Sexta-feira, 06 de maio-05 de 2022
Segundo
pesquisadores, variação tem a capacidade de se espalhar mais rapidamente que a
linhagem que já circula no Brasil.
A descoberta é de pesquisadores da Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz). (Foto: Reprodução/PartMed)
Uma cepa do vírus da dengue nunca identificada no Brasil foi detectada
pela primeira vez em Aparecida de Goiânia, em Goiás. Para os cientistas, a
chegada dessa variação preocupa, porque existe a possibilidade de ela se
disseminar de forma mais eficiente do que a linhagem que atualmente circula no
país.
A descoberta é de pesquisadores da Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz), em
parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás, e foi divulgada
nesta quinta-feira (5).
“Ainda não sabemos como será a proliferação do genótipo cosmopolita no
Brasil. Mundialmente, ele é muito mais distribuído e causa mais casos do que o
genótipo asiático-americano, que circula no Brasil há anos. O quadro global
indica que a linhagem cosmopolita tem capacidade de se espalhar facilmente”,
afirma o coordenador do estudo, Luiz Carlos Júnior Alcantara, pesquisador da
Fiocruz.
A descoberta do genótipo do sorotipo 2 do vírus ocorreu em fevereiro
deste ano, a partir de uma amostra de um caso de dengue de novembro de 2021. A
linhagem é bem disseminada no mundo e está presente na Ásia, no Oriente Médio e
na África, mas nunca havia sido encontrada no território brasileiro. Esse,
aliás, é apenas o segundo registro oficial nas Américas, após um surto no Peru,
em 2019.
Aumento nos casos de dengue
O avanço da dengue em Goiás fez o estado chegar à segunda posição em
número de mortes pela doença em 2022. Segundo o último boletim epidemiológico
do Ministério da Saúde, a cada 100 mil moradores de Goiás, 1.300 têm ou tiveram
dengue neste ano.
No entanto, a possibilidade de associação entre a cepa e o aumento de
casos de dengue no estado é, até o momento, descartada pelos cientistas com
base no sequenciamento genético de amostras realizado no estado.
Ao todo, cerca de 60 genomas foram decodificados pelos pesquisadores nas
duas primeiras semanas de fevereiro. Essas amostras foram selecionadas de forma
aleatória entre as amostras de casos de dengue confirmados pelo Laboratório
Central de Saúde Pública nos meses anteriores.
Segundo a pesquisa, aproximadamente metade pertencia ao sorotipo 1 e a
outra metade ao sorotipo 2. Entre as amostras do sorotipo 2, apenas uma era do
genótipo cosmopolita e todas as demais apresentavam o genótipo
asiático-americano, atualmente circulante no Brasil.
“Os dados mostram que o surto de dengue em Goiás não é causado pelo
genótipo cosmopolita”, declara Alcantara, acrescentando que a dengue tem
comportamento cíclico no Brasil, que se relaciona com diversos fatores ligados
ao vetor e ao vírus, assim como às condições climáticas e de vida da população.
Considerando a rápida identificação do genótipo cosmopolita, os pesquisadores
avaliam que é possível agir para conter a sua disseminação. “A detecção precoce
permite reforçar as medidas de controle. Esperamos que isso possa ajudar a
limitar a propagação dessa linhagem no Brasil e nas Américas, onde já temos um
cenário epidemiológico complexo, com múltiplos patógenos em circulação”, avalia
a primeira autora do estudo, Marta Giovanetti, pós-doutoranda do Laboratório de
Flavivírus do IOC/Fiocruz.
Por: R7