Sexta-feira, 02 de dezembro de 2016
Até pouco tempo
atrás, moradores dos bairros rebeldes de Aleppo morriam em casa, atingidos
pelas bombas do regime sírio. Agora, com o avanço do Exército, corpos de
homens, mulheres e crianças jazem nas ruas, esquartejados.
Nos
bairros do leste de Aleppo em poder dos insurgentes, a chuva de disparos de
artilharia chega repentinamente, atingindo civis, que não têm tempo de se
esconder, e destruindo seus corpos.
"É
uma verdadeira chuva de morteiros", afirma o correspondente da AFP.
Na
quarta-feira, diante de seus olhos, um morteiro explodiu em uma rua. Uma menina
que caminhava a alguns metros dele desabou, com uma mão arrancada e a cabeça
atingida por destroços.
Os
capacetes brancos, estes socorristas que se tornaram símbolo do drama
humanitário no leste de Aleppo, não estavam ali para salvá-la. Não têm
ambulâncias. As bombas as destruíram ou não têm combustível para usá-las.
- 'Os
morteiros não param' -
Jovens
de moto levaram a menina. Mona tinha 10 anos. Morreu como consequência dos
ferimentos, contou sua família à AFP.
Duas
semanas após o início da campanha de bombardeios para reconquistar a totalidade
de Aleppo, o regime controla quase 40% do território rebelde cercado há meses.
E seu exército submete os setores nas mãos dos insurgentes a bombardeios de
artilharia de uma "intensidade incrível", explica o jornalista da
AFP.
Até
então os habitantes podiam se refugiar quando observavam a aproximação de um
helicóptero no céu para evitar os barris repletos de explosivos que eles
lançam. Atualmente os disparos incessantes de artilharia acabam com eles em
plena rua. Não têm tempo de se esconder.
Nos
últimos dias, o jornalista viu vários cadáveres nas ruas destruídas pelos
bombardeios.
Os civis
destes bairros bombardeados, sobretudo em Shaar, não conseguem nem mesmo fugir
às zonas sob o controle do regime..
"Os
morteiros não param, é impossível passar a Sajur", gritaram alguns ao
jornalista, com as malas feitas. Referem-se ao bairro rebelde reconquistado
recentemente pelo exército.
Em um
vídeo divulgado na quarta-feira pelo Aleppo Media Center, é possível ver
cadáveres ensanguentados, corpos despedaçados e sapatos em uma rua, em meio a
um mar de sangue.
Um
corpo estava partido em dois. Ouviam-se gritos de crianças.
-
'Injustiça' -
Um
adolescente chora ao lado de dois corpos. Um deles é o de sua mãe.
"A
artilharia atingiu uma primeira vez, corremos e vi minha mãe morta",
declara antes de começar a chorar.
Ele,
sua mãe e seu pai se encaminhavam com um grupo de pessoas a uma zona controlada
pelo regime.
"Vamos
embora por causa da injustiça, dos bombardeios aéreos, da falta de
comida", explica seu pai, desolado pela morte da esposa.
Pai e
filho envolvem os corpos com um sudário de plástico laranja fornecido pelos
socorristas.
Mais de
50.000 habitantes afetados pelos combates e bombardeios deixaram os bairros
rebeldes desde o último fim de semana, segundo o Observatório Sírio de Direitos
Humanos (OSDH).
Desde o
início da ofensiva do regime, em 15 de novembro, mais de 300 civis, entre eles
33 crianças, morreram no leste de Aleppo, segundo esta fonte, que contabiliza
os mortos identificados.
Por Karam AL-MASRI AFP