Quinta-feira, 17 de outubro de 2019
Uma latinha de
alumínio de refrigerante produzida há mais de 20 anos foi encontrada na areia
da praia na Ilha das Palmas, em Guarujá, no litoral de São Paulo. A relíquia,
que segundo especialistas ficou vários anos no oceano até ser ‘devolvida’,
ainda mantém as cores originais e traz uma reflexão sobre o descarte de lixo no
litoral brasileiro.
O portuário Renato Lemos
Miranda, morador de Santos, encontrou a latinha de refrigerante enquanto estava
uma caminhada na região. “Ela estava entre as pedras, mais para o fundo. Usei
um pedaço de ferro, que deve ter chegado também com a maré, e puxei a latinha”,
conta.
A Pop Cola foi lançada em 1995 pela antiga Companhia Antarctica
Paulista. Com a fusão das cervejarias Brahma e Antarctica, em 2000, e que
resultou no surgimento da Ambev, o Pop Cola e o Pop Laranja foram retirados da
linha de produção.
Miranda conta que lavou a latinha e conseguiu ver a data de
validade: novembro de 1998. Ele ficou impressionado ao ver que, depois de
tantos anos, ainda era possível observar nitidamente as cores e a data do
refrigerante. “Fiquei até chateado, não é bacana. Fiz uma postagem nas redes
sociais para criar um pouco de senso nas pessoas sobre os impactos que causamos
na natureza”, disse.
Para Técia Bérgamo,
geógrafa e mestre em Tecnologia Ambiental, professora da Universidade
Metropolitana de Santos (Unimes), não há como apontar a origem da latinha e
qual o motivo de ela ter aparecido em Guarujá.
“Quando verificamos algum
tipo de resíduo ou lixo, percebemos de forma silenciosa que os oceanos estão
sofrendo. Sobre a origem, primeiramente, só pensamos na atividade humana, mas
tem a questão das inundações, que contribuiu para levar esse lixo para o mar,
os ventos, os rios poluídos. Além disso, nossa região tem as plataformas petrolíferas
e o transporte marítimo”, diz.
Segundo Tecia, a latinha não se corrói no oceano e leva mais de
mil anos até o processo final de decomposição. Para a geógrafa, o episódio
reflete na grande quantidade de lixo que é depositado no meio ambiente ao longo
de anos. Ela também alerta para as diversas fontes de impacto.
“Consequência disso é a perda de biodiversidade e a redução de
recursos. É resultado da má gestão dos resíduos sólidos nas cidades e a falta
de conscientização da população. Há necessidade de políticas públicas para que
nenhum material ou resíduo chegue nas praias. O mar está devolvendo o que ele
recebeu”, fala a professora.
Miranda resolveu levar a latinha para casa. Ela vai se juntar à
latinha de cerveja de 1995 que ele encontrou na Praia do Sangava, em Guarujá,
em 2015. O portuário pretende doar a latinha de refrigerante à alguma
instituição que realize ações de educação ambiental.
Ele tem como inspiração o
pai, já falecido, que realizava mutirões de limpeza e encontrava diversos
objetos, hoje expostos no Aquário de Santos. “Encontrar a latinha me fez
perceber o quanto nossos impactos podem ser negativos por tanto tempo”,
finaliza.
Por: G1 Santos