Segunda-feira, 15 de maio de 2017
Com foco nas eleições de 2018, a
ex-ministra Marina Silva tenta atrair para seu partido, a Rede, ex-ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF). Ao Estado, Marina confirmou que tem conversado
com Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto. Disse, porém, que as conversas são
apenas sobre o cenário político brasileiro, embora seus aliados admitam o
interesse da sigla em atrair figuras de peso do Judiciário.
A Rede também tenta atrair
o apoio do PSB, partido pelo qual Marina disputou as eleições de 2014, após a
morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, com quem ela integrava a
chapa como candidata a vice-presidente. As conversas nesse sentido estão sendo
feitas com a ala do PSB de Pernambuco, que defende a independência do partido
do governo Michel Temer.
"Quando conversei com
o ministro Joaquim Barbosa, falei sobre questões que estão acontecendo hoje no
Brasil, referentes a este momento político. Nunca falei com ele sobre questões
partidárias", disse a ex-ministra. Sobre Ayres Britto, afirmou: "Conversamos
sobre questões jurídicas. Ele me ensina que, para essa crise, a Constituição é
o mapa".
Marina fez questão de
ressaltar, no entanto, que os dois ex-ministros do Supremo têm legitimidade e
são bem-vindos na política. "A Rede tem respeito por essas figuras. E elas
têm toda a legitimidade para, se de modo próprio desejarem, participar. Com
certeza devem ser bem-vindas no espaço da política", afirmou. De acordo
com ela, o partido que eventualmente filiasse Ayres Britto seria um
"agraciado".
O ex-ministro confirmou as
conversas com Marina, de quem se diz "amigo de muitos anos".
"Vez por outra a gente se junta para tomar um cafezinho e pensar grande o
Brasil. Mas sem a mediação partidária", afirmou. Ele nega interesse em
disputar eleições. "Minha trajetória de vida no plano da ocupação ortodoxa
de cargo público já está de bom tamanho." A reportagem não conseguiu
contato com Joaquim Barbosa.
'Do bem'
Um dos principais
articuladores de Marina, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) admitiu que o
partido tem interesse em atrair integrantes do Judiciário. "Seria muito
bom se eles se envolvessem na política. Quanto mais gente do bem e menos
bandido na política, melhor. É melhor Joaquim Barbosa do que (o deputado
cassado Eduardo) Cunha. É melhor Deltan (Dallagnol, procurador da Lava Jato em
Curitiba) do que a turma do PMDB", disse.
Randolfe afirmou que a Rede
tem uma "vantagem comparativa natural" para atrair essas figuras.
"Com a agenda e a linha que defendemos, nenhum outro partido é tão
atrativo para eles quanto a Rede. Defendemos o fim do foro (privilegiado) e
apoiamos a Lava Jato", disse o senador, que foi relator na Casa da
proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata do fim do foro. Ele confirma
conversas com Joaquim Barbosa, mas disse que o ex-ministro ainda não
"acenou" com a possibilidade de entrar na política.
O senador ressaltou que a
Rede tenta convencer Marina a ser candidata a presidente em 2018. Ela, porém,
disse que ainda não decidiu. "Estou fazendo meu próprio discernimento no
diálogo com a Rede, com outras lideranças de outros partidos, para ver qual
melhor forma de contribuir com tudo isso", desconversou. Um desses
partidos é o PSB.
Segundo Randolfe, Marina
tem conversado sobre o assunto com o presidente do partido, Carlos Siqueira, e
a família Campos. Ele considera que, enfraquecido pela Lava Jato, o governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não deve ser candidato a presidente. Para
ele, isso fortalece uma aliança entre PSB e Rede, à medida que neutraliza a ala
da sigla liderada pelo vice-governador paulista, Márcio França (PSB), que
defende apoio ao tucano em 2018.
Viável
"A conversa se
aprofundou. A possibilidade de refazer a aliança com a Rede estava fora de
cogitação até a virada do ano, mas, hoje, pode se considerar com uma hipótese
bastante viável", afirmou o deputado Júlio Delgado (MG), da ala do PSB que
defende independência da legenda em relação ao governo Temer. Ele disse ter
conversado sobre o tema com Beto Albuquerque, vice-presidente da sigla, e com o
governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). "Eles veem com bons
olhos."
Delgado pontua que, caso o
PSB não evolua para uma candidatura própria, Marina é um dos campos políticos
com os quais muitos integrantes da direção do partido admitem conversar para
fazer aliança.
Outra possibilidade,
afirmou, é firmar acordo com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), pré-candidato
ao Planalto em 2018. A intermediação tem se dado por meio do governador do
Ceará, Camilo Santana, que cogita deixar o PT para se filiar ao PSB. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
UOL