Quinta-feira, 18 de maio de 2017
Joesley Batista entregou à
Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação que piora de forma
descomunal a tempestade que já cai sobre a cabeça de Aécio Neves (PSDB-MG). No
áudio, o presidente do PSDB surge pedindo nada menos que R$ 2 milhões ao
empresário, sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas
com sua defesa na Lava-Jato.
O diálogo gravado durou cerca de 30 minutos. Aécio e Joesley se
encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. Quando Aécio
citou o nome de Alberto Toron, como o criminalista que o defenderia, não pegou
o dono da JBS de surpresa. A menção ao advogado já havia sido feita pela irmã e
braço-direito do senador, Andréa Neves. Foi ela a responsável pela primeira
abordagem ao empresário, por telefone e via WhatsApp (as trocas de mensagens
estão com os procuradores). As investigações, contudo, mostrariam para a PGR
que esse não era o verdadeiro objetivo de Aécio.
O estranho pedido de ajuda foi aceito. O empresário quis saber,
então, quem seria o responsável por pegar as malas. Deu-se, então, o seguinte
diálogo, chocante pela desfaçatez com que Aécio trata o tema:
— Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você
mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança — propôs
Joesley.
— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai
ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele
sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho — respondeu
Aécio.
O presidente do PSDB indicou um primo, Frederico Pacheco de
Medeiros, para receber o dinheiro. Fred, como é conhecido, foi diretor da
Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente
em 2014. Tocava a área de logística.
Quem levou o dinheiro a Fred foi o diretor de Relações
Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Foram quatro
entregas de R$ 500 mil cada uma. A PF filmou uma delas.
No material que chegou às mãos de Fachin na semana passada, a PGR
diz ter elementos para afirmar que o dinheiro não foi repassado a advogado
algum. As filmagens da PF mostram que, após receber o dinheiro, Fred repassou,
ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar
do senador Zeze Perrella (PMDB-MG).
Mendherson levou de carro a propina para Belo Horizonte. Fez três
viagens — sempre seguido pela PF. As investigações revelaram que o dinheiro não
era para advogado algum. O assessor negociou para que os recursos fosse parar
na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella,
filho de Zeze Perrella.
Não há, portanto, nenhuma indicação de que o dinheiro tenha ido
para Toron.
O Globo