Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015
Durante as investigações da Operação
Lava-Jato, policiais federais começaram a apurar indícios de desvios de
finalidade ou ocultação de origem em pagamentos feitos pela empresas Odebrecht
e Braskem ao iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso). A entidade, do outro
lado, nega qualquer tipo de irregularidade nos repasses das empreiteiras.
Laudos da
Polícia Federal, no âmbito das investigações relacionadas à Odebrecht, apontam
que o iFHC recebeu R$ 975 mil da Odebrecht entre novembro de 2011 e dezembro de
2012. Oficialmente, o iFHC explicou que os valores são referentes a doações
feitas ao fundo de manutenção da entidade. Entretanto, a PF começa a suspeitar
que, na realidade, a Odebrecht pode ter feito pagamentos por palestras ou
serviços de consultoria prestados pelo ex-presidente e que não foram
contabilizados.
Isso porque
comunicações por e-mail do iFHC, interceptadas pela PF apontam conversas entre
funcionários do Instituto e executivos da Odebrecht tratando de pagamentos a
uma possível participação do ex-presidente em uma das reuniões da Apla
(Associação Latino-Americana da Indústria Petroquímica).
Em uma dessas
comunicações, uma funcionária do iFHC questiona um funcionário da Braskem,
identificado como Pedro, sobre como seria a melhor forma para se efetuar
“doações” em nome da Odebrecht ou da Braskem. No mesmo trecho, a servidora
afirma que o Instituto pode firmar um contrato, porém não pode associar a
qualquer tipo de serviço do ex-presidente.
“Gostaria que
você verificasse com a Braskem qual a melhor maneira para fazer a doação. Temos
as seguintes opções: uma doação direta, de acordo com as normas e rubricas
deles, e então enviaremos um recibo. Acho que a Braskem/Odebrecht já fez
doações para a Fundação iFHC; a elaboração de um contrato, porém não podemos
citar que a prestação de serviço será uma palestra do presidente”, destaca a
comunicação por e-mail da secretaria do iFHC.
Pagamentos
“Dessa forma, é
possível que outros pagamentos [da Odebrecht] tenham sido feitos e não tenham
sido encontrados”, informa a Polícia Federal em laudo expedido no início de
novembro. Ainda de acordo com a PF, é possível que os pagamentos tenham
ocorrido por meio de “uma triangulação entre Grupo Odebrecht, o contratante do
serviço (exemplo do evento Apla) e o Instituto Fernando Henrique Cardoso”,
apontam os investigadores.
Os pagamentos ao
iFHC por meio da Odebrecht ocorreram em 12 parcelas mensais. Onze delas no
valor de R$ 75 mil e uma no valor de R$ 150 mil. O último pagamento ocorreu no
dia 14 de dezembro de 2012. Os pagamentos constantes ao instituto levantaram a
suspeita dos investigadores, visto que doações não são comuns.
O iFHC afirmou,
em nota oficial, que as suspeitas “não procedem”. Anteriormente, o instituto já
havia ressaltado que “estranha a forma pela qual vem sendo tratada a informação
de que a entidade recebeu aporte no valor de R$ 975 mil do grupo Odebrecht”.
“Basta o mais elementar bom senso para perceber o absurdo de supor que a doação
feita à Fundação iFHC pudesse ter qualquer relação com o propósito de obter
vantagens governamentais. Causa estranheza, portanto, que ela conste do
relatório da PF que trata da corrupção na Petrobras.”
A Odebrecht
também já se manifestou sobre esse episódio, declarando que a “CNO fez
contribuições pontuais ao Instituto Fernando Henrique Cardoso, dentro do seu
programa de apoio às iniciativas que ajudam a fortalecer as democracias.
Apoiamos também iniciativas de outros institutos no Brasil e no exterior,
sempre que possuam ligação direta com as posições institucionais da Odebrecht”.
Fato Online