Sábado, 02 de julho de 2016.
Médico é o primeiro da família a ter curso superior e se formou na UPE. Filho de pedreiro e ex-cortadora de cana, ele entrou em medicina em 2010.
Ex-cortador de cana com a prima na formatura dele em medicina pela UPE (Foto: Arquivo pessoal/Maria Eduarda Lopes)
Um dos sete filhos do pedreiro José Lopes, de 63 anos, e
da dona de casa Edileusa Maria, de 59, o agora médico Jonas Lopes trabalhou
como cortador de cana até os 15 anos. Nascido em Palmares, Mata Sul de
Pernambuco, Jonas morou até 2006 em Joaquim Nabuco. Hoje com 30 anos, o futuro
cardiologista garante ao G1: "o que me move é o conhecimento e ajudar as
pessoas".
Ele é o primeiro da família a ter curso superior, mas
acredita que no futuro os irmãos irão seguir o mesmo caminho. "Agora eu só
quero ajudar meus pais, dar orgulho a eles e aos meus irmãos e continuar
exercendo meu amor pela medicina, distribuir esse amor para os meus pacientes.
Também quero estudar, estudar e nunca parar", afirmou.
Eu só quero
ajudar meus pais, dar orgulho a eles e aos meus irmãos e continuar exercendo
meu amor pela medicina"
Jonas Lopes, 30 anos, médico
Jonas
se tornou médico de fato e direito na quarta-feira (29) - dia da colação de
grau. Ele disse que não conseguiu segurar a emoção no momento em que foi
homenageado pelos colegas.
"Tivemos uma colação antecipada no dia 17 de
junho, que foi para pegar o registro do Cremepe [Conselho Regional de Medicina
de Pernambuco]. Na solenidade oficial, na hora do discurso da oradora, ela
disse: 'Jonas, levante'. Em seguida, falou um breve histórico da minha vida, me
parabenizou e todos os meus colegas me aplaudiram. Não aguentei e chorei
demais", revelou.
O médico, que desde de criança ajudava a mãe a
cortar cana, trabalhou na zona rural de Joaquim Nabuco dos 12 aos 15 anos. Foi
também durante a infância que veio o sonho de cursar medicina. Desde pequeno
Jonas gostava de ciências. Devido às dificuldades pelas quais a família
passava, pensou em ser professor, porque - para ele - seria mais fácil.
"Mas eu ficava admirando o trabalho de médico. Sempre tive a medicina no
coração", falou.
Jonas Lopes se formou em medicina pela UPE
(Foto: Arquivo pessoal/Fábio
Floriano)
Entre os anos de 1998 e 1999, o médico parou de estudar.
Ao G1, ele disse que esta "parada" nos estudos foi
um momento de rebeldia. "Eu recomecei em 2000. Na verdade, eu caí na real.
Ver minha mãe trabalhando no engenho, sofrendo… Ela tinha que comprar os meus
cadernos e dos meus irmãos ou comida para dentro de casa. Quando eu vi esse
sofrimento dela, decidi que jamais iria parar de estudar. O céu não é nem o meu
limite. Eu amo estudar", explicou Jonas.
O recém-formado também trabalhou dando
aulas de de reforço, em casas de jogos e carregando frete na feira. No ano de
2006 ele fez o vestibular de medicina e passou só na primeira fase.
Em 2007, Jonas começou a se preparar para o vestibular
da Universidade de Pernambuco (UPE), que oferecia vagas exclusivas para
estudantes de escolas públicas. "Eu conheci o sistema de cotas da
instituição e vi que tinha como entrar por ele, já que eu sempre estudei por
escola pública. Esse sistema de cotas foi minha esperança", lembrou o médico.
Aprovação
na UPE
Jonas tentou entrar na universidade por três anos. Em 2006 ele estudou sozinho e não conseguiu a aprovação. No mesmo ano ele juntou o dinheiro do trabalho para ir morar no Recife com a irmã. De 2007 até 2009 - ano no qual foi aprovado - ele cursou pré-vestibular e estudava de dez a 12 horas por dia.
Jonas tentou entrar na universidade por três anos. Em 2006 ele estudou sozinho e não conseguiu a aprovação. No mesmo ano ele juntou o dinheiro do trabalho para ir morar no Recife com a irmã. De 2007 até 2009 - ano no qual foi aprovado - ele cursou pré-vestibular e estudava de dez a 12 horas por dia.
O médico recém-formado conseguiu assistência moradia e
alimentação como bolsa da UPE e morou durante seis anos na Casa do Estudante de
Pernambuco. "Fui monitor de inglês na casa, ganhei bolsa de iniciação
científica e extensão universitária", disse.
Em 2014 Jonas começou a estagiar em uma unidade de saúde
de Joaquim Nabuco. Com o estágio ele ajudava na renda dos pais. "Eu ficava
atendendo e passava os casos para o médico plantonista, que é como é
regulamentado pelo código de ética médica", lembrou.
Joalline Nascimento
Do G1 Caruaru