Sábado, 05 de março (03) de 2022
Curativo de baixíssimo custo,
moldável ao tamanho da lesão, e que dispensa reposição constante, funciona por
meio da liberação controlada do fármaco Aciclovir
Foto: Divulgação/UFPB
Cientistas da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB) criaram um adesivo capaz de curar, em 24 horas, a lesão
causada pelo vírus da herpes do tipo simplex. O curativo de baixíssimo custo,
moldável ao tamanho da lesão, e que dispensa reposição constante, funciona por
meio da liberação controlada do fármaco Aciclovir na região da pele ou da
mucosa acometida por essa categoria de agente infeccioso.
“A velocidade de cura da lesão proporcionada pelo adesivo depende
da proporção de polímeros na composição do material do curativo, da
concentração do fármaco Aciclovir, do tamanho da lesão, dentre outros fatores.
De qualquer maneira, nos nossos experimentos, no que se refere à eficiência e à
eficácia de “matar” o herpesvírus, o adesivo regenerativo teve ótima letalidade
em 24 horas”, afirma Kaline Ferreira, uma das inventoras da patente e,
atualmente, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de
Materiais da UFPB.
Como é desenvolvido
Desenvolvido a partir da mistura de polímeros sintéticos
bioabsorvíveis e biodegradáveis, o adesivo regenerativo tem dimensão pequena e
alta área superficial, facilitando a adição de agentes farmacológicos,
principalmente o Aciclovir, e o conforto estético.
Tanto o tamanho e forma quanto a concentração de medicamento que
dispõe são facilmente adaptáveis às necessidades de um paciente, diferente do
atual tratamento por meio do uso de comprimidos ou de pomada de Aciclovir.
Kaline Ferreira explica que as características do adesivo podem
ser modificadas à medida que a proporção dos polímeros que constitui sua
estrutura é variada. Também é possível alterar a liberação do Aciclovir pela
modificação das dimensões estruturais do curativo por meio do
controle das concentrações poliméricas utilizadas e dos parâmetros de processo
de produção.
A doutoranda da UFPB destaca que,
mesmo podendo ser vendido em qualquer farmácia, o Ministério da Saúde reforça
que qualquer antiviral precisa de receita médica.
“A herpes é uma doença transmissível que não tem cura, uma vez que
não existe um remédio antiviral capaz de eliminar de vez o vírus do organismo.
A lesão provocada pelo herpesvírus desaparece à medida que o sistema imune do
indivíduo se recupera. Durante as crises infecciosas, o objetivo principal é
diminuir o desconforto na área afetada”, esclarece a pesquisadora da UFPB.
Segundo Kaline Ferreira, cerca de dois terços das pessoas com
menos de 50 anos no mundo tem herpes. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em
suas estimativas globais sobre infecção pelo vírus do Herpes Simples Tipo 1
(HSV-1), um dos dois gêneros do herpesvírus do tipo simplex, indica que mais de
3,7 bilhões de pessoas com menos de 50 anos, ou 67% da população, está
infectada pelo HSV-1.
Como o adesivo contra lesão da herpes pode
ser disponibilizado
O adesivo regenerativo foi desenvolvido entre 2015 e 2017, no
Laboratório de Materiais e Biossistemas (Lamab) da UFPB, no campus I, em
João Pessoa, e contou com a colaboração dos professores da UFPB Eliton
Medeiros, Lúcio Castellano, Paulo Bonan e Joelma Souza e do mestrando Raonil
Oliveira.
O depósito da patente foi realizado em junho de 2018, junto ao
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). O processo de
desenvolvimento do curativo será publicado em breve. Os artigos estão em fase
de revisão por pares em revistas internacionais.
“Pretendemos conversar com farmacêuticas para avaliarem o
custo-benefício para produção em larga escala do adesivo. O Sistema Único de
Saúde (SUS) poderá utilizar de artifícios como a quebra de patentes de
medicamentos ou de dispositivos ou comprar o material, caso uma farmacêutica
inicie o processo de comercialização dos adesivos, para o uso de forma
gratuita, por meio da distribuição”, afirma a pesquisadora da UFPB.
Por: Portal Correio