Terça-feira, 26 de novembro de 2019
Pesquisa nacional que usou dados biológicos
de brasileiros
Os brasileiros consomem, em
média, 9,34 gramas de sal por dia, o que representa quase o dobro do
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 5 gramas. Esta é uma
das conclusões de levantamento feito com a análise de sangue e de urina com
cerca de 9 mil brasileiros. A coleta foi feita entre 2013 e 2014 em 8.952
domicílios, durante a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013.
Segundo
a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), essa foi a primeira vez que um inquérito com
representatividade nacional coletou nos domicílios amostras biológicas para
realização de exames complementares, viabilizando que se estabeleçam parâmetros
nacionais para valores de referência laboratoriais.
O
estudo, que é uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Fiocruz, do Ministério da Saúde, a Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) e o Hospital Sírio-Libanês, apontou também que os homens
e os jovens são a maior parte dos que abusam do sal. Mas indica ainda que a
utilização elevada é de forma generalizada na população brasileira, em todas as
faixas etárias e níveis de escolaridade.
A
avaliação indicou que apenas 2,39% da pessoas pesquisadas estão dentro da faixa
recomendada pela OMS e têm consumo inferior a 5 gramas por dia. A maioria deste
grupo é de mulheres e de pessoas mais velhas. O consumo elevado de sal, mais de
12 gramas por dia, foi mais frequente em homens, 15,7% deles abusando do
consumo, do que em mulheres (10,8%). No grupo com escolaridade mais alta,
11,35% das pessoas tem o consumo elevado de sal, a menor proporção.
O
trabalho dos pesquisadores alerta para a necessidade dos programas de redução
de consumo chegarem a todas as subcategorias e não somente grupos específicos,
como portadores de hipertensão ou de doenças renais. O excesso de sal na
alimentação está associado à hipertensão e às doenças cardiovasculares, por
isso, um fator preocupante apontado na PNS é que a percepção do brasileiro
sobre o consumo elevado de sal é baixa. Apenas 14,2% dos adultos se referiram a
seu consumo como alto.
Exames
Os
exames laboratoriais com as amostras de sangue foram: hemoglobina glicada;
colesterol total e frações; sorologia para dengue; hemograma série vermelha
(eritograma) e série branca (leucograma); cromatografia líquida de alta
eficiência (HPLC) para diagnóstico de hemoglobinopatias; creatinina. E, com as
amostras casuais de urina, estimativas de excreção de potássio, sódio e
creatinina.
A
coordenadora da PNS 2013 e integrante do Laboratório de Informação e Saúde
(LIS), do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz,
Célia Landmann Szwarcwald, lembrou que o trabalho é importante também diante
das características do Brasil, um país marcado pela miscigenação, com uma
grande diversidade de raças, etnias, povos, segmentos sociais e econômicos.
“Esses valores de referência se tornam muito importante não só para o
diagnóstico mas também para o tratamento”, disse.
Para
a coordenadora-geral de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis do
Ministério da Saúde, Luciana Sardinha, o levantamento passa a definir os
estudos com base em dados específicos de brasileiros. “Na área de exames
bioquímicos para sangue e urina a gente usa referências de outros países e
amostras pequenas. Agora a gente tem amostras do Brasil, então, acho que é
muito relevante. Tem pesquisas que pegam dados de populações específicas como,
por exemplo, estudantes de medicina. Tem assim que a gente usa como referência.
Outra com pessoas de um certo local e a gente expande para o Brasil. É a
primeira vez que a gente tem dados de Brasil”, observou.
Luciana
Sardinha disse que o estudo permite também direcionar as políticas públicas
para as necessidades apontadas pelas análises. “É importante para induzir as
ações, fortalecer o que está se pensando como ações e programas do Ministério
da Saúde. A gente consegue pegar as informações e ver o que tem de
medicamentos, de preparar a atenção primária. Subsidia a ação do serviço
público de saúde”, disse à Agência Brasil.
A
professora e pesquisadora da UFMG, Deborah Malta, deu exemplos de efetividade
das análises. Segundo ela, a PNDS de 2006 achou prevalência de 29% de anemia
entre mulheres, mas na PNS de 2014/2015, a prevalência total era de 9,9% e em
idade fértil em torno de 11%. “Em uma década nós mudamos. Praticamente reduziu
para 1/3 a prevalência de anemia, em função de programas importantes que foram
adotados, por exemplo a fortificação da farinha e a suplementação de ferro para
crianças e gestantes. Esse é um exemplo muito prático de melhora de políticas
públicas de que a PNS aborda”, revelou.
Ampliação
O
trabalho realizado com a PNS 2013 tem perspectiva de ser ampliado. O
vice-diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, disse que na Pesquisa
Nacional de Demografia em Saúde (PNDS), que será colocada em campo em 2021 é
provável que o IBGE junto com a Fiocruz, o Ministério da Saúde e consórcio de
laboratórios que participaram do estudo, acrescentem a coleta de material
biológico também nessa pesquisa. “Foi uma primeira experiência e o IBGE tem
claro que na próxima investida, que deve acontecer por ocasião na PNDS, a gente
vai ter que assumir essa operação, ainda que a coleta seja feita com a parceria
de laboratórios, Ministério da Saúde, Fiocruz e UFMG. É importante que se leve
a campo essa coleta de material biológico para que a gente possa ter marcadores
mais precisos”, afirmou à Agência Brasil.
Segundo
Cimar Azeredo, a inclusão de coletas de dados biológicos de sangue e urina na
PNS era uma demanda antiga do IBGE. “Tentaram fazer isso com outras pesquisas
menores, fora do IBGE, mas não é uma tarefa trivial. Não é coletar informação.
É coletar material biológico das pessoas e elas têm que ter disponibilidade de
participar do processo. A população participando acaba ganhando com isso,
porque ao fazer exames passa a ter marcadores mais precisos”, destacou.
“O
Brasil é um país rico em informação de saúde e agora com esse material se torna
ainda mais rico”, pontuou.
Por: Cristina Indio do
Brasil - Repórter da Agência Brasil