Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015
No mês da saúde do homem vale lembrar que, além do câncer de
próstata, há outro tipo da doença que atinge a população masculina de forma
dramática: o câncer de pênis.
Embora
estima-se que a incidência seja muito menor do que o da próstata, esse câncer
exige, muitas vezes, a amputação do pênis. A metástase também costuma ser
frequente nesses homens já que eles tendem a demorar para procurar tratamento.
E o aumento de casos de câncer de pênis no Nordeste do país faz sua incidência
ser considerada um problema de saúde pública.
Segundo o Inca
(Instituto Nacional do Câncer), o tumor peniano representa apenas 2% dos casos
de câncer entre os homens brasileiros, enquanto o de próstata é o segundo
câncer mais prevalente entre eles (só perde para o de pele não-melanoma). Em
2013, o câncer de pênis matou 396 homens no país, enquanto o de próstata tirou
a vida de 13.772.
“O número de
casos no Brasil é alto e subnotificado. Deve ter muito mais, mas não se sabe
nada de estatísticas nacionais. São mil amputações por ano no Brasil, número
semelhante só ao de Uganda”, diz o urologista José de Ribamar Calixto,
secretário da Sociedade Brasileira de Urologia, que atua no Maranhão. O Inca
não confirma o total de amputações no país.
Falta de higiene
A doença é
causada principalmente pela falta de higiene no órgão sexual e tem forte
prevalência em homens com fimose (quando o estreitamento na abertura do
prepúcio, a pele que reveste a glande, impede que ela seja exposta). Estudos
científicos sugerem que a doença também está associada a infecção pelo vírus
HPV.
O tumor no
pênis acomete principalmente homens que vivem em regiões rurais, com pouca
cultura e que só procuram ajuda quando o pênis já está muito ferido, às vezes
com o tumor exposto, saindo sangue e pus.
“É um flagelo
porque esses homens procuram tratamento quando o pênis já está apodrecendo.
Temos que amputar, mas às vezes a doença já se espalhou pela região genital e
perfurou artérias. É um grande problema sócio-econômico e cultural no Brasil,
principalmente no Nordeste”, diz Franz Campos, chefe da sessão de Urologia do
Inca.
Para Campos,
medidas simples como a circuncisão evitaria o câncer de pênis. Ele sugere que a
técnica seja adotada nas maternidades do país, embora saiba que isso geraria um
custo ao SUS.
Outra forma de
melhorar o diagnóstico e o tratamento seria aumentar a atenção sobre a doença
cujo número de casos não é relatado com rigor, o que trava investimentos em
pesquisa e remédios.
“Como não
sabemos a real incidência de casos porque não há notificação compulsória, a
doença é muito pouco estudada e o tratamento não avança. Usamos as mesmas
drogas e o mesmo tratamento há 30 anos”, diz Costa.
Maranhão: 3 amputações por semana.
Segundo
Calixto, mais de 60 amputações de pênis foram feitas em São Luís (MA) em oito
meses deste ano, o que é considerado um “número altíssimo”.
“Sabemos que é
um câncer frequente no Nordeste, principalmente no Maranhão, na Bahia, no Piauí
e em Pernambuco. Em São Luís (MA) são três amputações por semana, em média”,
afirma.
Calixto que é
professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), onde estuda a doença há
20 anos, montou um ambulatório no hospital da universidade para tratar
pacientes com esse tipo de câncer, devido ao número crescente de casos.
“Os homens com
câncer de pênis aqui no Maranhão vêm de cidadezinhas onde trabalham no campo,
têm pouca instrução e não lavam o pênis com regularidade, mantendo por muito
tempo feridas na cabeça do pênis. A grande maioria chega ao SUS com grau
avançado da doença, que exige amputação porque o tumor já corroeu pelo menos
metade do órgão”, diz Calixto.
Além do
ambulatório, Calixto e uma equipe de oncologistas e geneticistas fazem um
estudo na UFMA que procura encontrar as causas genéticas do câncer de pênis, já
que a incidência de metástase (quando o câncer se espalha) é alta.
O estudo ainda
em fase inicial pretende analisar 200 homens com a doença até 2017 e analisar
os marcadores genéticos que podem indicar as causas da metástase. Entre um
grupo de 60 homens já participantes da pesquisa, 54 tiveram o pênis amputado.
Causas, sintomas e tratamento.
O câncer de
pênis inicialmente não apresenta sintomas, mas tem como causa principal o
acúmulo de secreções na glande. Essa ‘sujeira’ pode evoluir para uma infecção
que se transforma em ferida. Se não curada, vira um tumor que aos poucos vai
lesionando a região.
Mas sua
prevenção é simples, bastando lavar a cabeça do pênis com água e sabão, puxando
a pele, na hora do banho, depois da masturbação e depois de ter relações
sexuais, além de usar camisinha para evitar a infecção pelo HPV.
Outro problema
é que a quimioterapia e a radioterapia pouco funcionam nestes casos, por isso a
amputação parcial ou total é frequente.
Por isso, em
caso de vermelhidão ou feridas no pênis, o ideal é procurar um urologista. Se o
tumor for pequeno, o câncer pode ser eliminado com cirurgia.
Com
UOL