Terça-feira, 14 de novembro de 2017
A um ano das eleições, os sinais de
que a recessão ficou para trás tornam-se cada vez mais claros no Brasil. O
desemprego começa a recuar, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou dois
trimestres consecutivos de alta e o comércio voltou a tomar fôlego.
O desempenho
desses indicadores nos próximos 12 meses será decisivo para definir o desfecho
do pleito presidencial. Quanto mais forte o ritmo de retomada da economia, diz
a consultoria Economist Intelligence Unit (EIU), maiores as chances de
candidatos centristas, mais alinhados ao mercado.
Isso porque,
depois de dois anos de crise, os brasileiros não estariam dispostos a colocar
em risco uma eventual recuperação do poder de compra, do consumo e o aumento da
sensação de bem-estar apostando em candidatos com discurso mais radical - à
esquerda ou à direita -, avalia Fiona Mackie, diretora regional para a América
Latina da EIU.
"Quanto
mais clara a recuperação, mais pragmáticos tendem a ser os eleitores",
ressalta.
A
análise sobre o Brasil consta em um relatório sobre o panorama eleitoral da
América Latina em 2018 que a consultoria, parte do grupo que publica a revista
The Economist, divulga nesta terça-feira.
Nesse
cenário, o partido que mais se beneficiaria seria o PSDB, ela diz - hoje, o
mais cotado para disputar a Presidência pelo partido é o governador paulista,
Geraldo Alckmin (PSDB).
Mackie
reconhece que escândalos de corrupção e as polêmicas envolvendo o senador Aécio
Neves complicam a trajetória do partido, mas diz que o alinhamento com a atual
agenda econômica e com a continuidade das reformas conta a favor.
Os não políticos
Nesse
sentido, também crescem as chances do atual ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles. De um lado, há o precedente importante do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, titular da pasta na gestão de Itamar Franco, diz a cientista
política, entre 93 e 94. "Há similaridades, mas também muitas diferenças.
Meirelles não tem tanta experiência política nem tanto carisma", ela
ressalva.
Meirelles,
assim como outros "outsiders" - entre os nomes não alinhados ao
status quo da política já apareceram o do apresentador Luciano Huck e o do
presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro -, tem ainda a desvantagem de não
contar com a máquina política de que dispõem os partidos tradicionais, que
Mackie considera importante na batalha para conquistar os eleitores que estão
fora dos principais centros urbanos.
"Sem
ela seria difícil até para Marina Silva", afirma.
Bolsonaro e Lula
As chances
de um segundo turno com candidatos considerados populistas, com discurso mais
radical à direita e à esquerda - Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, nessa ordem - são pequenas, na avaliação de Mackie. "Esse
seria o pesadelo do mercado", comenta.
Ambos têm
nível de rejeição elevado, pondera ela, e ainda há dúvida sobre a viabilidade
da candidatura de Lula, que aguarda decisão em segunda instância da condenação
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro anunciada em julho.
O cenário
mais provável, diz a diretora da consultoria, é um segundo turno com um
candidato populista e um de centro, com vitória deste último. "Essa será
provavelmente a disputa mais aberta que o Brasil já teve", ela destaca.
Quem quer
que vença a disputa, ela lembra, vai herdar a tarefa reconhecidamente
desafiadora de controlar a deterioração das finanças públicas e o aumento da
dívida pública, o que passa por uma impopular Reforma da Previdência e por
medidas de arrocho fiscal.
A projeção
da EIU para o PIB de 2018 é de 2,3%, após alta de 0,7% esperada para este ano.
A inflação deve acelerar ligeiramente, permanecendo em patamar baixo, de 3,5%
na média do ano e de 4% nos 12 meses encerrados em dezembro.
Os salários
devem avançar cerca de 3% em termos reais, com retração do desemprego, de 12,5%
neste ano para 11,9%, em média.
Esses dois
indicadores, ressalta Mackie, são aqueles que os analistas observam com
atenção, porque geralmente antecipam o comportamento dos eleitores. "Eles
traduzem a situação do poder de compra e do consumo", explica a cientista
política.
BBC Brasil