Domingo, 06 de novembro de 2016
Após
negociar a confissão de Marcelo Odebrecht, herdeiro da maior empreiteira da
América Latina, a delação de Cunha passa a ter peso específico
Imagem ilustrativa (Extraída da internet)
O
presidente de facto, Michel Temer,
e seus auxiliares mais próximos estão em alerta máximo. Eles passaram a
receber, nos últimos dias, novas ameaças do deputado cassado, e preso, Eduardo
Cunha. As noites, na fria carceragem da Polícia Federal, na capital paranaense,
têm sido demais para o ex-presidente da Câmara. Testemunhas que conversaram com
a reportagem do Correio do Brasil disseram tê-lo visto chorando ao abraçar a
mulher, a jornalista Cláudia Cruz. Ela e os filhos o visitaram, no início da
semana.
Cunha recebeu a visita da
família na cadeia em Curitiba, no início da semana, e teria se emocionado
Cunha tenta, em suas últimas esperanças
de evitar um longo período atrás das grades, convencer os demais
correligionários. Hoje, na condução do país, seus parceiros
deveriam ajudá-lo na guerra contra a Operação
Lava Jato, acredita.
Mas pode ser tarde demais. Suas primeiras conversas acerca de uma possível
delação premiada têm esbarrado nos procuradores do Ministério Público Federal
(MPF). Parte deles prefere ver Cunha preso por muito tempo, ao invés de ter a
pena reduzida. O peemedebista fluminense é acusado de receber mais de US$ 6
milhões em propina no esquema de corrupção na Petrobras.
Cunha e os ‘peixes graúdos’Após negociar a confissão de Odebrecht, a
delação de Cunha passa a ter peso específico. Somente interessaria ao
Judiciário caso o peemedebista fluminense disponha de provas objetivas contra
cúmplices do mais alto escalão. Entre eles, o presidente licenciado da legenda,
Michel Temer, e políticos já citados, como o senador José Serra (PSDB-SP).
Atual ocupante do ministério das Relações Exteriores, Serra já foi citado por
receber mais de R$ 20 milhões em dinheiro sujo.
— Muitas pessoas e alguns articulistas
dos principais jornais do país andaram falando assim, como se nós tivéssemos
uma obrigação de fechar um acordo com Cunha. Eu não vou trocar o Cunha por
alguém abaixo dele, eu tenho que trocar por alguém da mesma hierarquia ou acima
dele, essa é a lógica do sistema. A menos que ele venha me entregar 200
deputados, 200 deputados menores que ele, daí eu até poderia ter uma
multiplicação no sentido quantitativo — disse o procurador da República Carlos
Fernando dos Santos Lima, a jornalistas. Ele é um dos principais integrantes da
força-tarefa.
Acordo fechadoAo contrário de Cunha, que apela para se
ver livre das grades, Odebrecht teria fechado, na véspera, o seu acordo de
delação premiada. A defesa do dono da empreiteira teria chegado a um
acordo sobre um dos principais pontos da delação premiada. Acertaram que
Odebrecht permanecerá preso, em regime fechado, até dezembro de 2017. A pena
total deve ser de dez anos, com dois e meio em regime fechado.
A delação de Marcelo e dos executivos do
grupo atinge todo o sistema político. Inclui Michel Temer, que teria
pedido R$ 10 milhões em caixa dois. E Serra, com depósitos de R$
23 milhões numa conta secreta, na Suíça.
Odebrecht está preso desde junho do ano
passado, sob suspeita de envolvimento no esquema de desvios da Petrobras. Esse
período de um ano e quatro meses será descontado da pena total, de acordo com
pessoas ligadas às negociações, segundo adiantaram seus advogados.
Pena rígidaEm dezembro de 2017, segundo o acordo
celebrado, o empresário entraria em progressão de regime, cumprindo pena no
semiaberto e aberto, inclusive o domiciliar. No início de outubro, as
autoridades da Lava Jato iniciaram as negociações para que ele cumprisse pena
de quatro anos em regime fechado.
Sua defesa, no entanto, conseguiu
negociar a redução da punição, alegando que era muito rígida. Afinal, o
empresário denuncia políticos de alto calado e contratos públicos de valores
astronômicos.
Correio
do Brasil