Domingo, 04 de junho de 2017
Rocha Loures é apenas um dos homens
próximos a Temer a perder o cargo por conta da Lava Jato
Romero Jucá, José Yunes e Tadeu
Filippelli também foram atingidos pela operação
Michel Temer gesticula ao lado de Rodrigo Rocha Loures durante ato em maio de 2014 em Curitiba. Getty Images
"Eu duvido que ele
faça uma delação. E duvido que ele vá me denunciar", especulou o
presidente Michel Temer em entrevista publicada pela revista Istoé horas
antes de o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures ser preso pela Polícia Federal em Brasília. Quando Temer concedeu a
entrevista, Loures, a quem o presidente se referia como "uma pessoa
decente", ainda não havia sido preso. O peemedebista, que completou em maio um ano no comando do país, disse
que Loures não tem motivo para delatá-lo, "porque não seria verdade",
mas emendou: "Nunca posso prever o que pode acontecer se eventualmente ele
tiver um problema maior, e se as pessoas disserem para ele, como chegaram para
o outro menino, o grampeador (Joesley): 'Olha, você terá vantagens tais e tais
se você disser isso e aquilo'. Aí não posso garantir".
É nessa situação de incerteza que o presidente vai enfrentar no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) na próxima terça-feira o processo que pode cassar a
chapa em que foi eleito junto com a ex-presidenta Dilma Rousseff. Essa
incerteza se soma à sensação de que os investigadores da Operação
Lava Jato vão se
aproximando cada vez mais de Temer, já constrangido publicamente pela
divulgação de uma gravação em que manteve conversa pouco republicana com o empresário Joesley Batista, do
grupo J&F. Tido como "homem de confiança" do
presidente, Rocha Loures foi preso neste sábado após ser flagrado pela polícia
correndo com uma mala de dinheiro, já entregue à polícia.
Loures não é o primeiro homem
próximo a Temer a cair nas teias da Lava Jato. Desde o início de seu Governo, o
presidente vem assistindo a assessores ou políticos próximos sucumbirem às
investigações. O primeiro deles foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi forçado a deixar o Ministério do Planejamentologo nos
primeiros dias de Governo, por conta da publicação de gravações feitas pelo
ex-senador Sérgio Machado. Meses depois, seria a vez de Geddel Vieira Lima,
muito próximo a Temer, deixar a Secretaria de Governo após polêmica com o então ministro da
Cultura, Marcelo Calero. Essa baixa, pelo menos, não se pode atribuir à Lava
Jato.
Apenas um mês depois de Geddel
ser abatido por fogo amigo, o assessor especial da presidência José Yunes
renunciaria ao seu posto Governo após seu nome ser citado em delação de um ex-diretor da
Odebrecht. Mais recentemente outro assessor de Temer foi exonerado,
mas apenas depois de ser preso. Tadeu Filippelli foi detido sob a acusação de
participar de um esquema de corrupção nas obras de reforma do Estádio Mané
Garrincha, em Brasília, para a Copa do Mundo. Esses dois foram diretamente
afetados pela maior operação policial da história do Brasil.
É nessa situação, cercado por
todos os lados, que o presidente, cuja investigação foi autorizada pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Edson Fachin, enfrenta nesta semana o
TSE. Para aqueles que acreditam que o veredicto da corte dependerá da força
política do presidente no momento do julgamento, a notícia de que um dos
assessores mais próximos de Temer foi preso não é alvissareira para o chefe do
Palácio do Planalto. Ainda mais quando o próprio presidente demonstra receio em
relação a uma possível delação premiada de Rocha Loures.
EL PAÍS