Domingo, 15 de maio de 2016.
Após cinco
anos de trabalho, profissionais que realizam suas atividades ao ar livre têm
três vezes mais chances de desenvolver câncer de pele do tipo não melanoma,
quando comparados a outros trabalhadores. A conclusão é de um estudo publicado
recentemente no periódico cientifico Journal of the European Academy of
Dermatology and Venereology.
Esse tipo
de tumor é o mais comum entre os tipos de câncer de pele e corresponde a 25% de
todos os tumores malignos registrados no Brasil. "O câncer de pele não
melanoma virou uma epidemia e a grande preocupação é que, nos últimos anos, a
incidência na população jovem, na faixa dos 30 anos, aumentou muito devido à
maior exposição ao sol desde cedo e ao fato de termos muitas pessoas com pele
clara em um país tropical, como o Brasil.", diz Alexandre Filippo,
dermatologista e presidente do Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Dermatológica.
Os
pesquisadores concluíram também que ficar exposto diariamente ao sol triplica o
risco de quetarose actínica, uma lesão causada por dano solar que pode levar ao
câncer - entre 40% e 60% dos tumores começam por causa de queratoses mal
tratadas.
"A
queratose actínica aparece principalmente em áreas expostas, como rosto ou
braço, de pessoas com pele clara e é considerada uma lesão pré-cancerosa, pois
pode se tornar um câncer de pele. Por isso é muito importante utilizar protetor
solar diariamente e, quando estas lesões aparecerem, realizar o tratamento
adequado", conta o médico.
As lesões
da queratose se assemelham a "verrugas" vermelhas e ásperas, que
descamam, mas nunca somem. Entre as opções de tratamento estão a crioterapia, a
eletrocirurgia e, o mais comum, o uso de medicamentos tópicos. "O grande
problema dos medicamentos é a duração e os efeitos do tratamento que deixam os
pacientes com o rosto vermelho e machucado de um a dois meses.", explica
Filippo.
Pesquisadores
do Ambulatório de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da USP realizaram um estudo comparando a tolerabilidade e a segurança
de dois medicamentos tópicos contra queratose actínica da face: mebutato de
ingenol (tratamento novo) e o 5-fluorouracila a 5% (tratamento padrão).
Participaram
do estudo 100 pacientes que foram divididos em dois grupos: o primeiro aplicou
o mebutato de ingenol, uma vez ao dia durante três dias consecutivos e o
segundo utilizou o 5-fluorouracila a 5%, duas vezes por dia, durante quatro
semanas. Ambas as formas de uso são as indicadas nas bulas dos medicamentos.
Os
resultados mostraram que, embora os dois medicamentos tenham segurança
semelhante, o tratamento com o mebutato de ingenol se mostrou superior por ter
menor duração, o que, por sua vez, também significa reações cutâneas locais
menos duradouras. Nestes pacientes os efeitos do tratamento, como vermelhidão e
rosto machucado, desapareceram em 15 dias, enquanto naqueles que utilizaram o
5-fluorouracila a 5%, duraram 43 dias.
"Ambos
os medicamentos já têm a eficácia comprovada, ou seja, os dois tratam de forma
eficaz a queratose actínica, por isso não analisamos este critério no estudo.
As únicas diferenças são o mecanismo de ação e a posologia, por isso focamos na
segurança e na tolerabilidade. No geral, os resultados foram bem parecidos. A
diferença ficou mesmo no tempo do tratamento, que faz com que o mebutato tenha,
devido ao menor tempo de uso, uma posologia mais fácil para o paciente e que os
efeitos indesejáveis relacionados ao tratamento desapareçam mais rápido.",
diz Luciana de Paula Samorano, uma das líderes do estudo e dermatologista da
Divisão de Dermatologia do HCFMUSP.
Prevenção
A melhor forma de evitar estas lesões e o câncer de pele em geral é
protege-se contra a radiação dos raios ultravioletas (UV). Isso pode ser feito
por meio do uso - e da reaplicação - constante de filtro solar, dar preferência
a roupas coloridas ou escuras e longas (calças e camiseta de manga comprida) e
o uso chapéu.
Devido ao
significativo aumento do risco de câncer de pele nestes profissionais, um grupo
de especialistas está batalhando para que as duas condições - câncer de pele
não melanoma e a quetarose actínica - sejam reconhecidas como doenças
ocupacionais. As discussões já chegaram ao Parlamento Europeu, mas o assunto
ainda não foi debatido.
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