Domingo, 04 de junho de 2017
Um peixe sem face e outras criaturas
estranhas e maravilhosas, entre elas muitas espécies novas, foram capturadas
nas águas profundas da Austrália durante uma viagem científica que estudou
partes do oceano nunca antes exploradas.
A viagem de um mês ao longo da costa leste do
país examinou a vida em um abismo escuro e frio quatro quilômetros abaixo da
superfície do mar, usando redes, sonares e câmeras de profundidade.
O cientista líder a bordo, Tim O'Hara, dos
Museus Victoria, disse à AFP nesta quarta-feira que a área de busca era "o
ambiente mais inexplorado na Terra".
Exemplares incomuns como caranguejos
espinhosos e aranhas-do-mar cegas foram recolhidos desde que os cientistas
começaram sua viagem - de Launceston, na Tasmânia, para o norte, em direção ao
Mar de Coral -, em 15 de maio.
Eles também encontraram um peixe sem rosto,
que só havia sido registrado uma vez anteriormente, em 1873, pela equipe
científica pioneira da expedição HMS Challenger, em Papua Nova Guiné.
"Não tem olhos nem um nariz visível, e a
boca está embaixo", disse O'Hara a partir do navio.
Em tais profundidades, é tão escuro que as
criaturas muitas vezes não têm olhos ou produzem sua própria luz através da
bioluminescência, acrescentou.
Outro achado foram esponjas carnívoras que
usam espículas letais feitas de silício. Elas obtêm pequenos crustáceos que
ficam enganchados em suas espinhas, para serem lentamente digeridos in situ.
Esta técnica difere da utilizada pela maioria
das esponjas que vivem em profundidade, que se alimentam de bactérias e outros
organismos unicelulares filtrados de correntes passantes.
"Nós temos 27 cientistas a bordo que são
líderes em seus campos e eles me dizem que cerca de um terço do que encontramos
são novas espécies", disse O'Hara. Milhares de espécimes foram recuperados
até agora, a duas semanas do fim da viagem.
Em tais profundidades, com pressões
esmagadoras, sem luz, pouca comida e temperaturas muito baixas, os animais
desenvolvem maneiras únicas de sobreviver.
Como a comida é escassa, eles geralmente são
pequenos e se movem devagar. Muitos são gelatinosos e passam suas vidas
flutuando, enquanto outros têm espinhas e presas ferozes e esperam até que a
comida chegue até eles.
Os dados recolhidos ajudam a melhorar a
compreensão dos habitats do fundo oceânico da Austrália, sua biodiversidade e
os processos ecológicos que os sustentam, disse O'Hara.
"Isso
ajudará na sua conservação e manejo e ajudará a protegê-los contra os impactos
das mudanças climáticas, poluição e outras atividades humanas", completou.
AFP