Quarta-feira, 16 de Março de 2016.
Há 29 dias Paulo
Cícero de Lima, 55 anos, está caminhando com uma cruz de 40 quilos sob as
costas. O protesto surgiu após ficar 16 anos preso por um crime que não
cometeu. Em 1993, ele foi acusado de ter matado uma jovem de 21 anos no
interior de São Paulo a marretadas. A ação teria acontecido em frente a uma
criança de 4 anos.
Paulo
foi condenado e passou por mais de 14 presídios desde então. “Não fiz aquilo eu
estava passando pelo local e a polícia me pegou. Estava com a roupa suja de
sangue de uma galinha que tinha matado. Não quiseram me ouvir”, reclama. Por
volta das 17h45 desta segunda-feira ele caminhava pelo Eixinho Sul, na altura
da 210.
O
andarilho chegou à capital federal no fim da noite deste domingo pela BR 040.
“Quero que meu processo seja reaberto. Não vou embora enquanto isso não
acontecer. Vou tirar essa mancha na minha vida”, argumenta.
Perdas
Paulo deixou a cadeia em 2009. Desde então ele tenta mudar sua história.
“Voltei ao local do crime, conversei com as pessoas e muita gente ainda está
viva. Fui acusado por um homem que se dizia policial, mas não era. Me contaram
que na verdade o assassinato foi um acerto de contas”, explica o homem.
Durante
os últimos dias, Paulo dormiu na rua e contou com a ajuda de pessoas
desconhecidas. “Comi e bebi o que me ofereceram. Passava a noite na beira da
pista. Tenho muito a agradecer”, disse após mais de 10 horas de caminhada nesta
segunda. Ao todo, Paulo passou por São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Segundo
o andarilho, o protesto surgiu após um sonho. Ele teria que carregar a cruz até
a Catedral Metropolitana de Brasília para ter o problema resolvido. “Sou devoto
de Maria. Sonhei que se eu carregasse a cruz ela me intecederia por mim.
Acredito que quando eu chegar lá (na Catedral), ela vai tocar no coração de
alguém para me ajudar”, explica. O objeto custou cerca de R$ 200 e é feito em
madeira e possui uma roda para ajudar no traslado.
Abandono
“Muitos sonhos ficaram soterrados nesse estigma de assassino. Perdi o contato
com meus filhos, por exemplo”, conta o pai de quatro filhos e oito netos. Na
noite do crime, Paulo recorda de um desentendimento com a ex-mulher. “Saí de
casa me deparei com o crime e me enrosquei nesse problema”, lamenta.
Dentro
da cadeia Paulo diz que viveu pressionado pelo medo de os outros detentos
saberem da história. “Os próprios agentes falavam que se eles ficassem sabendo
iriam me matar. Tinha muito medo”, diz. Paulo deixou a cadeia em 2009. Após o
período preso, trabalhou como ajudante de serviços gerais em algumas empresas
no interior de São Paulo. Anres de encarar o desafio, ele estava morando em
Jundiaí com a mãe e os irmãos.
G1

