Terça-feira, 13 de dezembro de 2016
O aumento nos últimos 10 anos das emissões de metano, potente gás
do efeito estufa, ameaça tornar a luta contra o aquecimento global ainda mais
difícil, disseram pesquisadores nesta segunda-feira (12).
"Deve-se
tentar quantificar e reduzir as emissões de metano urgentemente",
afirmaram em um editorial esses pesquisadores, que coordenaram um balanço
mundial realizado por 81 cientistas de 15 países.
Depois de
uma leve diminuição entre 2000 e 2006, a concentração de metano na atmosfera
aumentou 10 vezes mais rapidamente na década seguinte, afirma o estudo,
publicado na revista científica Earth System Science Data.
"Manter
o aquecimento abaixo dos 2°C já é um desafio considerável", afirmaram, em
referência ao objetivo da comunidade internacional estabelecido no final de
2015 no Acordo de Paris.
"Tal objetivo se
tornará cada vez mais difícil se as emissões de metano não forem reduzidas
forte e rapidamente", alertaram.
Os
pesquisadores trabalham com várias hipóteses para explicar este aumento, como a
exploração dos combustíveis fósseis ou, mais provavelmente, as atividades
agrícolas.
As
concentrações aumentaram cada vez mais rápido desde 2007, com uma forte
aceleração em 2014 e 2015.
A tal
ponto que nenhum dos cenários intermediários do último relatório do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a autoridade científica de referência sobre o
clima, mostrou esta evolução.
"A
velocidade de aumento se aproxima de maneira preocupante ao cenário mais
pessimista", ressalta Marielle Saunois, da Universidade de Versailles
Saint Quentin, em uma coletiva de imprensa em Paris.
O metano,
o segundo principal gás de efeito estufa relacionado com as atividades humanas,
depois do dióxido de carbono (CO2), contribui com 20% do aquecimento atual.
Até agora,
os esforços contra as mudanças climáticas se concentraram no CO2, emitido em
grande parte a partir de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), e que
representa 70% dos gases de efeito estufa.
No
entanto, o metano é 28 vezes mais poderoso do que o CO2, embora permaneça menos
tempo no ar, cerca de 10 anos.
Grande
potencial de ação. O metano é mais difícil de se controlar do que o CO2, porque
está mais difuso e provém em grande parte de fontes naturais, como zonas úmidas
e formações geológicas.
No
entanto, de acordo com o estudo, 60% das emissões de metano estão vinculadas às
atividades humanas, sendo que 36% delas procedem da agricultura, da pecuária e
do tratamento de resíduos.
Os
pesquisadores priorizam essa hipótese para explicar o aumento das emissões.
Segundo a FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura,
o número de cabeças de gado passou de 1,3 bilhão em 1994 para a 1,5 bilhão 20
anos depois.
Mas eles
também não excluem o papel dos combustíveis fósseis neste aumento.
No total,
21% das emissões de metano se devem à exploração de carvão, petróleo e gás,
dado que, desde sua extração até suas redes de distribuição, os vazamentos de
metano são muito frequentes.
"A
partir dos anos 2000, há uma grande exploração de carvão na China, e a exploração
de gás nos Estados Unidos também está em aumento", afirma Saunois.
Por outro
lado, o permafrost, o solo congelado das altas latitudes, também pode liberar
metano quando se funde.
Apesar
deste ser um dos grandes temores dos climatologistas, nesta fase ainda
"não vemos um aumento anormal das concentrações", diz o pesquisador e
coautor Philippe Bousquet, acrescentando que estas "emissões podem
aumentar com o tempo, mas isso ocorrerá ao longo de décadas".
Em relação
ao forte aumento das emissões nestes dois últimos anos, os cientistas não
encontram explicações.
"Pode
ser de origem natural", diz Bousquet. "Mas se se prolonga por mais do
que três ou quatro anos, seria necessariamente humano", acrescenta.
Embora não
se saiba a origem exata, pode-se adotar medidas para reduzir ou capturar
metano: metanizadores nas fazendas, modificação dos protocolos de irrigação dos
arrozais, evitar os vazamentos, etc.
"Podemos
reduzir estas emissões mais facilmente, de maneira menos coercitiva, do que as
de CO2, apoiando ao mesmo tempo a inovação e o emprego. Portanto, não devemos
renunciar a isto", insiste Philippe Bousquet.
G1