Domingo, 03 de dezembro de 2017
A presidente
do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou neste domingo (3) que a consolidação de
Luiz Inácio Lula da Silva em primeiro lugar na corrida
presidencial de 2018 se deve "aos resultados de seu governo" e que os
críticos ao ex-presidente migraram o voto para Jair Bolsonaro (PSC) por
considerá-lo o candidato "com mais condições de vencer" o petista.
"As pessoas analisam o que
elas já viveram e comparam. Elas tinham renda e emprego, hoje voltou a pobreza
e a miséria", disse Gleisi à Folha.
Para ela, Lula é a opção oposicionista ao governo de Michel Temer
que tem "a confiança do povo". "Se é para ser crítico ao atual
governo, melhor que seja alguém que já fez, que já governou", completa a senadora.
Pesquisa divulgada este fim de semana mostra que Lula fortaleceu
sua liderança e Bolsonaro está isolado em segundo lugar na disputa pelo Palácio
do Planalto.
"É importante deixar claro que Lula não tem unanimidade. Os
contrários ao Lula migram para Bolsonaro porque veem que ele é o candidato que
combate Lula que hoje tem mais condições de ganhar. Querem ser um eleitor
útil", argumenta a senadora.
De acordo com a pesquisa, Lula ganha em todos os cenários de
segundo turno. Ele ampliou em quatro pontos percentuais sua vantagem em relação
ao levantamento anterior, feito no fim de setembro, no confronto com Geraldo
Alckmin (PSDB) –52% a 30%–, Marina Silva (Rede) –48% a 35%–, e Bolsonaro, 51% a
33%.
A candidatura de Lula pode ser barrada se ele for condenado na
segunda instância da Lava Jato por corrupção -em julho, o juiz Sergio Moro
sentenciou o ex-presidente a nove anos e seis meses de prisão. Se a condenação
for confirmada, ele fica inelegível, mas pode recorrer da decisão.
O PT acredita que o ex-presidente poderá concorrer nesse cenário
de recurso a tribunais superior.
A presidente do PT disse ainda que
não concorda com a avaliação de que há uma polarização entre dois extremos, com
Lula e Bolsonaro na ponta da disputa, e que um nome de centro pode surgir para
furar esse embate.
"Lula não é um extremista, ela já governou esse país. Me diga
que ato extremo ele já fez", afirma a petista.
Segundo ela, um candidato do governo, de centro-direita, ou até
mesmo o nome de Alckmin terá que "se consolidar com os números
ruins", visto que "a economia não melhorou e o povo está sentindo
isso".
O Datafolha mostra que o brasileiro está preocupado com a economia
e que a aprovação do governo Temer ainda segue na casa dos 5%.
PLANALTO
Os principais auxiliares de Michel
Temer admitem que ainda há uma "sensação de mal estar" da população
em relação à economia, mas tentam minimizar a dificuldade do presidente em
melhorar o desempenho
de seu governo.
Na avaliação de assessores de Temer, a melhora na economia –que
pode ser a alavanca para uma possível candidatura do governo em 2018– será
sentida pelos brasileiros nos três primeiros meses do ano que vem e, com isso,
a popularidade do presidente pode subir, acreditam esses auxiliares, pelo menos
até a casa dos 10%.
Até lá, a estratégia do governo é continuar divulgando os dados da
economia que apontam queda da inflação e dos juros e também, mesmo que ainda
tímida, dos índices de desemprego.
O Palácio do Planalto acompanhou os dados divulgados pelo
Datafolha em relação à disputa presidencial do ano que vem com cautela.
Ministros dizem que, apesar da consolidação de Lula e Bolsonaro em
primeiro e segundo lugar, respectivamente, ainda há espaço para um nome de
centro "furar" a polarização entre ambos. Nas palavras de um auxiliar
do presidente, a disputa ainda está longe e "há muita gordura para
queimar".
ALCKMIN
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta se colocar como a
opção de centro-direita, ainda não deslanchou –aparece com 7% ou 9% das
intenções de voto.
Diante desses dados, o Planalto acredita que é possível viabilizar
um nome apoiado por Temer e pelo chamado centrão para ocupar esse espaço. O
ministro Henrique Meirelles (Fazenda) é o mais cotado para o posto, mas aparece
apenas com 1% ou 2%.
Para o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, o percentual
do governador paulista é o mesmo que teria "qualquer nome do PSDB
agora" e os números mostram que a candidatura de Alckmin ainda tem que ser
trabalhada.
Na simulação do Datafolha em que o nome de Alckmin é substituído
pelo do prefeito paulistano João Doria, que disputava a indicação tucana, o
desempenho é semelhante.
"Não é nada que entusiasme e nada que assuste", diz
Goldman sobre o resultado do Datafolha. "O Brasil ainda não sabe que ele
[Alckmin] é candidato, essa expressão é do percentual partidário do PSDB."
Goldman avalia que, além das inteções de voto em Lula e Bolsonaro,
há uma parcela do eleitorado que vota em um candidato de centro, que ainda não
está definido, e cujos cenários são mais perceptíveis nas simulações de segundo
turno.
Segundo ele, Alckmin será esse "candidato de um grupo grande
do centro que você percebe a existência quando faz o segundo turno".
Para o presidente tucano, a liderança de Lula já era esperada e
faz parte de um "patamar pessoal" que o ex-presidente tem e Bolsonaro
"capitalizou uma direita brasileira que sempre existiu e nunca teve por
onde se expressar", mas agora encontrou um canal por meio do deputado.
A reportagem procurou o deputado Jair Bolsonaro, por meio da
assessoria, que ainda não se manifestou sobre os resultados da pesquisa.
Folha de São
Paulo