Sábado, 13 de maio de 2017
CURITIBA (Reuters) - A equipe de procuradores
da operação Lava Jato não tem dúvidas de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva pode ser condenado por recebimento de propina no caso do apartamento
tríplex e considera que o depoimento de quarta-feira, comemorado pelos
advogados como uma vitória do ex-presidente, ajudou a acusação, disse à Reuters
uma fonte próxima ao assunto.
Um dos principais pontos que os procuradores
acreditam ter ajudado a acusação é o fato de que Lula confirmou a conversa com
ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que teria ocorrido em um
hangar de uma companhia aérea no aeroporto de Congonhas.
Em sua delação premiada, Duque diz que Lula
perguntou a ele se tinha contas no exterior e o havia orientado a não ter nada
em nome dele.
"Nos pegou de surpresa que ele
confirmasse. Não faz sentido um presidente que alegava não saber de nada o que
acontecia na Petrobras ter chamado um diretor para perguntar disso",
explicou a fonte.
No depoimento a Moro, o ex-presidente confirma
que encontrou Duque no aeroporto em São Paulo e o questionou, mas porque havia
reportagens falando em contas no exterior.
"A pergunta que eu fiz para o Duque foi
simples: 'Tem matéria nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no
exterior, está pegando da Petrobras'. Eu falei: 'Você tem conta no exterior?'
Ele falou: 'Não tenho'. Eu falei: Acabou'. Se não tem, não mentiu para mim.
Mentiu para ele mesmo", disse Lula no depoimento.
Os procuradores também estranharam o fato de
Lula simplesmente atribuir fatos a sua esposa, Marisa Letícia, morta no início
deste ano, ou dizer que desconhecia o que lhe era perguntado, mesmo quando se
tratava de documentos que foram encontrados em sua casa durante uma das fases
da operação Lava Jato, em 2016 --quando o ex-presidente também foi levado a
depor coercitivamente.
"Normalmente as pessoas vêm e dão uma
versão, mesmo que fantasiosa sobre os fatos. Ele nem mesmo isso fez, não tentou
construir uma versão para os documentos, nada. O que ele fez lá não faz o menor
sentido.", disse a fonte.
Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem
de dinheiro no caso do apartamento tríplex no Guarujá (SP). Os procuradores o
acusam de ter recebido o imóvel como propina da construtora OAS.
Segundo a acusação, Lula e Marisa Letícia
nunca assinaram a desistência do direito ao imóvel que tinham pela cooperativa
dos bancários, Bancoop, quando a obra foi assumida pela OAS, e nem pagaram a
diferença que os demais condôminos que optaram por continuar tiveram que pagar.
Ainda assim, mantiveram a opção de compra de um apartamento ainda maior do que
previsto originalmente, o hoje famoso tríplex.
A defesa de Lula alega que Marisa --a
proprietária original-- desistiu sim do apartamento porque Lula não quis ficar
e que todos os documentos relativos ao imóvel comprovam que ele sempre
pertenceu à OAS.
Lula disse ao juiz Sergio Moro, no depoimento,
que as negociações relativas ao apartamento foram feitas por Marisa, que era a
proprietária das cotas da Bancoop, e ele mesmo só foi ao apartamento uma vez e
não sabia das negociações.
"Isso foi um processo que se desenrolou
por quatro, cinco anos. Dona Marisa escondeu isso tudo dele durante todo esse
tempo?", questionou a fonte.
Lula é alvo de cinco ações penais, três delas
pela operação Lava Jato. A relativa ao apartamento no Guarujá é a que está em
fase mais adiantada e a sentença pode sair até o meio do ano.
Nesta quarta-feira se encerrou o prazo para a
Procuradoria apresentar pedidos de diligências complementares. Esta tarde, o
MPF pediu para acrescentar ao processo o depoimento de uma testemunha, Érica
Monteiro Malzone, ex-funcionária da OAS empreendimentos, que havia prestado
esclarecimentos em abril.
Em seu depoimento, Érica fala do projeto de
reforma para uma cobertura no edifício Solaris da qual tratou e de que há
indícios de que seria a destinada ao ex-presidente. Érica disse nunca ter
sabido o nome da pessoa para quem o projeto estava sendo feito, só que era um
cliente especial.
De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, entre 50 e 60
dias o processo deve estar pronto para ir à sentença de Sérgio Moro, e o MP irá
pedir sua condenação.
Por Lisandra Paraguassu, Reuters