Terça-feira, 12 de julho de 2016
Após deixar a Arquidiocese da Paraíba, o arcebispo dom Aldo di
Cillo Pagotto deu entrevista exclusiva a Revista Veja. Na última quarta-feira
(6), o Vaticano aceitou a renúcia do arcebispo, que alegou ‘motivos de saúde’.
No entanto, de acordo com a matéria, existe muito mais por trás da decisão de
deixar a arquidiocese paraibana. A revista ressaltou que dom Aldo era
investigado pelo Vaticano sob suspeita de acobertar padres pedófilos. Na
entrevista, o arcebispo alegou ser vítima de uma “orquestração” elaborada por
padres que prefere não revelar os nomes.
A publicação diz
ainda que de acordo com a denúncia, o ex-líder da Igreja Católica no
Estado estaria promovendo orgias e mantendo relações com um jovem de 18
anos. O arcebispo nega.
A Veja descreve que
conversou durante quase duas horas com dom Aldo Pagotto e destaca que o
religioso revelou segredos que são “mantidos distantes dos olhos e ouvidos do
distinto público”. Dom Aldo revela que conversou em Brasília com o anúncio
apostólico, representante do papa, que o fez redigir sua carta de renúncia.
Para dom Aldo, ele é
uma vítima do papado de Francisco e alega disputa de poder que usa acusações de
corrupção e homossexualismo como “pano de fundo”. O arcebispo alega que o ponto
crucial de tudo é financeiro e que por denunciar os supostos casos de desvios
de dinheiro passou a sofrrer retaliação de um grupo de padres e acusa a estes
de envolvimentos em escândalos sexuais.
Confira a entrevista
feita pela revista Veja na íntegra:
‘Quando você mexe no bolso, vêm as reações’, diz bispo acusado
de proteger padres pedófilos
Na última quarta-feira, o Vaticano anunciou que o papa Francisco
aceitou a renúncia do arcebispo da Paraíba, dom Aldo di Cillo Pagotto.
Oficialmente, dom Aldo deixou o posto por “motivos de saúde”. Mas só
oficialmente. Por trás da decisão, há muito mais. Há pelo menos quatro anos, o
arcebispo era investigado pelo próprio Vaticano sob suspeita de acobertar
padres pedófilos. Dom Aldo também era acusado de promover orgias e de ter
mantido relacionamento com um jovem de 18 anos – o que ele nega. Foi o primeiro
caso, no Brasil, de um arcebispo que deixa o posto no curso de uma investigação
sobre envolvimento em escândalos sexuais.
Na mesma quarta-feira, dom Aldo falou por quase duas horas a
VEJA. O resultado da conversa é revelador dos bastidores da Igreja – e de
segredos que, na grande maioria das vezes, graças à hierarquia e à disciplina
dos religiosos, são mantidos distantes dos olhos e ouvidos do distinto público.
Na entrevista, o bispo deixa evidente que, na verdade, foi obrigado a renunciar.
Ele conta que, no início de junho, foi chamado a Brasília para uma conversa com
o núncio apostólico, o representante do papa no Brasil. E que, naquele mesmo
dia, o núncio — em nome do papa — o fez redigir a carta de renúncia. O
arcebispo se diz alvo de uma grande injustiça cometida pelo papado de Francisco
e atribui a sua situação a uma disputa que tem como pano de fundo acusações de
corrupção, homossexualismo, pedofilia e, quase sempre, disputa por poder.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Desvio de dinheiro
Dom Aldo diz que foi vítima de uma orquestração maquinada por um
grupo de padres que se opunham a medidas que ele adotou desde que assumiu a
Arquidiocese da Paraíba. Ao falar desses padres, cujos nomes ele se esforça
para não revelar, o religioso escancara o ambiente interno conflagrado no clero
– algo que a Igreja, quase sempre, consegue manter em segredo. Ele acusa os
adversários de estarem envolvidos em desvios de dinheiro e de serem, eles
próprios, personagens de escândalos sexuais. Na origem de tudo, diz ele, está a
disputa pelo controle das finanças.
“Tudo começou porque eu tenho uma visão mais moderna. A questão
administrativa e patrimonial da Arquidiocese estava bastante comprometida.
Então começamos a colocar as coisas em ordem, com prestação de contas. Isso
mexeu na posição de uns privilegiados. Havia coisas não muito bem resolvidas.”
“Quando você mexe no bolso, que é a parte mais delicada do corpo
da pessoa, vêm as reações, que não são tão diretas no começo. Aí começam com
outras acusações. Diziam que eu era financista, materialista, e que a Igreja
não é só isso.”
“Essa reação partia de um grupo pequeno, mas muito bem
articulado, formado por cinco padres. Passaram a acusar que o clero no estado
estaria dividido, e outras coisas morais. Diziam que eu era ditador. Depois
foram para os ataques pessoais de ordem afetiva e sexual. Aí foram para a
baixaria mesmo, com acusações horrendas à minha pessoa e a outros padres
também.”
“Esses padres têm poder financeiro. E a reação vinha justamente
daí. Tudo parte de quando você quer mexer nas finanças.”
Mas esses padres estavam envolvidos com corrupção?, perguntou
VEJA.
A resposta: “Havia um colégio aqui, o Pio XII, que eu tive que
fechar quando cheguei porque havia uma coisa não resolvida ali. Era um colégio
tradicional, de mais de 80 anos. Pedimos uma auditoria e fizeram de tudo para
não fazer essa auditoria. Sempre me era aconselhado: ‘Não é bom mexer com
isso’”.
Dom Aldo diz que, só nas contas da escola, havia um rombo de 1,8
milhão de reais. E quem são esses padres?
“Eu sei quem são. Alguns nomes eu levei para a Santa Sé. Pelo
menos o nome de dois, entre eles o que capitaneia, eu informei à Santa Sé. São
padres muito bem posicionados aqui, veteranos.”
Com Pbagora