Brasil e no
mundo".
Casa onde o cantor Belchior
morava em Santa Cruz do Sul (RS), neste domingo. Vizinhos disseram que família
do cantor é muito reservada e vivia bastante no local (Foto: Muriel Porfio/RBS
TV)
Nascido em 26 de outubro de 1946, Antônio Carlos Gomes
Belchior Fontenelle Fernandes foi um dos ícones mais enigmáticos da música
popular no Brasil, com quase 40 anos de carreira.
Teve o primeiro sucesso nos anos 70 ao lado
do também cearense Fagner, com a faixa "Mucuripe". Com o disco
"Alucinação" (1976), lançou clássicos como as faixas "Apenas um
rapaz latino-americano", "Velha roupa colorida" e "Como
nossos pais", essa última que se tornou conhecida na voz da cantora Elis
Regina.
Paradeiro
Segundo o colunista
do G1, Mauro Ferreira, o cantor não tinha paradeiro certo desde 2008. Em 2007, a família
reclamou do sumiço do artista, que abandonou a carreira; e nem mesmo seu
produtor musical conseguia contato. A partir daí, foram surgindo boatos a
respeito do paradeiro do cantor.
Segundo reportagem do Fantástico, Belchior
abandonou ao menos dois carros, sem explicação. Um deles, deixado no Aeroporto
de Congonhas, em São Paulo, acumulando milhares de reais em dívidas de
estacionamento. Outro veículo, uma Mercedes Benz do cantor, foi largado em um
estacionamento também em São Paulo, onde ele morava antes de ir para o Uruguai.
Belchior chegou a ser procurado pela
polícia em 2012 devido a uma dívida, à época, de US$ 15 mil em um hotel na
cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias. No fim daquele ano,
em meio à polêmica, foi visto em Porto Alegre, mas não quis gravar entrevista.
Cantor e compositor
Belchior em retrato de 1987 (Foto: Silvio Ricardo Ribeiro/Estadão Conteúdo)
Trajetória
Na infância no
Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou no rádio em sua cidade
natal. Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de igreja.
Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também
chegou a estudar Medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à
música.
Começou
apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Fez parte do chamado Pessoal do
Ceará, que inclui artistas como Fagner, Ednardo, Rodger e Cirino. Depois do
sucesso de "Mucuripe", mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas
sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de
televisão.
Em 1974, lançou
seu primeiro disco, "A palo seco", cuja música título se tornou
sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo
Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros artistas
também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos
("Mucuripe"), Erasmo Carlos ("Paralelas"), Engenheiros do
Hawaii ("Alucinação"), Wanderléa ("Paralelas") e Jair
Rodrigues ("Galos, noites e quintais"). Elis Regina foi uma de suas
maiores intérpretes: além de "Como nossos pais", gravou
"Mucuripe", "Apenas um rapaz latino-americano" e
"Velha roupa colorida".
Em 1982, o
cantor lançou "Paraíso", que tem participações dos àquela época ainda
jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo
Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983.
Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.
Também gravou
composições outros artistas, como "Romaria", de Renato Teixeira. No
disco "Vício elegante", de 1996, canta apenas músicas de colegas,
entre elas "Almanaque", de Chico Buarque, "Esquadros", de
Adriana Calcanhoto, e "O nome da cidade", de Caetano Veloso.
Por G1, CE