Sexta-feira, 22 de outubro de 2021
As
modelizações climáticas preveem uma atividade vulcânica intensa nas próximas
décadas, com repercussões no clima europeu.
O vulcão Fagradalsfall, na Islândia, entrou em erupção no último dia 19 de março, depois de 800 anos de inatividade. (Foto: Bjorn Steinbakk/Reprodução/YouTube)
Na Islândia, o vulcão Fagradalsfall, situado a quarenta quilômetros da
capital, Reykjavik, entrou em erupção no último dia 19 de março, depois de 800
anos de inatividade. As modelizações climáticas preveem uma atividade vulcânica
intensa nas próximas décadas, com repercussões no clima europeu. É o que mostra
o jornalista Samuel Turpin, que conversou com o vulcanólogo francês
Jacques-Marie Bardintzeff, durante uma reportagem no local, transmitida pelo
programa da RFI "C'est pas du vent".
A Islândia possui 200 vulcões. A maior parte deles, coberta de gelo,
está inativa, mas pode voltar a entrar em erupção devido ao aumento da
atividade sísmica provocada pelo aquecimento global. Um deles é o Vatnajökull,
situado no sudeste do país, com uma superfície de 8.390 km². Ele cobre seis
vulcões e 8% do território da Islândia.
"O aquecimento global pode derreter as geleiras", ressalta
Jacques-Marie Bardintzeff. "Com menos gelo e pressão sobre esses vulcões,
eles poderiam ser liberados da pressão superficial e entrar com mais frequência
em erupção. Conhecemos mais o impacto dos vulcões sobre o clima, mas o impacto
do clima sobre os vulcões ainda é objeto de discussões. É o que tentamos
modelizar", explica o vulcanólogo.
Erupções precedentes, como a do vulcão Pinatubo, de 1991, nas Filipinas,
mostraram que a quantidade de material expelida na atmosfera diminuiu a
temperatura em 0,5º C. Cinzas vulcânicas e dióxido de enxofre, transportados
para a estratosfera, criaram uma camada de partículas que, durante meses ou
anos, circundaram a Terra e refletiram parte dos raios solares, impedindo que a
radiação atingisse o solo.
Um exemplo de como as erupções vulcânicas podem afetar a atividade
humana é a nuvem de cinza do vulcão islandês Eyjafjallajökull. Em abril de
2010, ele provocou o maior caos na história mundial da aviação, paralisando o
tráfego aéreo europeu durante vários dias.
Mais de 100 mil voos foram cancelados e milhões de passageiros foram
prejudicados durante a primeira semana de erupção do vulcão. A cinza atingiu
todo o continente alguns dias depois e chegou a paralisar quase 100% do tráfego
aéreo, superando o caos após os atentados de 11 de setembro.
Uma erupção a cada cinco minutos Cerca de 32 vulcões estão atualmente
ativos na Islândia. Há, em média, uma erupção a cada cinco minutos no país. Os
islandeses aprenderam a conviver com os vulcões, desenvolvendo a Geotermia - a
energia proveniente do calor da Terra.
"Ela faz parte das energias renováveis, que é um desafio mundial. A
Islândia é um laboratório de Geotermia, que pode utilizada, por exemplo, nos
sistemas de aquecimento da capital Reykjavik, ou para o abastecimento de água
quente, o que gera uma grande economia para o país", avalia Jacques-Marie
Bardintzeff. A eletricidade também é produzida pelas centrais hidrelétricas,
graças aos muitos rios que cercam as geleiras islandesas.
O país também está no foco dos DataCenters para a estocagem de dados,
pela sua situação geográfica, o baixo custo energético e a excelente rede de
fibras óticas. A questão suscita debates sobre a poluição digital que,
justamente, requer um consumo energético elevado, que contribui para o
esgotamento dos recursos naturais e a emissão de gases poluentes. O setor é
responsável por cerca de 5% das emissões, que devem triplicar até 2050 e poluem
mais do que o tráfego aéreo.
Turismo vulcânico
A Islândia também é um destino atraente para os adeptos do turismo
vulcânico. "A atração provocada pelos vulcões é impressionante e um
turismo se desenvolveu em torno disso", diz Sylvain, entrevistado pela RFI
enquanto passeava com um grupo de turistas. Ele organiza viagens pelo país e
fundou a agência "80 dias de viagem", em referência à obra de Jules
Verne, "A Volta ao Mundo em 80 Dias", publicada em 1872.
"Meu papel é acompanhar as pessoas o mais perto possível das
erupções. Sob esse ponto de vista, a Islândia é um país muito rico. Há erupções
com frequência e muitas paisagens vulcânicas que oferecem possibilidades de
viagem e de turismo que são extraordinárias", declara.
Assim como os japoneses estão acostumados aos terremotos, os islandeses
estão habituados às erupções, que são recorrentes. À medida que o vulcanólogo e
o repórter se aproximam do ponto de observação mais alto do vulcão
Fagradalsfall, o calor da cratera vai ficando mais intenso. "Esse vulcão mostra
que a Terra está viva, que ela vive, que ela treme, às vezes provoca tremores,
cria vulcões, cria cadeias montanhosas, oceanos. Sem vulcões, a Islândia não
existiria. Tudo foi feito pelos vulcões. Talvez alguns ouvintes imaginem que as
rochas sempre são velhas, mas estamos assistindo ao nascimento de rochas mais
jovens do que a gente", finaliza.
Por: RFI