Segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
De acordo com o MP-RJ, Flávio disse ter retirado R$ 793,4 mil de receita
nos três primeiros anos de atividade da loja de chocolates, inaugurada em 2015.
Os investigadores citam a “inexplicável desproporção na distribuição de lucros” da Bolsotini, “associada à coincidência do valor da diferença paga” a Flávio (Foto: Reprodução)
RIO - Além de
receber quase o dobro dos lucros da Bolsotini Chocolates e Café em relação a
seu sócio, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido/RJ) declarou uma retirada de
valores 82% acima do que a própria empresa relatou à Receita Federal, segundo
investigação do Ministério Público do Rio.
De acordo com o MP-RJ, Flávio disse ter
retirado R$ 793,4 mil de receita nos três primeiros anos de atividade da loja
de chocolates, inaugurada em 2015. Só que a própria Bolsotini informou, em
declarações de informações socioeconômicas e fiscais (DEFIS) relativas ao
Simples nacional, que Flávio obteve, na verdade, R$ 435,6 mil no período.
Segundo o MP, a Bolsotini não apresentou declaração de Imposto de Renda na
mesma época.
A investigação também aponta divergências nas
retiradas de Alexandre Santini, responsável por metade da sociedade com Flávio
Bolsonaro. De acordo com os documentos, Santini declarou lucros de R$ 288,9
mil, valor mais de R$ 24 mil abaixo da transferência que a Bolsotini informou à
Receita Federal.
Considerando os valores efetivamente retirados
pelos dois sócios, o MP conclui que Flávio obteve quase R$ 500 mil a mais do
que Santini nos três anos iniciais de atividade da loja. O valor equivale à
cota de participação que deveria ter sido paga por Santini na empresa. Por
outro lado, o MP não identificou aportes do sócio de Flávio até o fim de 2018.
Os investigadores citam a “inexplicável
desproporção na distribuição de lucros” da Bolsotini, “associada à coincidência
do valor da diferença paga” a Flávio Bolsonaro em relação a seu sócio, para
reforçar a suspeita de que Santini “possa ter figurado inicialmente nos
contratos como ‘laranja’”.
O MP aponta que o dinheiro da “rachadinha” —
quando os funcionários são coagidos a devolver parte do salário ao parlamentar —
foi lavado na loja de Flávio e em transação de imóveis. Ao todo, os promotores
suspeitam que o filho “01” do presidente Jair Bolsonaro tenha injetado recursos
ilícitos não declarados no total de R$ 2,27 milhões nesses dois meios.
De acordo com o MP, a loja apresentou uma
diferença de R$ 1,63 milhão entre o faturamento auditado pela administração do
shopping e o valor efetivamente recebido nas contas bancárias entre 2015 e
2018. Um aspecto inusitado na movimentação financeira da loja de chocolates
chamou a atenção dos promotores: apesar de a Páscoa representar o pico de
vendas do segmento, este aumento não refletiu nos depósitos em dinheiro na
conta da empresa. Os registros indicam inclusive que, em outros meses, as
quantias chegaram a ser maiores do que no período da Páscoa.
Por: O Globo