Terça-feira, 17 de maio de 2016.
De todos os animais que
existem no mundo, apenas os humanos conseguem produzir lágrimas emocionais e
chorar mesmo quando já são adultos.
Há relatos de animais que apresentam padrões de comportamento parecidos com o choro, só que eles não soltam lágrimas, além de o comportamento não existir mais após a infância. Os humanos choram quando já são adultos não só por razões egocêntricas, mas também por empatia (capacidade de se identificar com os problemas das outras pessoas). Especula-se que o ato estimula o sistema nervoso parassimpático e libera substâncias nas lágrimas responsáveis por reduzir o estresse e a ansiedade, como a oxitocina
Há
relatos de animais que apresentam padrões de comportamento parecidos com o
choro - um filhote de pássaro, por exemplo, emite sons chorosos ao se separar
da mãe. Só que animais não soltam lágrimas, e o comportamento deixa de existir
após a infância.
Já
em humanos, chorar faz parte da vida. Enquanto na maioria das vezes, as
crianças choram com mais frequência, emitindo sonoros gritos e lamentos, os
adultos bastam-se apenas com as lágrimas.
Outra
diferença entre o choro de crianças e adultos é que os pequenos choram, na
maioria das vezes, por razões egocêntricas - necessidades de chamar atenção
para um problema que está acontecendo com elas, como se dissessem através do
'berreiro' frases como "minha fralda está suja", "estou com
fome", ou "quero ganhar este brinquedo".
Nos
adultos, o choro pode acontecer não só por razões egocêntricas, como também por
empatia a situações externas. Ao assistir a um filme, por exemplo, o adulto
experimenta as mesmas emoções que os outros, mesmo que esses outros sejam
personagens da ficção.
A
empatia é uma capacidade intrínseca ao ser humano de se identificar com as
outras pessoas. Ainda não existe um consenso entre estudiosos do assunto, mas
há a hipótese de que existe uma relação entre chorar e a evolução natural:
nossas lágrimas podem ter facilitado o desenvolvimento de sentimentos empáticos
e contribuído para que nós nos tornássemos uma espécie ultrassociável.
Chorar alivia?
Será
que chorar pode trazer algum tipo de paz de espírito ou alívio do stress? Os
cientistas não sabem ao certo, mas já apontam pistas de que nem sempre é assim.
Depende de basicamente duas coisas: por qual motivo a pessoa está chorando e
como outras pessoas reagiram a esse choro.
É
possível que o choro estimule o sistema nervoso parassimpático, e libere
substâncias responsáveis por reduzir o estresse e a ansiedade, como a
oxitocina. Só que isso é apenas especulação. Não se sabe muito sobre as
características fisiológicas do cérebro no momento do choro - é um
quebra-cabeça difícil de montar, já que pouco foi descoberto sobre os complexos
mecanismos desse órgão.
O choro pode ser cultural
A
cultura pode ter uma relação direta nas razões do choro, na frequência dele e
nos seus efeitos. Também pode definir o comportamento de reação de terceiros.
Por
exemplo: sociedades que vivem em países frios tendem a chorar mais do que as
que estão em regiões mais quentes.
Mesmo
que na maioria das vezes, humanos chorem para pedir ajuda, conforto ou reduzir
algum tipo de agressão, em algumas sociedades, os adultos não costumam chorar
em frente a pessoas desconhecidas - isso pode sugerir que a pessoa é fraca,
emocionalmente instável ou até mesmo manipuladora.
Além
disso, nessas sociedades, pessoas que veem alguém desconhecido chorar ficam
desconcertadas e raramente sentem-se à vontade para ajudá-la. É por isso que,
talvez, o choro de adultos seja tão contido, reservado e só para íntimos.
Consultoria: A.J.J.M.
Vingerhoets, professor da Universidade Tilburg, da Holanda, e autor do livro Why only humans weep.
Unravelling the mysteries of tears; e prof. doutora Denise Pará
Diniz, psicóloga-coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade
de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
Do UOL, em São Paulo