Domingo, 15 de abril de 2018
Levantamento feito por economistas mostra que
famílias com renda acima de 20 salários mínimos ganham 38% da renda nacional
Desigualdade no Brasil é da oficial - Getty Images
As pesquisas reforçam, ano após ano, que o Brasil é um país
desigual. Porém, um levantamento mostra que a concentração de renda é ainda
mais alarmante do que as estatísticas oficias reportam.
Dados divulgados na quarta-feira
(11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam
que, em 2017, as famílias da classe A ganharam 22 vezes a renda das famílias
das classes D/E.
No entanto, esse abismo social
tem quase o dobro do tamanho - a diferença entre os extremos da pirâmide é de
cerca de 42 vezes.
Levantamento da Tendências
Consultoria Integrada com base em dados da Receita Federal mostra que, em 2016,
as famílias com renda mensal acima de 20 salários mínimos abocanhavam 38% da
renda nacional.
Já segundo os dados oficiais, da
Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios , a classe A detinha
apenas 14,9% da massa de renda.
Os economistas Adriano Pitoli e Camila Saito, responsáveis pelo
estudo, fizeram uma espécie de Pnad "ajustada" para chegar a um
número mais preciso sobre distribuição de renda. Para as famílias com ganhos de
até cinco salários mínimos por mês, foram utilizados os dados tradicionais da
Pnad.Já para a população que ganha acima desse valor, foram consideradas as
declarações de Imposto de Renda. Os dados de 2016 estão consolidados. Já o de
2017 é uma projeção com base no histórico, uma vez que as informações da
Receita referentes a 2017 só serão divulgados ao final deste ano.
— Apesar de já apontar enorme
desigualdade, a Pnad tende a subestimar os dados de renda, pois as pessoas não informam
corretamente o seu rendimento, diz Adriano Pitoli. Ele explica que a Pnad, por
ser declaratória, não mensura de forma precisa algumas fontes de renda, como
ativos financeiros, aluguéis e ganhos eventuais, como dividendos, indenizações
e FGTS.
A pesquisa aponta ainda que a
subestimação fica maior à medida que se avança na pirâmide. Nas famílias com
renda de cinco a dez salários mínimos por mês, a massa de renda ajustada pela
Receita é 25% maior do que a apurada pelo IBGE.
Entre os brasileiros que ganham
entre 20 e 40 salários mínimos, o número ajustado é mais que o dobro do oficial
- 159,6%. Já na faixa de brasileiros com ganhos acima de 160 salários, a
diferença é gritante - quase 120 vezes maior.
—A desigualdade se deteriorou
por conta da crise e o impacto é maior sobre as extremidades - os mais pobres e
os mais ricos, diz Pitoli.
Ele afirma que, se por um lado a
significativa participação de empregadores na classe A (27% dos chefes de
domicílio) possibilita reações mais agudas e rápidas em períodos de recessão ou
de recuperação, o elevado peso de servidores nesse estrato tende a atenuar esse
efeito. Além disso, a despeito das perdas com a crise, as classes mais altas
tiveram um grande ganho financeiro nesse período, uma vez que os juros estavam
em patamar elevado.
Mesmo a comemorada evolução da
massa de renda real em 2017 (2 3%), após dois anos de retração, esconde
desigualdade. Os empregadores foram os que tiveram maior queda de renda em 2016
(-6,8%), mas também, como apontou Pitoli, a mais rápida recuperação: alta de
12,4% no ano passado. Já entre os trabalhadores por conta própria, que
cresceram em meio à alta do desemprego, praticamente não houve melhora (0,1%).
Tamanho
do bolo
A pesquisa também mostra que o
País, apesar de mais desigual, é mais rico - com o ajuste, a massa de renda
total cresceu 50,4% em relação à apurada pelo IBGE.
— Apesar de o 'bolo ter
aumentado', a renda não foi acompanhada por crescimento econômico",
observa Marcelo Neri, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio
Vargas). "Nós já saímos da recessão, mas o desenvolvimento precisa vir da
produtividade partilhada - que cresce mais na base. E isso acontece com
educação e incentivo a pequenos negócios".
Estadão Conteúdo, com R7