Sábado, 09 de fevereiro de 2019
Em pesquisa, farelo de grilo contribuiu para a proliferação
de bactérias boas no aparelho digestivo
Insetos são ricos em nutrientes e amigos do meio ambiente (Foto:Ajcespedes/iStock/SAÚDE é Vital
O título desta matéria
deve ter provocado caretas em muita gente. Mas você não leu errado. Para a
nutricionista Valerie Stull, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados
Unidos, não há motivo para rejeitar insetos à mesa. “Eles são ricos em nutrientes,
geralmente deliciosos e sua agricultura traz benefícios ambientais”, lista a
estudiosa.
Recentemente, ela recrutou 20 adultos para uma experiência.
Durante 14 dias, uma parte provou um café da manhã “normal”, enquanto a outra
turma consumiu farelo de grilo em forma de bolinho ou shake. Depois, os grupos
inverteram os cardápios.
“Queríamos
confirmar se o consumo de grilos era seguro e tolerável. Esperávamos que sim,
considerando que as pessoas comem esses insetos ao redor do mundo. Mas a
intenção era ver isso clinicamente”, informa.
Além da questão da segurança, Valerie tinha a intenção de checar
se esse comportamento afetaria a saúde. Por isso, antes do processo e depois de
cada uma das intervenções, os cientistas coletaram sangue e amostras de fezes
dos voluntários – assim, daria para observar mudanças na composição sanguínea,
na função dos rins e alterações na microbiota.
Os resultados
Segundo a pesquisadora, o trabalho trouxe descobertas interessantes. Primeiro,
não houve sinal de toxicidade ou intolerância após o consumo dos grilos.
Mas o
bacana mesmo foi um aumento significativo de uma espécie de bactéria parceira
da nossa microbiota, a Bifidobacterium animalis. “Ela inibe agentes patogênicos
e protege contra a diarreia”, conta Valerie.
Suspeita-se
de que essas alterações estão associadas ao conteúdo expressivo de fibras
encontrado nos insetos. “É possível que essas substâncias ajam como
prebióticos, alimentando algumas das boas bactérias presentes na microbiota”,
explica a autora.
Evidências
também deram a entender que o consumo do farelo de grilo teria a capacidade de
reduzir uma inflamação sistêmica no organismo.
“Mas, por
favor, note que esse é um pequeno estudo piloto e o primeiro a olhar para o
consumo de insetos dessa maneira. O que esses dados nos mostram com certeza é
que precisamos de mais pesquisas nessa área”, pede a cientista.
Como surgiu o
interesse em insetos
Valerie conta que possui formação em saúde pública e nutrição, mas sempre
cultivou interesse especial em agricultura sustentável e no impacto da comida
no meio ambiente. Assim, nos últimos cinco anos, seu foco de estudo tem sido
especificamente a entomofagia – que é a prática de comer insetos.
“Eles são
fascinantes. Embora o homem os tenha consumido durante a história, e aproximadamente
2 bilhões de pessoas ao redor do globo tenham esse hábito hoje, as pesquisas
sobre o assunto são relativamente novas”, descreve Valerie.
Vantagens de todos os
lados
A cientista explica que os insetos são fontes de proteínas consideradas amigas
do meio ambiente. Isso porque eles precisam de menos espaço, ração e água do
que o gado tradicional.
Sem falar
que emitem menos gases de efeito estufa. Outra vantagem: a criação é de baixo
custo, o que não geraria produtos caros para o consumidor. Ela observa que os
grilos, por exemplo, gostam de espaços apertados e que cultivá-los
verticalmente faz sentido.
Por fim, o
principal: a maioria das espécies é rica pra valer em proteínas e outros
nutrientes. “E muita gente não sabe que eles contêm fibras, ao contrário de
outros produtos animais, como carne, frango e ovo”, acrescenta.
No Brasil,
ainda não há legislação aprovando e regulando o cultivo de insetos para consumo
humano. Mas, com tantas vantagens, quem sabe eles não aparecem no menu dos
restaurantes logo mais… E aí, você provaria?