A PEC 55 (241), que limita os gastos públicos pelos próximos vinte
anos, é vista como uma ameaça à saúde pública e à ciência e tecnologia por
Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, um dos principais institutos científicos
brasileiros. A Proposta de Emenda Constitucional já passou pela Câmara e também
foi aprovada, em primeiro turno, no plenário do Senado Federal, na última
terça-feira (29).
A proposta apresentada pelo governo federal limita o reajuste anual do
orçamento público ao índice inflacionário anual e é defendida pelo ministério
da Fazenda, Henrique Meirelles, como essencial para a crise do Orçamento
público.
No entanto, diversas entidades de saúde, educação e ciência têm se
posicionado contrariamente ao teto de gastos nessas áreas. A Fiocruz é uma
delas. O órgão federal lançou uma carta em que liga a PEC à redução de direitos
sociais essenciais.
A PEC traz uma ameaça muito significativa ao campo da saúde pública e da
ciência e tecnologia. A população idosa no Brasil vai dobrar nos próximos vinte
anos."
"O impacto da necessidade de resposta a essa população e o custo de
seu tratamento aumenta significativamente, pois é nesse momento que se tem
doenças crônicas e os agravos que precisam tratamento intensivo", explicou
Gadelha.
Para ele, o limite do orçamento criará uma competição por recursos entre
áreas essenciais, como a previdência, a habitação, a saúde e a educação.
O SUS [Sistema Único de Saúde] é um sistema inteligente porque tem saúde
pública, mas também porque tem desenvolvimento científico".
O elo entre o vírus da zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, e o
nascimento de crianças com problemas no sistema nervoso central, como a
microcefalia, foi percebido pela primeira vez no Brasil, o que determinou um alerta
mundial sobre a doença, que hoje atinge 73 países.
Educação e saúde preservadas O governo federal tem defendido que a
proposta não atingira as áreas de saúde e educação --mas não exclui a área
científica do limite de recursos. "Saúde e educação, por exemplo, serão
preservadas. Estamos criando mecanismos para garantir que essas áreas
prioritárias não terão perdas", afirmou Meirelles em um pronunciamento à
população na televisão.
Para Gadelha, o argumento é falacioso. "Se por um lado é um alívio a
curtíssimo prazo o fato de que foi adotado um patamar de receita corrente
líquida que será um pouco maior do que o que tínhamos nos últimos anos, é
evidente que a partir daí o constrangimento, que é para o total do orçamento,
vai afetar a área da saúde. A nossa experiência histórica é a de que o que é
colocado como piso vira teto."