Sábado, 27 de maio de 2017
Com Cafu como
embaixador, clube ganha título de conferência, tem investidor poderoso e vive
sonho de se unir a projeto ambicioso do ídolo inglês na MLS
Por
Thiago Quintella, Rio de Janeiro
Em janeiro de 2016, Adriano deu fim aos rumores de que
estaria aposentado. Quase dois anos após deixar o Atlético-PR,
o Imperador assinou contrato com o
Miami United, time semiprofissional dos Estados Unidos, na
intenção de retomar a carreira e ajudar na construção de uma imagem
internacional e crescimento do clube norte-americano. Porém, depois de apenas
duas partidas disputadas, ele voltou ao Brasil e deu fim à sua breve trajetória no dia
27 de maio. Se para o jogador a passagem passou longe de ser
marcante, para a modesta equipe foi o marco para chegar a um outro patamar,
como permitir o sonho de fazer parte do projeto de David Beckham na primeira
divisão do futebol do país.
Um ano depois da saída de Adriano, o Miami
United segue na National Premier Soccer League (NPSL), uma espécie de quarta
divisão dos Estados Unidos, atrás da Major League Soccer (MLS), North American
Soccer League (NASL) e United Soccer League (USL). Porém, o crescimento é
evidente. Foi campeão da Sunshine Conference e chegou à decisão do chaveamento
regional da liga - ficou com o vice. Com a campanha, se classificou à US Cup -
que reúne times de todas as divisões - passou da primeira fase, mas caiu na
rodada seguinte para o Jacksonville Armada, equipe da segunda divisão, perdendo
por 2 a 1, de virada.
Adriano participou do jogo
com o Las Vegas City, que teve Ronaldinho; ao centro, o CEO do Miami United,
Roberto Sacca (Foto: Divulgação)
Não só dentro de campo, mas toda a repercussão durante a
passagem e o pós-Adriano gerou frutos também na parte financeira. Com maior
visibilidade internacional, o Miami United conseguiu atrair o investimento do
grupo Nasur, do Chile. O dono, Miguel Nasur, já foi membro da Fifa, presidente
da Federação de Futebol do Chile, e adquiriu parte do clube norte-americano,
assumindo também a presidência. O italiano Roberto Sacca, fundador e atual CEO,
creditou ao Imperador o sucesso atual e conta que tentou trazê-lo novamente
para a atual temporada.
- Claro que temos saudades do Adriano. Não
podemos dizer nada de ruim dele, nos ajudou muito a nos colocar no mapa
mundial. Claro que a gente queria que ele ficasse aqui. A gente acreditava
muito nele. Mas, ele seguramente não estava confortável, não se sentiu bem para
voltar a jogar futebol. Não deu certo, mas ele sempre vive no coração da gente.
O que o Adriano fez para gente é inesquecível, foi histórico (...) A gente
chegou a entrar em contato com ele esse ano, o grupo Nasur queria contar com
ele, mas ele não quis retornar. Acho que ele não quer mais voltar ao futebol -
disse Roberto Sacca em entrevista ao GloboEsporte.com.
Após a volta de Adriano ao Brasil, ficou a
dúvida se ele continuaria recebendo do clube, uma vez que tinha vínculo até março de 2017 e com
participação em 50% de todas as receitas do Miami United. Sacca,
no entanto, esclareceu que, desde que houve um rompimento por parte do
Imperador, esse contrato deixou de valer. Apesar de ter ficado
"desapontado" com a saída do ex-camisa 9 da Seleção, o CEO elogiou
sua postura e disse que foi uma das melhores pessoas que conheceu na vida.
Julio Cesar de León, o
Rambo, passou a ser a principal estrela e artilheiro do Miami United (Foto:
Divulgação)
O Miami United, no entanto, segue com o projeto de
contratar medalhões do futebol internacional para aumentar sua visibilidade.
Hoje, conta no elenco com Julio Cesar
"Rambo" de León, que atuou pela seleção de Honduras e
chegou ainda na época de Adriano. Além dele, Roberto Sacca tem tentado - sem
sucesso - um acordo com ídolo argentino Riquelme. Os laços do clube com a
Argentina são enormes e até a torcida organizada se chama "La 12",
inspirada justamente na torcida do Boca Juniors, de mesmo nome.
- A gente tratou com o Riquelme, ainda
estamos conversando para ver se conseguimos trazer ele para jogar um jogo. Ele
não quer mais voltar ao futebol, eu falei com o irmão dele, que é o empresário
dele, mas ele não quer voltar. A comunidade argentina, como a brasileira, é
enorme aqui em Miami e a maioria é fanática pelo Boca Juniors. Uns 70% são
torcedores do Boca Juniors. Seria um presente para a comunidade argentina,
trazendo um jogador histórico como o Riquelme - afirma Sacca.
