Segunda-feira, 18 de julho de 2016
Pastor Antônio Pereira Júnior
“O saber ensoberbece”, como bem
ensinou o apóstolo Paulo em 1Coríntios 8.1. Ele estava falando de irmãos que se
achavam maduros demais para não se preocuparem com outros irmãos da fé,
aparentemente, mais fracos. A soberba deles os deixou cegos para verem que só o
“amor edifica”. Esse é um dos grandes problemas de nós, seres humanos: quanto
mais conhecemos, temos a ilusão de que somos melhores do que os outros,
geralmente tidos por nós como ignorantes e fracos de raciocínio.
Paulo
adverte que o conhecer, o saber, não significa, ou pelo menos não deveria
significar, ensoberbecer. Por exemplo: quem sabe mais um juiz de direito ou um
médico? Um professor universitário de filosofia ou outro de literatura? Um
mecânico de carros ou um de moto? Um outro cidadão bastante conhecido, Paulo – que não era apóstolo no sentindo
bíblico, mas era um apóstolo (enviado) da educação – o Freire, já dizia que ninguém sabe
mais do que o outro. Não existe “sabe mais” nem “sabe menos”, apenas temos
saberes diferentes. Ou seja, o meu saber é fruto de minhas experiências e o seu
saber é fruto de suas experiências. Quando conversamos temos a oportunidade de
trocar essas experiências, trocar esses saberes, e assim poderemos crescer
juntos.
O
orgulho de pensar que nosso saber é melhor do que o saber do outro pode nos
enganar. Foi isso que o apóstolo Paulo expressou na sua afirmação. Será que sou
melhor do que o outro só porque sei algo que ele não sabe? Se você parar e
pensar bem, verá que todos nós sabemos de alguma coisa. Mesmo aqueles que nunca
frequentaram uma sala de aula, ou um curso universitário. Um agricultor que
lida com a roça todos os dias sabe de detalhes que você, tão estudioso, ignora.
Uma dona de casa sabe o ponto certo de determinadas comidas que você, por mais
estudioso que seja, não consegue descobrir sem muita prática e humildade.
O
verdadeiro sábio é aquele que reconhece que não sabe tudo e nem precisa
saber. Lembra-se da famosa frase atribuída ao grande filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei”? Não significa evidentemente que ele
não sabia de nada, mas sabia de algumas coisas que precisava saber e que outras
não tinha certeza plena. Ninguém poderá saber tudo nem que viva duzentos anos.
O conhecimento, hoje em dia, multiplica-se numa velocidade inatingível. Mas,
ter conhecimento não significa necessariamente ser sábio. O que pode acontecer
é que hoje em dia se vê conhecimento demais e sabedoria de menos.
No
dia-a-dia se vê algumas atitudes que denunciam essa soberba humana. Por
exemplo, algum dia você já disse soberbamente: “você sabe com quem está falando”? Esse tipo de frase é típico de quem
acha que sabe alguma coisa e esse saber o faz arrogante, menos prezando as
pessoas ao seu redor. O historiador Leandro Karnal diz que a única ocasião em
que essa frase é permitida é se ela for dita por alguém com Alzheimer. Como nem
ele sabe às vezes quem ele é, somente ele poderia perguntar: “você sabe com quem está falando”?
Você
pensa que é alguma coisa por causa dos seus diplomas? Por causa dos cursos que
já realizou? Pelas abreviaturas que antecedem o seu honroso nome? Pelas posses
materias que você tem? Por causa do cargo que ocupa e que você pensa que dá
direito de ser o capataz da alma alheia?
Preste
atenção: basta uma doencinha para derrubar qualquer mortal. Já teve dengue, zica,
chicungunha? Um pequeno mosquito pode derrubar um orgulhoso gigante. O
interessante é que na hora da dor não pensamos em nossos títulos. Um mosquito,
um vírus, uma bactéria não respeita títulos. No leito da enfermidade, quando
parece que vamos morrer, não pedimos a Deus para viver mais para ter a chance
de poder humilhar mais alguém. Faça o bem e viva humildemente enquanto o
epitáfio não chega.
Portanto,
não fique se achando só porque tem um conhecimento em determinada área. Não
seja presunçoso, soberbo. Com os assuntos eternos é que devemos ter cuidado.
Deus não deu autorização para sermos os donos do céu, os senhores da alma
alheia, quer sejamos apologistas, pastores, bispos, padres, apóstolos ou papas.
Nem Salomão com toda sua sabedoria, com todo o seu saber, teve essa presunção.
A Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6).
Já
inquiriu o salmista: “Que
é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho
do homem, para que o visites?” (Sl 8.4). O homem é só um cadáver adiado, nas
palavras de Fernando Pessoa. Já Albert Einstein disse sabiamente: “Quanto maior o conhecimento, menor o
ego, quanto maior o ego, menor o conhecimento”. Lutero dizia de si mesmo: “Eu sou apenas um saco de vermes”. Ou como disse o filósofo Mário Sérgio
Cortella: “Tu és o vice-treco do sub-troço”.
Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª
Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br
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