Domingo, 12 de novembro de 2017
"A região está passando por uma situação bastante caótica e
pouco clara no que se trata desses acontecimentos, e os EUA se aproveitam,
logicamente, da instabilidade", afirmou o analista Raúl Zibechi sobre o contexto
no qual se realizam os exercícios militares Amazon Log 2017, que pela primeira
vez deram o acesso de tropas estadunidenses à Amazônia.
Entre 6 e 13 de
novembro, cerca de 1.500 soldados brasileiros, 150 colombianos, 120 peruanos e
30 americanos participam das manobras polêmicas, rejeitadas pelas Forças
Armadas do Brasil, pois estas entendem que isso implica começar a renunciar ao
controle do principal reservatório de biodiversidade perante os americanos.
Com 5 milhões de
quilômetros quadrados, 60% da Amazônia fica no Brasil.
"O exército
brasileiro sempre foi e continua sendo muito zeloso em relação à soberania e
controle da Amazônia. Nesse sentido, a presença de militares dos EUA neste
território gerou uma rejeição muito importante por parte das Forças Armadas: ‘O
controle cabe aos brasileiros e isso é algo que está fora de questão",
explica Zibechi à Sputnik Mundo, falando do impacto geopolítico de iniciativas
como o Amazon Log 17.
Ademais, o analista
caracterizou o contexto nacional que rodeia as respectivas manobras, ou seja, a
política do atual governo brasileiro, destacando que é um governo que
"está privatizando esta [a Amazônia] em massa", e sobretudo permite o
acesso de empresas internacionais aos recursos naturais do país, inclusive o
pré-sal.
"Os recursos
naturais têm uma relação direta com a soberania nacional porque não se trata de
conservacionismo puro: trata-se de reafirmar a soberania sobre os recursos,
água, biodiversidade, questões nas quais as empresas norte-americanas tiveram e
têm um interesse especial. Não é uma questão menor, é um tema muito
forte", advertiu o especialista.
"É uma zona
estratégica para o Brasil, sobretudo porque é a tripla fronteira entre Peru,
Colômbia e Brasil, é uma zona amazônica, de forte crescimento populacional, com
forte migração da Venezuela. […] É uma zona equatorial, o que significa tudo o
que tem a ver com a esfera aeroespacial, esta zona será sempre apreciada por
todas as potências", resumiu, adiantando que a região, acima de tudo,
sempre foi muito rica em recursos minerais, inclusive raros, o que tem
provocado inúmeros conflitos entre várias nações.
Jornal do Brasil