Segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Não é à toa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu a resistência aos antibióticos como uma das maiores ameaças globais do século 21.
Mas o que está sendo
feito para tentar evitar o que poderia ser chamado de "apocalipse dos
antibióticos"?
Primeiramente, há uma
tentativa de reduzir o uso deste tipo de medicamento, uma vez que, quanto mais
antibiótico tomamos, mais resistentes as bactérias ficam.
O psicólogo Jason
Doctor, da Universidade do Sul da Califórnia, vem desenvolvendo experimentos
para verificar se é possível fazer com que os médicos receitem menos
medicamentos.
Ele convenceu mais de
200 médicos a assinar uma carta dirigida a seus pacientes, assumindo o
compromisso de serem mais rigorosos na hora de prescrever antibióticos. As
cartas foram transformadas em cartazes e coladas nas paredes de seus
consultórios.
Os experimentos
também adotaram um sistema de classificação. Os médicos recebiam um e-mail
mensal com informações sobre quantos antibióticos estavam prescrevendo
inadequadamente em comparação aos seus colegas.
Foram criados ainda
alertas nos computadores dos médicos, levando-os a questionar se realmente
precisavam prescrever os antibióticos, e mostrando como poderiam lidar com
pacientes insistentes que exigiam a medicação.
Quando todas essas
abordagens diferentes foram adotadas juntas, o número de prescrições de
antibióticos foi reduzido drasticamente.
Algumas dessas
mudanças estão sendo implementadas nos Estados Unidos e em outros países. Mas,
mesmo que as pessoas façam uso de antibióticos apenas quando estão precisando
de fato, isso não resolveria o problema. Os seres humanos são um grande mercado
para antibióticos, mas há um ainda maior.
Em 1950, foi
descoberto que os antibióticos fazem os animais crescerem mais rápido. Desde
então, fazendeiros de todo o mundo têm injetado o medicamento em seus animais,
mesmo após estudos científicos comprovarem que a resistência bacteriana poderia
passar dos animais para os seres humanos.
Um país, no entanto,
mostrou que é possível reverter esse cenário.
A Holanda tem mais
animais por metro quadrado do que qualquer outro país do planeta e, durante
anos, esses animais foram rotineiramente alimentados com antibióticos. A
proibição de dar antibióticos como promotores do crescimento aos animais surtia
pouco efeito, uma vez que os agricultores usavam a mesma quantidade e apenas os
rotulavam de forma diferente.
Mas, após uma série
de danos à saúde, o governo decidiu repreender os fazendeiros. Em 2009, os
agricultores foram avisados que teriam que reduzir em 20% a quantidade de
antibióticos que davam aos seus animais, num período de dois anos, e em 50%,
num prazo de cinco anos.
O veterinário Dik
Mevius, especialista em doenças infecciosas, ajudou os agricultores a elaborar
um plano para atingir essas metas.
Eles criaram um banco
de dados, revelando os agricultores que mais transgrediam a regra, e impediram
os fazendeiros de comprarem antibióticos de diferentes veterinários. Se um
veterinário ou agricultor prescrevesse ou usasse antibiótico
desnecessariamente, era multado ou perdia a licença.
Então, os fazendeiros
holandeses entraram no eixo e pararam de usar tantos antibióticos. Para muitos
deles, isso significou mudar a maneira como criavam seus animais.
"Foi realmente
uma revolução", disse Mevius. "Nós reduzimos em 60% a quantidade de
antibióticos usados em apenas alguns anos", completou.
A maioria dos países
está, no entanto, caminhando na direção oposta. Estima-se que China, Brasil,
Rússia, Índia e África do Sul deverão dobrar seu uso de antibióticos até 2030,
o que levará a resistência a se espalhar. É por isso que cientistas de todo o
mundo estão vasculhando oceanos, florestas tropicais e desertos em busca de
novas fontes de antibióticos.
BBC