Terça-feira, 15 de Março de 2016.
Mais um artigo do Pastor Antônio Pereira Júnior da Igreja Congregacional e colunista do Portal Nordeste 1.
“E
para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um
espinho na carne… Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de
mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa
na fraqueza”.(2
Coríntios 12.7-8).
Diferentemente do que prega a
Teologia da Prosperidade, todos nós estamos sujeitos ao sofrimento e a dor. O
fato é que ninguém gosta de sofrer, nem eu. Não advogo uma vida de sofrimento.
Se pudesse viveria sempre sossegado, dormindo numa rede e tomando água de coco.
Mas não posso ser utópico. Em algumas igrejas o que se prega é a falsa teologia
do “pare de sofrer”. Todos sabemos por experiência própria que na vida, quer
queiramos quer não, haverá espinhos. Nem tudo são flores. Cristo nunca prometeu
flores sem dores. Ele mesmo disse: “No mundo tereis aflições”(João
16.33).
No entanto, alguns sofrimentos nos
causam bem. A dor que achamos ser uma maldição, se formos olhar com outro
prisma, veremos que pode ser redundado em bênção. Talvez você se pergunte: Como
assim? Será que no sofrimento posso tirar algo valioso para minha vida?
Deixe-me citar apenas dois fatos
importantes:
Experiências com Deus não implica em ausência
de crises.
Grandes homens de Deus sofreram muito
apesar de serem consagrados, santos e dedicados ao Eterno. Um deles foi o apóstolo
Paulo. Jesus disse que Paulo seria para Ele “um instrumento
escolhido… E eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos
9.16).
Às vezes Deus permite que as aflições nos
atinjam porque tem um propósito definido.
No caso de Paulo, o espinho em sua carne servia para mantê-lo
mais humilde: “E, para que não me exaltasse pela excelência das
revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de
Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar” (2Coríntios
12.7).
Não sei qual o propósito do seu
sofrimento, mas uma coisa eu sei, Deus não é sádico. Ele não se alegra pelo
sofrimento imposto, mas sim, pelo crescimento que o sofrimento pode trazer para
os afligidos. Hoje vivemos a alegria “facebookiana”. Quase
ninguém posta fotos tristes, angustiado ou chorando. Como se na vida não
existissem dores. No entanto, no chão da vida, quem nunca ficou triste,
angustiado ou chorou? Mas falar ou postar nossas fraquezas não pega bem. As
pessoas querem nos ver (e nós mesmos) como exemplos de seres humanos de uma
dimensão superior, alguém que não sofre, que não chora por nada, um vencedor em
todas as batalhas.
O apóstolo Paulo, apesar de ser um
homem excepcional, era homem sujeito as mesmas angústias e dores como todos
nós. Aliás, não sofremos nem dez por cento do que ele sofreu. Basta ler
2Coríntios 11.23-33. Já que a dor é inevitável e o sofrimento é opcional, como
disse Carlos Drummond de Andrade, basta-nos aprender as lições que essas dores
nos deixam.
O que Paulo aprendeu?
Primeiro, que a dor existe para nos
manter mais humildes.
Somos soberbos, cheios de nós
mesmos, achamos que somos os donos da verdade. Deus vem e nos mostra, através
da dor, que não passamos de meros humanos e mortais. É sempre bom saber que
somos apenas humanos. O sofrimento expurga o orgulho. Já disse John Vance
Cheney: “A alma não teria arco-íris se os olhos não tivessem lágrimas”.
Segundo, a dor existe para nos
aproximar mais de Deus.
O que o
apóstolo faz nessa hora? Pede para Deus afastar a dor. Não somos assim também?
Pedimos para Deus nos afastar o cálice, a dor, o espinho da carne, mas é
através dele que crescemos, que amadurecemos, que nos refugiamos no Altíssimo.
Como alguém já disse: “Algumas vezes Deus precisa derrubar-nos de
costas para que olhemos para cima”.
Terceiro, quando Deus não tira a dor,
nos dá Graça para suportarmos.
“E
disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite
o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando
estou fraco então sou forte” (2Coríntios 12.9-10).
A graça de Deus te basta? A diferença
não é ter uma religião, é conhecer a Graça que nos consola. Assim como um pai
ensina seu filho através da dor, assim é nosso Pai celestial. No entanto, Ele
nos dá a maior Graça para suportarmos. Termino com a frase de J. Blanchard: “Dor
e sofrimento não são necessariamente sinais da ira de Deus; podem ser
exatamente o contrário”.
Antonio
Pereira Júnior é pastor da Igreja Evangélica Congregacional.

