Sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Em 1992, um grupo de
1.700 membros da “Union of Concerned Scientists”, uma organização sem fins
lucrativos dedicada ao estudo do impacto das sociedades no mundo natural,
lançaram uma carta aberta ao mundo para alertar que os seres humanos estavam
“em um curso de colisão com a natureza“.
O primeiro parágrafo
dessa carta dizia: “As atividades humanas infligem danos severos e, muitas
vezes, irreversíveis ao meio ambiente e em recursos críticos. Se não
observarmos que muitas das nossas práticas atuais colocam em risco o futuro que
desejamos para a sociedade humana e os reinos vegetais e animais, isso pode
alterar o mundo vivo a ponto dele se tornar incapaz de sustentar a vida da
maneira que conhecemos. Mudanças fundamentais são urgentes se quisermos evitar
a colisão que o nosso curso atual trará”.
No aniversário de 25
anos dessa carta, 15 mil cientistas de 184 países assinaram um segundo alerta
para a humanidade. Capitaneado pelo ecologista William Ripple, da Universidade
Estadual de Oregon, nos EUA, o texto afirma que “a humanidade não conseguiu
fazer progressos suficientes na resolução geral dos desafios ambientais
previstos e, de forma alarmante, a maioria deles ficou muito pior. Em breve,
será tarde demais para mudar o curso da nossa trajetória falha”.
Publicada no dia 13
de novembro na revista BioScience, a mensagem dilui a ilusão de que dispomos de
uma eternidade para mudar o curso de nossas ações. Em vez disso, alerta que
nossos filhos, netos e bisnetos sofrerão consequências dos desmandos sobre o
meio ambiente, como escassez de água e alimentos, aumento do nível do mar,
secas e enchentes severas que ameaçam a vida no Planeta.
“O bem-estar humano
será gravemente prejudicado pelas tendências negativas de danos ambientais,
como o clima em mudança, o desmatamento, a perda de acesso à água doce, a
extinção de espécies e o crescimento da população humana”, advertem os
cientistas no artigo. Os autores compilaram dados de artigos científicos,
agências governamentais, organizações sem fins lucrativos e pesquisadores
individuais.
Desde o primeiro
aviso, o cientistas observaram piora em vários indicadores ambientais. Em 25
anos, verificou-se uma redução de 26% na quantidade de água fresca disponível
por habitante, queda na disponibilidade de recursos pesqueiros nos oceanos, um
aumento de 75% no número de zonas mortas nos oceanos, perda de cerca de 300
milhões de hectares de floresta (grande parte convertida para uso agropecuário)
e disparada das emissões globais de gases efeito estufa.
“Especialmente
preocupante é a trajetória atual das mudanças climáticas potencialmente
catastróficas devido ao aumento de gases de efeito estufa da queima de
combustíveis fósseis , desmatamento, e produção agrícola, particularmente de
ruminantes para consumo de carne“, diz o texto.
Na carta, os
cientistas também alertam para extinção em massa que o mundo atravessa — “a
sexta em cerca de 540 milhões de anos, em que muitas formas de vida atuais
poderiam ser aniquiladas até o final deste século”. Em 25 anos, houve aumento
de 35% na população humana e redução total de 29 por cento no número de
mamíferos, répteis, anfíbios, aves e peixes.
O aviso veio com sugestões
de medidas que podem ser tomadas para reverter as tendências negativas. O
autores esperam que elas aumentem a pressão pública para que líderes políticos
abracem essa agenda. A lista inclui a criação de reservas naturais terrestres e
marinhas, a redução do desperdício de alimentos, o desenvolvimento de
tecnologias mais ecológicas e o estabelecimento de incentivos econômicos para
mudar os padrões de consumo (como adoção de dieta baseada em vegetais), uso
massivo de energia renovável e combate mais enérgico às emissões de gases de
efeito estufa.
Apesar do cenário
nebuloso, os autores ressaltam que o progresso observado em algumas áreas –
como a redução das emissões de produtos químicos que destroem a camada de
ozônio e o aumento da energia gerada a partir de fontes renováveis - mostra
que mudanças positivas podem ser feitas.
Antevendo eventuais
críticas, como a de serem taxados de “alarmistas”, os autores pontuam que “os
cientistas analisam dados e consequências a longo prazo. Aqueles que assinaram este
segundo aviso não estão levantando um alarme falso. Eles estão reconhecendo os
sinais óbvios de que estamos indo para um caminho insustentável”. E concluem:
“Esperamos que o nosso artigo inicie um amplo debate público sobre o ambiente e
o clima globais”.
Exame