Roberto Sacca com a chave
da cidade, Tomás Regalado (prefeito de Miami), Miguel Nasur e Cafu durante
cerimônia (Foto: Divulgação)
O sonho de uma união com David Beckham
O maior salto do Miami United, porém, seria
participar da MLS. Um sonho distante, mas não impossível graças a David
Beckham. O ídolo inglês tem uma franquia garantida na maior liga
norte-americana a partir de 2021, atualmente chamada de "Miami Beckham
United". Por enquanto, a participação da equipe ainda está pendente da
aprovação da construção de um estádio para 25 mil pessoas na área de Overtown,
em Miami.
Estádio do clube de David
Beckham já tem projeto e carece de aprovação (Foto: Divulgação
Os dirigentes do pequeno clube de Miami monitoram a
situação de Beckham. Caso consiga a aprovação para construir o estádio - o
terreno já foi comprado - o passo seguinte seria começar a montagem de um elenco
e definir um nome para a franquia. E é aí que o Miami United pretende entrar na
jogada. A equipe poderia vir a se fundir ao projeto do astro inglês, cedendo o
nome e passando a se tornar como uma espécie de base.
- A ideia é fazer uma parceria com o
Beckham, juntar forças. Esse ano somos um grupo muito forte e teríamos um poder
econômico para ajudar o projeto do Beckham. Eu sei que o Beckham quer o nome do
Miami United. Ele jogou no Manchester United, ele quer o nome do nosso time.
Podemos fazer uma grande parceria para colocar nosso time na MLS (...) O
Beckham já comprou o terreno de três acres (cerca de 12.000 m²). No total,
seriam nove acres no Overtown, uma zona histórica de Miami. Seria um estádio
para 25.000 pessoas, no centro da cidade, como requer a MLS. Nós esperamos
poder fazer parte de tudo isso.
Cafu
é embaixador do clube; seu filho, jogador
Além de Adriano, o Miami United mantém
laços com outro grande ídolo do futebol brasileiro. Em abril, o ex-lateral
direito Cafu recebeu uma homenagem e foi nomeado embaixador internacional do
clube. Na ocasião, o presidente Miguel Nasur e o CEO Roberto Sacca receberam a
chave da cidade, um reconhecimento público da importância da equipe para as
autoridade e a comunidade local.
A ligação com Cafu também acontece através
de seu filho, Wellington. O atacante, com histórico de lesões no joelho, passou
pela divisão de base do Milan, chegou a negociar com o Atlético-PR e atuou no
Brasil no Grêmio Osasco, seu último clube antes de chegar ao Miami United, em
fevereiro de 2016. Atuou ao lado de Adriano e notou esse crescimento mundial no
clube.
Filho de Cafu, Wellington
está há mais de um ano no Miami United (Foto: Divulgação)
Wellington, no entanto, é exceção no elenco do Miami
United. Enquanto ele vive exclusivamente para o futebol, com contrato e visto
de trabalho do clube, uma grande parte dos jogadores têm outros empregos. Os
treinos e partidas do clube acontecem apenas à noite ou nos fins de semana para
que todos possam seguir suas carreiras fora dos gramados.
- Tem muito sim (jogadores que trabalham
fora do Miami United). Não só no nosso clube, mas nos outros acontece também.
Como é uma liga semiprofissional, tem muitos jogadores que saem de férias da
escola, da faculdade, e vêm jogar esses três meses. Tem muito disso. E tem
muita gente também que trabalha e joga. As nossas atividades se adaptam a isso,
são sempre à noite (...) Tem um pouco de tudo. Eu não fico perguntando muito
também porque cada um tem seu trabalho, tem suas coisas. Eu chego lá, treino,
converso, mas a vida pessoal de cada um eu não sei muito bem - afirmou o
jogador.
Apesar do pouco tempo de convivência com o
Adriano, Wellington lembra com carinho da passagem do ex-camisa 10 pelo Miami
United. E espera que o clube seja apenas uma ponte para retornar ao Brasil ou
seguir para outra equipe dos Estados Unidos.
- É uma honra ter jogado ao lado dele
(Adriano). Um cara experiente, sensacional. Realmente foi uma passagem curta,
ele não se adaptou aqui, campo sintético, tudo bem diferente do que ele está
acostumado. A repercussão do Miami United cresceu muito depois que o Adriano
veio para cá (...) Estou pensando em algo melhor aqui nos EUA mesmo, na
primeira ou segunda divisão, alguma coisa assim. Ou até mesmo fora dos EUA.
Como eu fiquei muito tempo parado, esse ano precisava voltar a treinar para
melhorar algumas coisas que estavam faltando para, quando terminar o campeonato
aqui, se aparecer alguma coisa, eu estar preparado para voltar a jogar.
Globo Esporte